Prefeitura e hospital procuram solução para plantões de urgência


Política

André Eustáquio0

A partir de abril, Prefeitura Municipal terá que encontrar meios para manter os plantões de urgência no Hospital Nossa Senhora do Rosário (Foto Emanuelle Ribeiro JL)

A partir de abril, os médicos de Resende Costa, Luiz Antônio Pinto e Paulo Cézar Fortuna Dias, não realizarão mais plantões de emergência no Hospital Nossa Senhora do Rosário. A decisão dos médicos obriga a prefeitura, que contrata o hospital para os serviços de plantão, a encontrar uma solução (leia-se financeira) para a permanência dos plantões de urgência. O prefeito municipal Aurélio Suenes avalia que, dentre os principais desafios financeiros impostos a ele neste início de mandato, conseguir encontrar recursos financeiros que possibilitem a contratação de novos médicos plantonistas é o principal deles. “Encontramos a prefeitura numa situação delicada, mas o problema dos plantões no hospital é que está me deixando mais preocupado”. 

“Paulo e eu deixamos claro, antes das eleições municipais, independentemente do resultado, que estávamos determinados a não fazer mais plantões de segunda a quinta-feira”, disse ao JL o médico Luiz Pinto. Ele apresenta três motivos para a não realização dos plantões, sendo o principal deles o cansaço devido ao tempo de trabalho. “A primeira razão é o cansaço. O Paulo está há mais de trinta anos realizando plantão e eu já estou chegando quase a isso. Quase não temos tempo para a família, pois tem final de semana que chegamos a trabalhar 72 horas. Durante este tempo, dormimos pouco, pois temos que estar no ar para receber chamadas... Além dos plantões no ambulatório, ainda somos responsáveis pelo atendimento interno do hospital, ou seja, visitar pacientes nos leitos, realizar partos e cirurgias etc.”. Paulo Dias completa dizendo que “não se trata apenas de receber os pacientes que chegam à emergência, temos também que tratar deles”.

O segundo motivo apresentado por Luiz Pinto é de cunho financeiro. Segundo ele, o valor que o SUS paga aos médicos atualmente em Resende Costa (pouco mais de 200 reais), por plantão realizado, está muito abaixo do valor de mercado. “Hoje, dificilmente você vai encontrar médico que realiza plantão por menos de 1.200 reais, 24 horas, e 600 reais, 12 horas. Deixando os plantões, teremos também mais tempo para nos dedicar ao consultório. Mas deixo claro que não estamos deixando por causa de dinheiro. Nós assumimos um compromisso com o Aurélio de realizarmos os plantões durante os primeiros três meses do ano, até a prefeitura conseguir outros médicos plantonistas. Essa é a terceira razão”, justifica Luiz Pinto.

Paulo Dias também justifica o apelo da família como o principal motivo para deixar os plantões: “De fato estou há 35 anos realizando plantões. A minha família tem me cobrado, já há bastante tempo, mais presença em casa”, disse. 

Melhor remuneração

Atualmente, a prefeitura repassa ao hospital 249 mil reais por ano, valor que está longe do ideal para cobrir as despesas com plantões. “O valor pretendido ainda não foi divulgado, pois a irmã está verificando a demanda do hospital para a contratação de médicos de outras cidades. Ainda não temos uma situação definida”, informou o prefeito Aurélio. Cobrir a oferta de outros municípios que oferecem remuneração superior ao valor pago aos plantonistas em Resende Costa é um problema a mais a ser superado pela prefeitura. “Os nossos médicos trabalham há muito tempo abaixo do valor de mercado. Para chegar ao valor pretendido, certamente teremos que remanejar o orçamento da prefeitura, inclusive retirando recursos de outros setores. Temos que cobrir a oferta de municípios que oferecem aos médicos remuneração muito maior do que o valor que atualmente disponibilizamos”, disse o prefeito. Ele deixa claro ser de “extremo interesse da administração manter o plantão no hospital, inclusive contando com a presença de médico 24 horas”.

O médico Luiz Pinto é enfático quanto à necessidade de aumentar o valor da remuneração dos médicos plantonistas. Para ele, trata-se de uma condição para conseguir novos plantonistas: “Se o valor atual não for reajustado, médico nenhum vai vir pra cá realizar plantão. Nós estamos lutando para que a prefeitura entre em acordo com o hospital para trazer novos plantonistas. E que estes médicos de fato criem vínculos com o hospital e montem consultórios aqui”. 

Luiz Pinto informa que Paulo Dias e ele estão deixando apenas os plantões de urgência de segunda a quinta-feira: “Não vamos deixar o hospital, preservarei os meus plantões de final de semana, que é também uma forma de eu participar ainda mais do hospital”. Paulo Dias diz que “jamais deixará o hospital nas mãos”, caso não consiga plantonistas até abril. “Se chegar abril e não tiver ninguém para fazer os plantões, é claro que os realizarei até contratar novos médicos. Tenho uma dívida de gratidão com o hospital; se o meu consultório está cheio de pacientes devo isso também ao hospital”, afirma o médico.

Prefeito procura saída

Uma das saídas apontadas pelo prefeito Aurélio Suenes para aumentar o valor repassado ao hospital seria a instalação da Sala de Estabilização do SAMU. “Esta sala funcionaria dentro do hospital, com médico 24 horas. O Estado repassaria em torno de 40 mil reais mensais para a manutenção desta sala. No fim do ano, se multiplicarmos, é mais do que o dobro do valor que o município repassa atualmente ao hospital. Com a Sala de Estabilização do SAMU resolveríamos esse problema”, acredita Aurélio.

Nazareno e São Tiago, municípios da região do Campo das Vertentes, já contam com a Sala de Estabilização, e por isso recebem verba do governo do estado. “É muito importante que consigamos essa sala. Vou arregaçar as mangas, pedir muito, até ser enjoado. Mas temos que conseguir de qualquer jeito”, enfatiza o prefeito, que reitera a importância do hospital para Resende Costa e região: “Temos um hospital muito bem organizado e administrado, que conta com excelente estrutura capaz de atender bem Resende Costa e outras cidades da região”.

Paulo Dias concorda que seria um grande avanço a instalação da Sala de Estabilização do SAMU em Resende Costa, porém enumera algumas dificuldades: “Concordo que a instalação da Sala de Estabilização do SAMU seria a oportunidade de mantermos aqui um plantão 24 horas, pois o estado repassa uma grande parcela de sustentação do programa, diminuindo, assim, a necessidade de repasse da prefeitura. A grande dificuldade é conseguir médico plantonista, mesmo com valores maiores. Em unidades já instaladas, como na cidade de São Tiago, não raro há ausência de plantonista, obrigando os médicos locais a cobrirem os plantões”.

O prefeito Aurélio acredita que uma alternativa para melhorar o atendimento médico em Resende Costa seria a criação da segunda equipe de PSF (Programa de Saúde da Família). De acordo com ele, o objetivo é implantá-la no segundo semestre deste ano: “Além de tantos benefícios, seria mais um médico na cidade, pois uma das exigências para se criar a nova equipe de PSF é que tenha um médico”.

A diretora do hospital, irmã Amélia Herold, informou que ainda não chegou a uma definição acerca da contratação de novos médicos plantonistas, uma vez que ainda não se sabe qual será o valor a ser repassado pelo município ao hospital.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário