Da Santa Casa ao Hospital, uma trajetória: as filhas de São Camilo em Resende Costa


Notícia

João Magalhães0

Irmãs Camilianas do Hospital Nossa Senhora do Rosário, em Resende Costa

Dentre seus vários objetivos, o Jornal das Lajes julga muito importante o resgate da história deste município e a valorização das personalidades que contribuíram para a formação da sua cultura e do seu desenvolvimento. Padre Nelson foi uma dessas personalidades que tinha como missão não só o trabalho com o religioso, mas também cuidar do povo, atuando nas áreas sociais, sobretudo, promovendo a educação e a saúde. Daí seu empenho, trabalhando incansavelmente para que as Irmãs Camilianas assumissem a direção do Hospital Nossa Senhora do Rosário, porque acreditava que uma das necessidades fundamentais dos cidadãos é a garantia do atendimento à saúde de qualidade, através do bom aparelhamento dos recursos humanos e materiais, que visam ao tratamento da doença e à acolhida do doente. Como diz o velho ditado e modificando-o um pouco: “tendo saúde, o resto a gente corre e traz”.

O Hospital Nossa Senhora do Rosário colhe o reconhecimento de ser um hospital referência na nossa região. Vamos conhecer um pouco da sua trajetória.

Motivam este texto o centenário de falecimento da Madre Josefina Vannini (1859-1911), fundadora da congregação religiosa das “Filhas de São Camilo”, a sugestão da chefia de Edição do JL e o pedido de leitores nossos.
 
O anúncio – Dezembro de 1952. Padre Nelson escreve no livro de Tombo da paróquia: “Visita de Irmã Alfonsina e Irmã Savéria. Pelo muito bem que certamente resultará da vinda dessas duas irmãs camilianas a Resende Costa, em visita ao nosso hospital para conhecerem e verem a possibilidade da vinda de irmãs para sua direção, antecipamos a notícia de sua visita em janeiro próximo. Irmã Alfonsina, vice provincial e irmã Savéria, diretora do Hospital Cruz Azul de São Paulo, aqui chegarão a nosso convite, em companhia do grande amigo de Resende Costa, o Pe. João Martelo.M.I. (camiliano)”.
 
O aceite - Realizada a visita em fevereiro de 1953, em agosto do mesmo ano a grata notícia. Novamente o extraordinário cronista de Resende Costa, padre Nelson:“As Irmãs Camilianas aceitam a direção do nosso Hospital Nossa Senhora do Rosário. A notícia de que as irmãs camilianas (Filhas de São Camilo) aceitam a direção do nosso hospital chegou-nos em princípio de agosto, por uma carta que o Revmo. Padre João Martello M.I. nos escreveu com data de 29 de julho. Nestes quase dez anos de nosso paroquiato, esta foi a notícia que maior alegria nos trouxe. Não nos julgamos dignos de tanta mercê do Alto. Jamais acreditamos pudesse o nosso pedido, feito ano passado, e a visita das duas superioras de São Paulo, feita em fevereiro deste ano, trazer-nos resultado tão auspicioso e grato. Apenas soubemos da notícia e entramos logo em entendimentos epistolares com a mui reverenda Madre Provincial de Las Hijas de San CamilloAngel Gallardo, 861-Buenos Ayres, Argentina. E tudo dentro do maior segredo. O povo saberá da notícia apenas uns meses antes da chegada das irmãs, visto que o atual provedor da Santa Casa, por conveniência pessoal, possivelmente discordará da vinda das irmãs” (Tombo, 1953).
 
Chegada e assunção - “Chegada das irmãs camilianas e sua posse no Hospital Nossa Senhora do Rosário – primeiro de fevereiro de 1954. Afinal, depois de algumas demarches, pudemos ver realizado o nosso grande sonho: a entrega do nosso hospital a uma comunidade de religiosas. As irmãs camilianas (Congregação das Filhas de São Camilo) chegam a Resende Costa às 5h da tarde do dia 1° de fevereiro, tendo sido positivamente recepcionadas, à frente do hospital, pelo pároco, povo, autoridades e banda de música. No dia seguinte, após a missa das 8h, celebrada na capela da Santa Casa, foram elas solenemente empossadas na direção do Hospital. A 1ª superiora desta comunidade aqui foi a irmã Savéria Goffon, alemã, removida do hospital Cruz Azul. Da Força Pública de São Paulo para o nosso hospital. Esta foi a que aqui, em companhia da vice-provincial, madre Alfonsina, aqui esteve, em princípios de fevereiro do ano passado, para conhecer o nosso hospital. As demais irmãs, que com ela vieram, são as seguintes: Irmã Tarsila Gottardi, italiana, Irmã Serafina Palladino, argentina e Irmã Lourencina Ravanelli, de Santa. Catarina.

Às 5h00 da tarde do dia da posse, dois de fevereiro, Purificação de Nossa Senhora, dia da conversão de São Camilo, fundação da Congregação das Filhas de São Camilo, realizou-se festiva procissão em honra deste santo. A casa camiliana de Resende Costa é a primeira da Congregação no Estado de Minas Gerais. A candidata mineira a esta Congregação, nesta data, já no noviciado de Buenos Aires, a moça Maria da Conceição, agora irmã Martha, é filha de Resende Costa

Queremos ressaltar o seguinte: para o arranjo da primeira clausura e da capela, resolvemos fazer uma campanha com os resende-costenses de São João del-Rei e conseguimos, com a valiosa cooperação do senhor Antônio de Souza Maia Junior e sua exma. senhora, dona Anna Augusta de Souza, ganhar camas, cobertores, lençóis, toalhas, cortinas para a capela, véus de sacrário, âmbulas, linho para toalhas, etc, etc, tudo no valor de cerca de Cr.$ 12000,00” (Tombo, 1954).
 

Avanços e progressos
 
1957 – Inauguração, na Santa Casa, do pavilhão dona Francisca Cândida Peçanha.“O nosso hospital se ressentia de melhores acomodações e de uma maternidade. Solucionando em parte este problema, inaugurou-se dia 21 de abril de 1957 o pavilhão Francisca Cândida Peçanha. A cerimônia foi paraninfada pelos excelentíssimos senhores Tancredo de Almeida Neves e Gabriel Resende Passos. Duas novas enfermarias receberam os nomes de dona Risoleta Tolentino e dona Amélia Passos”(Tombo 1957).

1960 – Inauguração, na Santa Casa, da clausura das irmãs: o pavilhão Cônego Cardoso.  Festiva, com presença do povo, autoridades e até de algumas irmãs mercedárias do hospital Nossa Senhora das Mercês, de São João del-Rei. Planta do próprio padre Nelson e administração da construção a cargo do padre José Hugo de Resende Maia.

1965 - fundação do Asilo São Camilo- “A 18 de junho de 1965, festa de São Camilo de Lelis, a casa que pertenceu a Francisca Cândida Peçanha e que fora doada à Santa Casa para que nela funcionasse um asilo para meninos, recebeu os primeiros velhos e inválidos. Não se fez uma inauguração oficial e solene. À espera de que a obra se consolide, fez-se uma inauguração simples, às 15h00, com a presença de algumas pessoas. Demos a benção simples aos cômodos e demos por inaugurado. Tornou-se possível mais essa obra de assistência em nossa paróquia graças aos esforços da atual provedoria do hospital que se compõe dos senhores Adenor Coelho, Joaquim Coelho de  Campos, Geraldo de Paula Majella e Antônio Pinto de Góes e Lara. Muito se esforçaram para esta fundação as Irmãs Tarsila Gottardi e Irmã Emiliana. Enquanto não tiver patrimônio próprio, o asilo dependerá do hospital para manutenção e direção”  (Tombo, 1965).

A doação - “A 28 de abril de 1986 do corrente ano, tornou-se realidade um sonho que vínhamos acalentando desde 1954: a doação às irmãs da Congregação da Filhas de São Camilo de toda a Santa Casa desta cidade com seus imóveis. Houve marchas e contramarchas. Tivemos de enfrentar uma boa faixa da opinião pública contrária à doação. Membros da diretoria da irmandade do Hospital Nossa Senhora do Rosário, não percebendo o alcance da medida, nãoestavam muito de acordo. Em assembléia por nós convocada, houve com algum esforço, aprovação unânime. Quando fizemos proposta à Superiora Geral em Roma, a congregação, alegando dificuldades, na ocasião, não quis aceitar o hospital como doação. Tendo, em meados de 1984, recebido uma sondagem das irmãs sobre se estaríamos dispostos à doação, recomeçamos o diálogo, apresentando nossas propostas, iniciando nossa troca de correspondência. Já tínhamos alcançado anteriormente licença da autoridade diocesana que para isso ouvira o Conselho Diocesano. A maior dificuldade encontrada foi a situação dos empregados da Santa Casa perante as leis trabalhistas. A congregação religiosa exigiu a legalização de tudo. Com o pagamento de indenizações a alguns empregados que tiveram que ser demitidos, as irmãs receberam todos os imóveis e móveis pertencentes à Santa Casa, livres e desembaraçados de quaisquer ônus, devendo observar as seguintes cláusulas” (Seguem-se oito cláusulas, Tombo, 1986).

Conclui-se com mais uma informação: “No dia 12 de maio de 1987, deu-se início à construção do novo pavilhão da Santa Casa. Os serviços foram colocados sob supervisão do engenheiro Elias Jorge Hannas, construtor. Pelo que se pode prever, será uma obra grande para Resende Costa, um edifício melhor e muito mais aparelhado do que o atual” (Tombo, 1987).