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Alguém quer ouvir a minha opinião?

13 de Abril de 2017, por José Antônio

Mês passado fui comprar um antigripal na farmácia. No caixa, a mocinha me perguntou sem olhar nos olhos:

– Débito ou crédito?

Enquanto ela tirava o recibo da maquininha do cartão, comentei simpaticamente sobre a qualidade do antigripal. Nem bem cheguei ao meio da frase e a mocinha já estava gritando pra uma colega do outro lado do balcão:

– A Jussara foi pro motel com ele? Isso vai dar rolo.

E me entregou o papelzinho sem nem me agradecer, nem me olhar nos olhos, nem querer saber da minha opinião sobre o antigripal.

Fui embora.

Ao longe ainda ouvia a voz da mocinha especulando sobre o acasalamento da Jussara.

Outra vez foi numa reunião. Tentei colocar a minha opinião, mas nada. Minhas frases morriam no nascedouro, as palavras se perdiam pisoteadas pelo tropel feroz da manada opinativa. Eu começava uma frase, e lá vinha alguém interrompendo... Eu iniciava uma sentença, e minha sentença era sentenciada ao silêncio pelo grito de um outro... Eu apresentava uma ideia, e o grupo enveredava para uma discussão acalorada sobre um outro assunto...

Fui embora.

Ao longe ainda ouvia uma confusão de argumentos desarticulados, interrupções sem pedidos de licença, brados passionais e impositivos... Todos se esquecendo de que o ouvido também é peça importante na etiqueta de uma conversa.

Ontem a coisa aconteceu na padaria. A garota me deu o pão e uma senhora atrás de mim comentou sobre o tempo:

– Tá vendo como está juntando nuvem escura hoje? Até o ventinho é de chuva. Acho que hoje cai.

Tentei entrar na conversa. Sabia que já havia visto aquele filme, mas mesmo assim tentei. E comecei a dizer que não achava que iria chover. Minha frase se resumiu a uns minguados pingos, pois a atendente já me cortou dizendo a opinião dela. Esperei terminar e tentei encaixar mais uns pingos, porém dessa vez foi a senhora que me tirou e falou o que pensava. Esperei a mulher terminar e lá fui eu de novo, tentando somente uma garoa. E aí, as duas me interromperam num temporal de frases somente entre elas.

Fui embora.

Peguei carona na enxurrada da indiferença e fui comer o meu pão em paz, sem relâmpagos nem trovões. A chuva acabou não vindo. Nem minhas frases.

Existe uma linguagem da opinião? Talvez seja não ouvir o outro... gritar em cima do que o outro diz... não olhar ao redor... aposentar o ouvido...

Se essa é a linguagem da opinião, prefiro a sabedoria da serenidade e a eloquência do respeito. No entanto, tenho coisas que gostaria de dizer... opiniões apenas.

Será que há interessados em, pelo menos, saber a minha opinião?

Ou terei que ir embora?

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