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Bônus

15 de Janeiro de 2019, por José Antônio

Estou correndo o sério risco de aceitar uma sórdida filosofia: Gente ruim demora pra morrer.

Será que os maus têm bônus de vida? Já nascem com um lucro existencial embutido neles?

Nunca vi filme com bandido morrendo no começo. Inclusive, tem bandido que, bem no finzinho do filme, já dado por morto depois de uma saraivada de tiros, ainda inventa de soltar uns espasmos e ameaça matar mais. É o bônus!

Na tela da vida real, o filme não é diferente. Outro dia, deu na TV que um crápula invadiu uma residência, roubou tudo e sequestrou um casal de idosos e uma criança. Na fuga, o carro capotou. Apenas uma pessoa não morreu: o sequestrador. Bônus!

E o Frango D’água? Apelido do cara que pegou um fuzil e foi dar uns tirinhos no cinema. Entrou na sala de projeção, tirou a carabina de debaixo das asas e mandou bala em todo mundo. Foi tanta confusão e correria que o maluco da espingarda não teve tempo de fugir: foi tragado pela multidão em pânico. Pessoas morreram pisoteadas, outras sofreram fraturas graves... menos o Frango Atirador. Conseguiu sair ileso e ainda fugiu. Bônus!

Até no Calvário, os dois ladrões morreram depois de Cristo!!! Mais bônus.

Uma vez, comentando isso com minha querida Tia Zenóbia, macróbia sábia e sempre portadora de uns dizeres que tira de sua vasta experiência, ela me retrucou:

– Pode ser que os maus vivam muito para que ainda tenham tempo de se arrepender e de se emendar. Mistérios da misericórdia.

Teologia do conforto... ou conforto da teologia... Pode até ser, mas não descarto o mistério do bônus.

Fim de semana passada, jantei com uma amiga. No meio da conversa e do vinho, lá veio ela com uma história. A irmã dela e o marido fizeram dez anos de casados. Organizaram um jantar maravilhoso para muitos amigos, lá no sítio deles. Casão bonito, gente bem vestida e comida farta. Ressalte-se aqui que o casal tem lá os seus requintes e regalias financeiras. Entendeu, leitor? São ricos.

Na hora do parabéns, quando todos gritavam os vivas, um terrível grito de medo rasgou o ambiente e impôs o silêncio. A seguir, um corre-corre assustado pra dentro da sala de visitas. E todo mundo parou com as mãos para o alto. Um sujeito armado ameaçava tirar a vida dos convivas, que tinham acabado de gritar os vivas. E foi pegando relógio, colar, pulseira, carteira... o que coubesse na sua mochila.

Havia alguém no banheiro na hora do assalto: a filha do casal anfitrião. Saiu de lá bem de mansinho, com patas de gato, ninguém viu... e correu para o quintal do sítio. Soltou o feroz cachorro fila que, por sinal, já dormia, cansado de latir revoltado porque era o único que não estava comendo naquela festa.

O esfomeado e fulo fila invadiu a sala e, num acesso de ira, mordeu todo mundo. Sobrou dentada até para os donos. O único que o cachorro não mordeu foi o ladrão. Que fugiu.

O estrago foi geral. Gente que precisou costurar a perna... outros levaram pontos no braço... muitos hematomas... vacina por causa do cachorro...

Por falar no cachorro, ele está internado numa clínica veterinária. Na confusão, acabou mordendo o próprio rabo.

Prefiro não comentar...   

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