Pandemia: construção civil puxa economia em cidades pequenas


Economia

José Venâncio de Resende0

fotoObra em andamento (fotos Leandro Kloser)

A economia de pequenas e médias cidades Brasil afora tem sido salva em grande medida pela construção civil durante a pandemia do coronavírus. Duas consequências principais são a falta de mão de obra, especialmente pedreiros, e os altos preços do material de construção.

O setor foi o que mais abriu vagas em 2020, tanto com carteira assinada quanto para trabalhadores informais ou por conta própria, de acordo com reportagem recente do jornal Correio Braziliense. Há estimativa de que a indústria da construção civil possa gerar mais 200 mil oportunidades de emprego este ano.

Não se via há tempos reaquecimento das vendas na construção civil, reforça reportagem do jornal O Tempo. E a pandemia foi um dos motivos para esse movimento de retomada econômica. Em isolamento social, muitas pessoas investiram tempo e energia em pequenas reformas, pinturas e adaptações. “Durante a pandemia, a casa ficou pequena. As pessoas começaram a entender a importância do lar e se preocuparam um pouco mais com a estrutura da casa”, diz Flávio Alves Gomes, presidente da Associação do Comércio de Materiais de Construção de Minas Gerais (Acomac).

 

Resende Costa. A construção civil aumentou consideravelmente durante o período da pandemia, não só nas capitais mas também nas cidades interioranas, confirma o engenheiro civil Leandro Kloser. “Resende Costa foi uma delas, onde se percebe que o número de obras em andamento está maior que o habitual. Prova disso é a indisponibilidade de mão de obra qualificada para exercer tais funções.” Tanto que “pessoas sem experiência na construção civil resolveram começar a trabalhar na área”, situação esta explicada também pela crise econômica.

No período da pandemia (01/03/2020 a 22/02/2021, último levantamento), o setor de cadastro da Prefeitura Municipal de Resende Costa emitiu 50 alvarás de autorização de obras. No período anterior à pandemia (01/03/2019 a 28/02/2020), foram 69 alvarás emitidos. “Esse número não reflete a realidade da construção na cidade, porque pessoas que pensavam em construir, e que já tinham o projeto aprovado, viram na pandemia a oportunidade de investir o dinheiro no setor de construção civil”, explica Leandro, que é engenheiro da Prefeitura.

Leandro, que também atua como profissional autônomorealizando projetos particulares, estima que o seu número de clientes triplicou nesse período da pandemia. “Portanto, não necessariamente houve um cadastro na obra no período certo em que ela estaria em andamento. Fato é que profissionais de engenharia e arquitetura, profissionais da construção civil e donos de depósitos de materiais de construção civil afirmam que o número de serviços/vendas aumentou consideravelmente nesse período.”

Em conversa com alguns proprietários de obras/projetos, Leandro constatou que a justificavaé que “a construção civil seria uma forma de investir o dinheiro em um período tão instável”.O mesmo acontece em relação às reformas residenciais e comerciais. “Os proprietários viram, na construção civil, uma forma de investimento do dinheiro”, explica o engenheiro civil. “Com isso, a nossa cidade gerou mais empregos nessa área, dando oportunidades, a pessoas que nunca trabalharam nesse ramo, de terem a sua renda fixa durante o período da pandemia.”

 

Preços em alta. “O negócio é não deixar dinheiro no banco”, confirma o pedreiro Antônio Valério da Silva, há mais de 20 anos no ramo. “Está uma loucura, a gente não está dando conta. E, quando vai indicar algum profissional, é difícil encontrar.”

 

Nas primeiras semanas da pandemia, havia muita incerteza, muito medo. Tanto que Valério se mudou com a família para o povoado dos Pintos, zona rural de Resende Costa. “Depois a situação foi se normalizando, mas o comércio de material funcionava com as portas fechadas. Aí os preços começaram a subir muito, mas a mão de obra está no mesmo valor.”

Em 2020, Valério concluiu uma obra (quatro pavimentos comlojas, apartamentos e garagem) e, no final de agosto, iniciou a construção de uma residência (dois pavimentos no total de 300 metros quadrados). Nos intervalos (fins de semana e folgas), ele encaixa outros serviços, como construção de piscinas, churrasqueiras com fogão a lenha e forno acoplados, reformas de piso, mudanças de paredes, telhados, etc. Mas uma coisa é certa: “Antes da pandemia havia mais estabilidade.”

O impacto sobre os preços decorreu do grande aumento na demanda no período da pandemia, principalmente nos seis primeiros meses (abril a setembro), “muito maior que o volume de anos anteriores”, diz Thiago Ricardo da Matta e Sousa, da CSA Materiais de Construção, que trabalha com todo o material para construção civil, do grosso do início até o acabamento.

Não houve procura por um produto ou um tipo de produto, em especial,“o crescimento foi uniforme”; ou seja, material bruto de início de obra e material de reforma e acabamento foram igualmente procurados, acrescenta Thiago. Muitas reformas, inclusive pequenas, “mas um número interessante de obras começando e muitas obras em andamento e manutenções”. Tal demanda, “muito maior que o giro normal, trouxe uns efeitos colaterais: falta de produtos e um grande aumento nos preços”.

Thiago alerta que a falta de produtos ainda não está resolvida: “Temos problemas com reposição até hoje”. Ele que o setor está sofrendo muito com os preços e acredita que isso está distante de se resolver. “São várias as causas desses aumentos ´absurdos´: dólar muito alto, falta de matéria-prima (alta demanda e exportação), manutenção de estoque de empresas que fecharam pelos protocolos de prevenção à covid...”

 

São João del-Rei. O que manteve o ritmo do comércio na cidade durante a pandemia foram as áreas de construção civil e de alimentação, diz Eustáquio Coelho Resende,corretor e membro da diretoria do Sindcomércio. “Em São João del-Rei, o forte da economia foi a construção civil. O mercado de corretagem não foi excelente, mas foi muito bom. Para se ter ideia, há dia em que você não acha um bom pedreiro para trabalhar; e o material está em falta.”

No início da pandemia, muitas fábricas deram uma parada na produção, mas o mercado imobiliário não parou, explica Eustáquio. “Ele aqueceu e com isso faltou muita mercadoria, o que elevou muito os preços (a ferragem e o cimento, por exemplo, dobraram de preço).”

Além das reformas, as novas construções estão a todo o vapor, conta Eustáquio. “As construtoras que promovem lançamentos estão vendendo o que têm. Um exemplo é a Inter Construtora, no Bairro Matozinhos, que vendeu todas as 240 unidades e tem cliente na fila esperando se houver desistência.”

Um empreendimento comercial de grande porte é o Pátio Matosinhos, da Lombardi Participações S/A,cuja previsão de entrega é julho deste ano. Trata-se de um espaço multiuso (área total de 6.400 m2), com 50 lojas (moda, serviços e gastronomia), Supermercado BH, praça de alimentação, torre de residências e posto de gasolina.

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