Renovação Carismática Católica celebra Jubileu de Ouro no Brasil

Evento realizado em janeiro na Comunidade Canção Nova marcou os 50 anos da RCC


André Eustáquio


Grupo de Oração Filhos de Maria na igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Resende Costa (Foto Leticia Resende)

De 9 a 13 de janeiro, aconteceu na Comunidade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP), o Encontro Nacional de Formação (ENF-2019) promovido pela Renovação Carismática Católica. O ENF reuniu lideranças carismáticas de dioceses de todo o país, entre elas coordenadores estaduais, de Ministérios e de Grupos de Oração. O evento, realizado pelo segundo ano consecutivo na Canção Nova, celebrou os 50 anos da RCC no Brasil.

Segundo o portal de notícias da Canção Nova, o tema do ENF proposto para reflexão é o mesmo que a Renovação Carismática viverá em 2019: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). A missa de abertura do ENF-2019 aconteceu na quarta-feira, 9, às 18h, no Santuário Nacional de Aparecida (SP). A programação do encontro contou com workshops, momentos de oração e de testemunhos, adoração eucarística e “noite carismática”.

Diversos pregadores, entre eles religiosos (bispos e padres) e leigos participaram do encontro na Canção Nova. Destaque para a presença da norte-americana Patti Gallagher Mansfield, uma das participantes do Retiro de Duquesne, em Pittsburgh (EUA) em 1967, considerado o início do movimento no mundo.

No dia 11, o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, presidiu uma missa no Centro de Evangelização da Canção Nova. O cardeal destacou os 50 anos da Renovação Carismática no Brasil e as obras de evangelização que o movimento realiza, especialmente nos meios de comunicação. “Lá atrás não se imaginava a força dessa expressão carismática (...). Celebrar o jubileu é olhar como uma retrospectiva, ver tantos ministérios reunidos hoje em workshops acolhendo pessoas vindas das mais diversas realidades, isso é fruto do Espírito Santo. Nesse jubileu é tempo de recomeçar todas as coisas, é tempo de olhar para frente, reconhecendo os erros do passado e firmar a decisão para os novos desafios do futuro na evangelização. Se tem algo marcante na RCC, é saber anunciar Jesus Cristo”, disse o cardeal.

 

O surgimento da RCC

Quem já participou de um Grupo de Oração ou de uma missa abrilhantada pelas músicas e pelo “rito carismático” pôde perceber que a liturgia dessas celebrações destoa do tradicional rito romano. As celebrações carismáticas, dentro ou fora da missa, são animadas por muita música, palmas e mãos estendidas para o alto. É o estilo carismático de celebrar. Para muitos a Renovação Carismática Católica revolucionou a Igreja, conquistando milhares de fiéis que estavam migrando para diversas denominações evangélicas. Mas há também críticas ao movimento vindas de setores mais conservadores da Igreja.

A Renovação Carismática Católica, em sua origem nos EUA em meados da década de 1960, foi também chamada de “Pentecostalismo Católico” devido à forte presença do culto ao Espírito Santo, conforme se constata nos relatos dos fundadores. A RCC teve origem a partir de um retiro espiritual realizado entre os dias 17 e 19 de fevereiro de 1967, na Universidade de Duquesne, em Pittsburgh, estado da Pensylvania.  A partir de uma experiência descrita pelos participantes do retiro como fortemente espiritual, rememorando, segundo eles, a manifestação do Espírito Santo no evento de Pentecostes, no início do cristianismo, os adeptos se organizaram em grupos, comunidades e movimentos que se espalharam pelos Estados Unidos e pelo mundo, seguindo ideais espirituais e regras de vida.

 

Cautela e reconhecimento

A Igreja Católica, uma instituição milenar, é conhecida por se pronunciar e agir sempre com cautela diante de fatos que surgem dentro e fora dos seus muros. E essa reação não foi diferente em relação à Renovação Carismática. No início, alguns integrantes da hierarquia da Igreja apoiaram o Movimento, alegando ser ele “um precursor do ecumenismo (maior unidade de testemunho do Evangelho entre as diferentes tradições cristãs). Pensava-se que essas práticas aproximariam a Igreja Católica e as comunidades protestantes em um ecumenismo verdadeiramente espiritual”, destaca uma publicação sobre a RCC. Atualmente, a Renovação Carismática Católica é reconhecida como um Movimento Eclesial e tem o apoio do papa, de bispos e de sacerdotes de dioceses do mundo inteiro

Os últimos quatro papas, Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e Francisco reconheceram a RCC. Oficialmente, Paulo VI reconheceu o Movimento em 1971 e o reafirmou canonicamente em 1975.  O romano pontífice responsável pela conclusão do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) disse que a Renovação Carismática “trouxe vitalidade e alegria à Igreja”. São João Paulo II também apoiou a Renovação e foi a favor da sua política considerada conservadora. Tanto João Paulo II quanto seu sucessor Bento XVI ao mesmo tempo que “reconheceram bons aspectos do movimento”, pediram“cautela, ressaltando que os membros devem manter sua identidade católica e comunhão com a Igreja Católica”.

