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Nasceram um para o outro

11 de Novembro de 2011, por José Antônio

Não é de hoje que venho ouvindo isso. Inclusive, tem até uma variante: Sempre tem um chinelo velho para um pé cansado.

Tem casais cujos pares combinam tanto entre si que passam a se parecer fisicamente um com o outro. Mais que irmão. Nasceram um para o outro.

Já vi Geraldo casado com Geralda... Lauro com Laura... Fabiano com Fabiana... E o Paulo que se casou com a Paula? E aí, veio aquela paulada pra amamentar: Paulina, Paulete e Pauliene.

Essa coisa é meio estranha. Tem casal que vive às turras, o cara bate na mulher, a mulher anda com não sei quem, unhada e soco, choros na delegacia... e o casal não se desgruda. Nasceram um para o outro.

E aqueles casais que são cúmplices até na profissão? O marido é borracheiro e a mulher é mecânica. O marido é agente funerário e a mulher faz maquiagem no defunto. O marido é policial e a mulher é detetive. O marido é escritor e a mulher é revisora. Já viu esposa que é agenda do marido? Em casos assim, geralmente o marido é motorista da esposa. Nasceram um para o outro.

Acho que aquela frase Eu não consigo viver sem você não é frescura. Se um nasceu para o outro, então se um morre o outro não demora a dar entrada no cemitério. Filosofia profunda aquela música antiga: “Aonde a vaca vai, o boi vai atrás...” Nasceram um para o outro.

É o caso do Tristão com a Isolda. O grande cavaleiro nascido na Cornualha queria com tal ardor a sua mulher amada que foi pra cama com duas Isoldas (favor, não relacionar isso com o nome da região onde o Tristão nasceu). Como não pôde ter definitivamente a primeira Isolda, ficou mais do que triste, morreu Tristão. Também nasceram um para o outro o Romeu e a Julieta. Dependiam tanto um do outro que escolheram fazer a mesma estupidez juntos: colocar os burros na frente do carro. Fizeram mais que nascer um para o outro: morreram um pelo outro. Tinha que dar nisso mesmo: ele inconsequente e metido a valente; ela burrinha e metida a sabidinha. As rimas não mentem. Nasceram um para o outro.

Por incrível que pareça, ainda existem Penélopes que ficam a vida inteira fiando, confiando e desfiando o tempo e as oportunidades, sempre naquela fidelidade ao homem da sua vida. E o Ulisses não decepciona: aparece e vivem felizes para sempre. Nasceram um para o outro.

Sabe aquela coisa da noiva, depois do casamento, jogar para trás o buquê? Pois é, tem moça que pega e ainda cai aos pés do futuro marido. Nasceram um para o outro.

Não sei se a vida é exata ou hesita. Para uns, ela é exata como aquele chinelo velho esquecido num canto e sempre encontrado pelo pé cansado. Para outros, ela hesita até ficar exata: Essa é a minha metade, a minha eterna companhia!  

Bem, não é com todo mundo que isso acontece. Tem que nascer um para o outro. 

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