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A lógica do engano

13 de Julho de 2017, por José Antônio

O engano é uma outra lógica. Há, no engano, uma interpretação que não sei se é equivocada. Muitas vezes, o engano é mais racional do que a lógica, mais acertado do que o acerto.

A Zizica, ajudante antiga da minha macróbia Tia Zenóbia, é um exemplo. Zizica, leitor, tem uma paixão recolhida pelo Osório, padeiro aposentado. Mas o coração da Zizica é sempre uma fornada da ilusão de um dia, quem sabe, abiscoitar uma fatia do galã da panificadora.

De vez em quando, a Zizica aparece com umas expressões equivocadas, mas que no fundo têm lógica... e até questionam a lógica do que realmente está sendo dito. Outro dia, ela saiu avisando à Tia Zenóbia que iria à lotérica pagar o carneiro da prestação do ventilador. Pagar o carneiro da prestação...

A Zizica está certa. Quando a gente divide uma compra em prestações, aos poucos vamos tosquiando a dívida... vamos – mês a mês – tirando a lã da dívida... até ficarmos nós mesmos sem o couro.

Ano passado, eu tomava café com a Tia Zenóbia. Zizica chegou com umas broinhas e também se assentou à mesa. A conversa descambou para uma briga de marido e mulher, ali na vizinhança. Briga feia, com sopapo, pontapé, pronto-socorro e polícia. Foi aí que a Zizica quis emendar uma informação nova... e aproveitou o ensejo: Aproveitando o incêndio, dizem até que...

Mais uma vez a Zizica estava certa. O assunto era sobre uma briga que pegou fogo. Então ela aproveitou o incêndio para colocar mais gasolina na fogueira, antes que esfriasse.

E o antestino? Essa eu ouvi no ônibus. O cara falava que estava com prisão de ventre, que não se aliviava havia dias. O outro, então, sugeriu um remédio da flora que iria resolver a indefectível afecção fecal do companheiro: Essa erva é ótima para o antestino.

O proctologista do mato estava correto: é preciso resolver primeiro o problema do intestino para que o resultado tenha destino. Ou seja: antes o intestino. Antestino.

Já ouvi gente falando que onde trabalha tem uma sala de conivência. Mais uma vez, o engano mostrando a sua lógica subversiva: é nos espaços de convivência que a conivência é cultivada.

Ontem eu meu encontrei com o Mané Cráudio no supermercado. Mané Cráudio é meu amigo pagador de mico. Nunca dá uma dentro, pois sempre está por fora. Mais por fora do que suplente de senador. Conversa vai, conversa vem e o Mané Cráudio me contou uma bomba: seu tio septuagenário aventurou-se pelo Viagra e.... pimba! Infecção urinária. Não acreditei. Mas o meu amigo insistiu: Verdade! É fato venéreo.

– Quer dizer, venéreo não... verídico! Perdão, cometi um ato fálico.

Ato fálico... não é que ele estava certo?

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