Morre aos 86 anos em São João del-Rei o monsenhor Raimundo Sebastião de Paiva


Notícia

André Eustáquio0

Monsenhor Paiva morreu em São João del-Rei aos 86 anos (Fotos Catedral do Pilar)

Faleceu, na manhã do dia 3 de março último, em São João del-Rei, o pároco emérito da paróquia da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, monsenhor Raimundo Sebastião de Paiva. O corpo do sacerdote são-joanense foi velado durante todo o dia 3 na matriz do Pilar, onde foi sepultado às 10h do dia seguinte na cripta da catedral.

Centenas de pessoas estiveram na catedral do Pilar para prestar a última homenagem ao monsenhor Paiva, que era muito querido e respeitado pelos são-joanenses, como também por bispos e padres. “Ele foi referência no que diz respeito ao amor e à dedicação ao sacerdócio, à evangelização e ao amor ao próximo”, disse a Diocese de São João del-Rei, em nota publicada em seu site oficial. Em novembro de 2013, monsenhor Paiva recebeu grandes homenagens em virtude do seu Jubileu de Diamante (60 anos de sacerdócio).

Monsenhor Paiva era admirado pelo seu testemunho de sacerdote zeloso e dedicado às causas da Igreja Católica e da cultura são-joanense. Sua humildade, encontrada nos homens santos que doaram a vida pela Igreja, cativava a todos que, de uma forma ou de outra, conviveram com ele. Na paróquia da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, onde exerceu seu sacerdócio durante 60 anos, preservou as riquezas dos rituais católicos, como o Ofício de Trevas na Semana Santa, destacando São João del-Rei entre as cidades do Brasil que ainda conservam intactos rituais litúrgicos e paralitúrgicos (procissões, rasouras etc.) do período barroco e colonial. “Muitas vezes o encontrei de madrugada rezando, rezando, uma mostra de sua grande fidelidade e amor a Deus, à Igreja e ao ser humano. Ele foi um homem muito firme na liturgia e avançado no social. Eu sou muito grato por todos esses nove anos de convívio ao lado deste homem de Deus e por ter atendido sua última confissão antes da descida para o CTI do hospital. Agradeço de coração a todos aqueles que estiveram tão perto dele aqui na paróquia. Muito obrigado, monsenhor Paiva, muito obrigado, Senhor Deus, por ter nos dado este grande sacerdote”, disse padre Geraldo Magela da Silva, pároco da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, ao repórter Alisson Reis, do Departamento de Comunicação da Diocese (DEDICOM).

A missa de corpo presente, celebrada na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, foi presidida pelo bispo diocesano dom Célio de Oliveira Goulart e contou com a presença de diversos sacerdotes, autoridades, paroquianos, familiares e amigos do monsenhor. O prefeito municipal de São João del-Rei, Helvécio Reis (PT), declarou luto oficial de três dias e em sua página no Facebook destacou o sacerdote que os são-joanenses tanto amaram: “... pessoa ímpar de nossa cidade. Muitos foram batizados e casados por este grande sacerdote, que em novembro [de 2013] completou 60 anos de ordenação. Quantos corações aflitos não foram acalmados por ele. Quantos desesperançados não reencontraram seus caminhos com ele. Quantos perdidos na indecisão não foram iluminados por suas orações e por suas bênçãos. Monsenhor Paiva deixa muitas saudades. Não há homenagem que possa reconhecer a sua grandeza. Deus confiou ao monsenhor Paiva uma bela missão. Tenho absoluta certeza de que ele honrou esse chamado. Deus agora o quer pertinho dele. Tenho convicção de que Deus está convocando a si os melhores para, lá do céu, poderem comandar melhor as suas ovelhas”. 

O senador mineiro Aécio Neves (PSDB) também publicou mensagem em sua página no Facebook, destacando a missão e as virtudes do monsenhor: “Recebi, com tristeza, a notícia do falecimento do monsenhor Paiva, em São João del-Rei. O Padre Paiva, como o chamamos durante tantos e tantos anos, teve grande significado na vida de muitos de nós… No dia 2 de dezembro de 2013, em artigo para a Folha de S. Paulo, me referi a ele dizendo: ‘Lembro-me dele desde muito cedo. É uma das poucas unanimidades que conheço, não apenas pela dedicação às causas e às pessoas da cidade, mas, sobretudo, pelo profundo senso ético que imprime à sua vida. Assim como ele, muitos de nós sabemos que, no mundo, existem a verdade e a mentira. O certo e o errado, por mais que insistam em nos convencer do contrário’. Pessoas como Padre Paiva, infelizmente, vão ficando cada vez mais raras no nosso mundo. Divido, com todos os amigos de São João, a minha homenagem, o meu reconhecimento e o meu respeito por esse amigo tão especial”.

 

O sacerdote que encontrou o registro de batismo de Nhá Chica

O portal de notícias Globo.com (G1) publicou reportagem destacando o fato de monsenhor Paiva ter encontrado o registro de batismo de Nhá Chica. O documento foi peça importante para o processo de beatificação da mineira. Leia abaixo parte da matéria publicada no G1, na tarde do dia 3 de fevereiro:

“Em novembro de 2013, monsenhor Paiva foi homenageado pelo Jubileu de Diamante, 60 anos de sacerdócio. Nesta vida dedicada à igreja, ele foi um dos responsáveis pela beatificação de Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, a mãe dos pobres de Baependi, no Sul de Minas. A primeira negra, analfabeta e filha de escravos a receber o título de beata pela Igreja Católica nasceu no distrito de Rio das Mortes, em São João del-Rei. O documento de batismo dela foi encontrado pelo monsenhor Paiva um século e meio depois. ‘Numa época em 1966 um rapaz trouxe uma caixa de papelão endereçada à Paróquia de Nossa Senhora do Pilar. Perguntei, de onde veio? De Belo Horizonte. Quem mandou? Não sei. O que tem aí dentro? Também não sei. Abri a caixa, encontrei vários livros de 1800 a 1820 de registros de batizados da nossa paróquia’, contou ele em entrevista ao MGTV em abril de 2013. Para alguns devotos, foi um milagre. ‘O livro sumido, justamente precisando dessa certidão para prosseguir o processo de beatificação, e eu tive a felicidade de encontrar’, narrou na entrevista. Nhá Chica se tornou a primeira beata de Minas Gerais, em cerimônia realizada em 4 de maio de 2013”.

Monsenhor Raimundo Sebastião de Paiva nasceu em São João del-Rei, no bairro do Tijuco, no dia 28 de janeiro de 1928. Ordenado sacerdote em 1953, era o sexto dos oito filhos do casal José Leopoldino de Paiva e Idalina Maria do Carmo. Monsenhor Paiva morreu aos 86 anos, vítima de infarto seguido de parada cardíaca. Ele estava internado no Hospital das Mercês desde a sexta-feira, 28 de fevereiro.

 

 

Fontes: Site da Diocese de São João del-Rei e Portal Globo.com (G1).

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