Entre os anos de 1995 e 2000, foi realizado pelos pesquisadores David Barret e Tood Johnson um amplo levantamento quantitativo sobre a expansão da Renovação Carismática pelo mundo, desde o seu surgimento em 1967. De acordo com o estudo, em 1970 já havia grupos de oração em 25 países e, em 1975, em 93 nações. No ano de 2000, a Renovação Carismática encontrava-se presente em 235 países, por onde se distribuíam cerca de 148.000 Grupos de Oração.

 

A RCC do Brasil

A Renovação Carismática Católica chegou ao Brasil, considerado o maior país católico do mundo, em 1969 e espalhou-se rapidamente pelas grandes cidades e dioceses. O Movimento teve início em Campinas (SP) através dos jesuítas padre Haroldo Joseph Rahm e padre Eduardo Dougherty. De Campinas, a RCC tomou os mais diversos caminhos e expandiu-se pela maioria dos estados, como mostra detalhadamente o site oficial da RCC Brasil (www.rccbrasil.org.br).

O padre salesiano Cipriano Chagas, em sua tese de mestrado A descoberta do Espírito e suas implicações para uma transformação eclesial – um estudo sobre a Renovação Carismática, afirma: “No início, a Renovação atingiu os líderes já engajados em movimentos como Cursilho, Encontros de Juventude, TLC etc. e foi se ampliando gradativamente como uma nova ‘onda’ de evangelização com identidade própria”. Em 1972, padre Haroldo Rahm publicou o livro Sereis Batizados no Espírito. A obra, na qual o autor explica o que é o “Pentecostalismo Católico”, é considerada uma das publicações pioneiras no Brasil sobre a Renovação e motivou o surgimento de diversos Grupos de Oração.

Padre Haroldo foi o responsável por divulgar a Renovação Carismática a muitos dos que viriam a se tornar suas lideranças, entre eles o padre (hoje monsenhor) salesiano Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova. A adesão do padre Jonas ao movimento, logo no início, é considerada por muitos como responsável por dar “um grande impulso à Renovação”.

A década de 1980 assistiu ao grande fortalecimento da Renovação Carismática no Brasil, conforme elucida Brenda Carranza em seu livro Renovação Carismática Católica: origens, mudanças e tendências: “A partir de 1980, a Renovação Carismática consolidou-se institucionalmente, espalhando-se por todo o território nacional, vindo a ocupar um espaço significativo na mídia, seja como objeto de notícias, seja como usuária dos meios de comunicação social.” Em 1980, o jesuíta Eduardo Dougherty fundou a Associação do Senhor Jesus (ASJ). No portfólio da associação havia uma vasta lista de materiais religiosos, como livros de formação e de cânticos, visando a dar subsídios à realização de programas de TV. Logo em seguida, foi criado o programa “Anunciamos Jesus”, que, em 1986, já cobria, através de três redes de TV, 60% do território nacional.

Atualmente, a grande referência da Renovação Carismática no Brasil é a Comunidade Canção Nova. Iniciada em 1974 na cidade de Lorena, interior de São Paulo, a Comunidade adquiriu em 1980, em Cachoeira Paulista, uma rádio e mais adiante, em 1989, conseguiu uma concessão de TV. Através da Fundação João Paulo II, a Rede Canção Nova TV é o canal católico que mais cresce no Brasil, possui retransmissoras em todas as regiões do país, estando também presente na Itália e em Portugal.

Segundo o site da RCC Brasil, “estudos recentes contrariam alguns prognósticos da não expansão da base social da Renovação para além da classe média, indicam que o movimento também chegou às camadas trabalhadoras dos bairros populares, onde há uma tendência ao crescimento acelerado.” Ainda de acordo com o portal da RCC, atualmente a Renovação Carismática encontra-se presente em todos os estados e também no Distrito Federal, com 285 coordenações (arqui)diocesanas organizadas e cadastradas junto ao Escritório Nacional. Uma estimativa realizada no final de 2005, junto às coordenações estaduais da RCC, contabilizou como aproximadamente 20.000 o número de Grupos de Oração em todo o Brasil, excluindo as comunidades de vida, de aliança, associações e outras tantas atividades de apostolado ligadas à RCC.

 

Fontes: Portal da Comunidade Canção Nova (www.cancaonova.com); portal da Renovação Carismática Católica Brasil (www.rccbrasil.org.br); Wikipédia.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário