Investimento, disciplina e dedicação têm garantido a qualidade do ensino na Escola Municipal Paula Assis


Entrevistas

André Eustáquio / Emanuelle Ribeiro3

Virgínia Daher concedeu entrevista ao JL

Muitas vezes, quando nos deparamos com a notícia de uma escola que se destaca pela excelência do ensino e se torna referência para as outras, tratamos logo de pensar numa instituição de luxo onde se cobra mensalidades exorbitantes. Mas, a realidade pode estar muito distante disto. Localizada no povoado do Ribeirão de Santo Antônio, zona rural de Resende Costa (MG), a Escola Municipal Paula Assis se destaca pela simplicidade associada à boa qualidade do ensino. A diretora da escola, Virgínia Daher de Oliveira Coelho, 37, concedeu a seguinte entrevista ao JL, na qual apresenta o cotidiano da escola, o perfil dos alunos, mas também fala de algumas dificuldades enfrentadas pela comunidade escolar.
 
Como a Escola Municipal Paula Assis vem trabalhando para manter a qualidade do ensino? Para nós, cada aluno é importante. A gente tem alunos de vários tipos de desenvolvimento cognitivo. A partir daí fazemos o planejamento das turmas, ou seja, os alunos são agrupados de acordo com o desenvolvimento e isso vai motivar o trabalho ao longo do ano. Temos diferentes propostas e metodologias para trabalharmos com cada aluno. Tal planejamento é feito no início do ano, dividido por bimestres. Mas isso não quer dizer que ele deve ser seguido à risca. Durante o ano esse planejamento pode sofrer alterações, de acordo com as necessidades.
 
No que diz respeito a atividades pedagógicas e extraclasses, o que a escola tem feito ao longo do ano? A Escola tem participado bastante das olimpíadas que são oferecidas nos níveis estadual e nacional. Participamos também das semanas culturais, enfim, de tudo que a prefeitura, o estado e a Secretaria de Educação propõem.
 
Como a senhora avalia o corpo docente da Escola Paula Assis? É um grupo fácil de se trabalhar com ele. São pessoas bem capacitadas para fazerem o que estão fazendo. Maleáveis, os professores se adaptam bem às turmas que lhe são atribuídas. São companheiros na direção, na secretaria e, para tudo deque precisamos, eles se colocam à disposição, na maioria das vezes.
 
Devido à recente implantação do ensino médio na Paula Assis, já existe algum projeto sendo desenvolvido, visando a preparar os alunos para o vestibular? Os professores trabalham em suas disciplinas. Todos eles são preocupados em trazer informações para os meninos sobre Enem e vestibular. Em maio, levamos os alunos à mostra de profissões na Universidade Federal de Viçosa (UFV). A Escola não deixa passar nada, corremos atrás de documentos para aqueles alunos que ainda não os têm, para fazer inscrição, porque no ano passado alguns alunos não fizeram vestibular por não possuírem documento de identidade. Os professores ficam no pé dos meninos, trazendo questões de vestibular, auxiliando nas matérias em que mostram dificuldades.
 
Muitos alunos da Paula Assis têm se destacado nas olimpíadas de ensino. A que a senhora atribui esse sucesso? Não podemos generalizar, dizendo que a escola é um sucesso, porque é um grupo restrito de alunos que consegue esses resultados. Nas olimpíadas de matemática, química e física, por exemplo, são os mesmos dois alunos que têm conquistado medalhas. Temos um aluno bolsista por dois anos na olimpíada de matemática, ele já ganhou um net book, uma bolsa de estudos e vários prêmios. Acho que eles conseguiriam em qualquer escola emque estivessem matriculados, mas o envolvimento dos professores e da escola ajuda muito. Como aqui não tem como os professores auxiliarem os alunos em horários extra turnos, por causa das dificuldades de transporte, eles sempre ajudam no horário do recreio e nas aulas de educação física. Agora, o desenvolvimento da olimpíada de história é diferente: é dividido em etapas, todas online e a última etapa é feita em São Paulo. Os alunos trabalham na escola e os professores postam na internet em casa. Além disso, a olimpíada é dividida em grupos. As três alunas que chegaram à final, em Campinas, residem na zona rural. São alunas capacitadas, mas como há necessidade de usar a internet, o envolvimento da escola e dos professores é fundamental. Mas, não dizemos que a escola é um sucesso por causa disso, temos vários problemas, entre eles, alunos com dificuldades de aprendizagem. Mas nós tentamos trabalhar diferente para ver se esse aluno consegue mostrar o seu máximo, mesmo que isso não signifique chegar a uma final de olimpíada.
 
Qual o perfil dos alunos que estão se destacando nas olimpíadas?  São alunos com facilidade nas matérias específicas das olimpíadas. Alguns se destacam também nas outras matérias. Não é obrigatório participar das olimpíadas e há alunos bons que optam por participar de uma e não de outra, ou até mesmo não participar.
 
Quais os principais desafios enfrentados pelos alunos de uma escola rural? O trajeto da casa até a escola é bem difícil. Muita poeira, prejudicando quem tem problema de saúde. Em tempo de chuva o desgaste é muito grande, tem barro e quando o ônibus vem nesse tempo a gente está sempre correndo risco. Há dias de chuva nos quais não hácondições de o ônibus rodar, aí os alunos perdem aula. Nesse caso, a gente tenta repor conteúdo, mas costuma acumular provas, mesmo a gente tentando não sobrecarregar os alunos.
 
Como é a relação da escola com as famílias dos alunos? As famílias estão sempre participando. Temos três reuniões por ano e às vezes surgem algumas esporádicas, quando háum assunto extra, e então chamamos os pais. A preocupação maior dos pais é com a disciplina dos meninos, eles fazem questão disso. Se a gente fala que os alunos precisam estudar mais, eles concordam, mas a maior preocupação é a disciplina: “mas eles estão desrespeitando a senhora?”, perguntam. Eu acho que esse é o diferencial de estudar aqui, esse é o motivo pelo qual os pais de alunos de Resende Costa querem que seus filhos estudem no Ribeirão. Temos alunos bagunceiros, mas nada escandaloso; quando chamamos a atenção, eles obedecem. A diferença está na disciplina dos meninos da zona rural.
 
O transporte escolar tem sido eficiente? Não há menino que diz que não estuda por falta de transporte. Quando chove muito e a  kombi não consegue chegar a alguns lugares, aí alguns alunos ficam sem aula. Geralmente, em dias de muita chuva, os alunos já sabem que não haverá aula, já que não há condições de os veículos rodarem. Algum motorista da zona rural vê que não há condições e avisa a prefeitura. A Secretaria de Educação avisa nos pontos iniciais de partida do transporte e eu aviso aos funcionários da escola.
 
A escola não possui acesso à internet. Como os alunos fazem pesquisas?  A Escola tem um acervo bom de enciclopédias e dicionários. Não temos internet, mas temos a enciclopédia nos computadores da escola, que estão à disposição dos meninos. Geralmente, os trabalhos são individuais e os professores não exigem trabalho digitado. Quando o trabalho é em grupo, os professores sempre colocam um aluno de Resende Costa para ajudar.
 
Em sua opinião, o aluno da zona rural se enquadra no perfil dos estudantes dos centros urbanos, que visam ao vestibular e aoutros concursos? Hoje em dia é muito mais fácil a gente conseguir fazer um curso superior, devido aos recursos como, material, transporte etc. Mesmo assim, a meu ver, está sendo menos valorizado. Proporcionalmente, acho que antigamente em Resende Costa mais pessoas procuravam prestar vestibular do que hoje, e os que procuravam fazer era porque queriam ter um curso superior e não porque está todo mundo fazendo. Agora, os meninos aqui da escola estão meio desanimados, porque já é um empecilho o fato deeles não morarem em Resende Costa. Mas, os que têm possibilidade correm atrás. Ano passado vários fizeram vestibular, mas não conseguiram. Acho que vontade os alunos têm, mas há muitos empecilhos também. Já tivemos alunos que formaram aqui, no 9º ano, e que hoje estão cursando o ensino superior e alguns já até se formaram. Inclusive alguns que se formaram, hoje são professores da escola.Acredito que devido ao número de alunos da cidade que estudam aqui, haverá mais alunos prestando vestibular. Mas, a maioria ainda não vê necessidade de fazer um curso superior.
 
Então, qual o objetivo de muitos que estão prestes a encerrar o ensino médio, mas não pensam em fazer vestibular? O objetivo é fazer 17 anos e o Conselho Tutelar não buscá-los mais em casa para estudar. Eles ficam porque são obrigados. Mas isso não tira o mérito de muitos que têm consciência da importância de não parar de estudar. Háoutros alunos bons que a gente vê que têm condições de fazer cursos bons, mas não veem necessidade.
 
Qual o critério utilizado para selecionar os alunos para virem estudar na Paula Assis? O primeiro critério é residir na zona rural. Já o segundo critério que a Secretaria de Educação usa é ter algum parentesco na Prefeitura. Privilegiamos turmas pequenas para não causar tumulto; nossa maior turma tem 35 alunos. Número de livros, ou seja, se faltar material, não podemos aceitar mais alunos. E transporte, nenhum aluno pode viajar em pé. Para 2012 não temos nenhuma vaga, só se alguém desistir.
 
Como é a relação da escola com a comunidade local? Muito boa. A escola movimenta muito o povoado. A quadra da escola, por exemplo, é usada pela comunidade. Procuramos ajudar quando tem alguém precisando. Não nos intrometemos na vida deles e nem eles nas atividades da escola. Na verdade, há poucos alunos do Ribeirão estudando aqui.
 
Desde a extensão do ensino, em 1994, a Escola Paula Assis vem ganhando notoriedade na excelência do ensino, independentemente do partido político que administra o município... Isso nunca influenciou no desenvolvimento da escola. Todos que passaram por aqui, na administração da escola, são pessoas envolvidas, carregam a escola no coração e se doaram pela instituição. Então, o que a escola é hoje é fruto do trabalho de todos que passaram por aqui. Todos querem vê-la crescendo.
 
Qual a receita para a escola continuar crescendo e mantendo a excelência no ensino? Apoiar cada aluno na sua particularidade. A Escola deve estar preparada para atender os alunos que têm maior facilidade de aprendizagem, que querem participar de competições como as olimpíadas, mas também para aqueles que mostram dificuldades, que temos alunos no 5º ano que ainda não sabem ler. Devemos estar preparados para receber meninos de diversas capacidadescognitivas.

Comentários

  • Author

    não pergunte a ela meu caro ...

    PERGUNTE PARA A CLARINHA DO JORGE SAPATEIRO, QUE FOI QUEM FEZ FORTE ESSA ESCOLA.


  • Author

    Eu e João E. Magalhães fomos alunos " roceiros", da turma do Rosalvo G. Pinto, n a década de 1950. Nossa competente professora foi D. In ézia Hannas. Mestra e educadora, que se faz presente na briulhante visão de Virgínia Daher, que atualiza o ensino de paulo freire; Ninguém educa ninguém. Todos nos educamos juntos, mestres, alunos, merendeiras e pais.
    Parabéns André pelo roteiro da entrevista .Esta
    escola deve agradecer à Deus pela sabedoria de sua diretora.


  • Author

    Lulalá, por que você não se identifica?

    Não, não foi a Clarinha do Jorge, de quem gosto e respeito, quem fez a escola forte... Desde a criação, durante a gestão do PT (Prefeito: Dr. Luiz; Secretário de Educação: Prof. Adriano Magalhães), a escola é um modelo. Não custa reconhecer isso, não é?


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