Voltar a todos os posts

Feliz aniversário, eu!

17 de Outubro de 2018, por José Antônio

Feliz aniversário, eu... que e(u)screvo naquilo que escrevo. Não existe escrita sem lacuna, por isso não prescrevo nem proscrevo. Longe de mim a morte literal. O que traço não circunscrevo. Minhas linhas se cruzam num trevo onde tantas vozes inscrevo. Misturo vidas e um mosaico atrevo. Às vezes dá samba, outras vezes dá frevo.

 

Feliz aniversário, eu... que e(u)stranho naquilo que estranho. Eu me assanho com a nudez da palavra surpreendida, qual ninfa no banho. Sua pele arranho e em seus vales íntimos minha ousadia eu entranho. Nasce um texto trôpego, pulsante e manho que com o tempo vou ajustando forma, sentido e tamanho. Sempre perco e sempre ganho. Sofro com isso. E daí? Meu ofício eu não barganho.

 

Feliz aniversário, eu... que e(u)spio naquilo que espio. A vida é brisa leve e a morte é arrepio. Vivo se transformo, morro se copio. E num rodopio, o previsível eu entropio nas coisas que vou gerundiando, pois não participio. Sempre principio.

 

Feliz aniversário, eu... que e(u)mbarco naquilo que embarco. Meu oceano eu mesmo marco nas marés que não demarco. De mar em risco, de risco em mar eu me encharco. Visto roupa de pirata, ponho vela no meu barco e algumas sereias abarco. Com elas, aprendi a fazer rir, chorar e gozar... tudo numa só vertigem de fuzarco.

 

Feliz aniversário, eu... que e(u)canto naquilo que encanto. Com olhos de menino que vive de espanto, enxergo aventura onde a ferida verte pranto. Contracanto o acalanto e desfaço o quebranto do desencanto. O que é triste, no entanto, até agiganto no que canto. Mas a fincada no peito eu suplanto: dou a ela minha coroa de arrebol e o horizonte levanto. Uns veem aurora, outros veem Vésper. No meu recanto, vejo-me cafajeste e santo.

 

Feliz aniversário, eu! Eu abrindo e fechando parênteses na linearidade das convenções. É minha maneira de sussurrar o sutil. É o íntimo de mim... sempre esse íntimo do eu.

 

Feliz aniversário, eu! Eu que nasci e ainda vivo nascendo. Jamais renascendo porque isso seria repetição. Edição renovada? Talvez não! Edições reinventadas, pois sempre me pego refazendo o meu ainda... que suspira... ofegante... agarrando-se ao perene.

 

Feliz aniversário, eu! Eu que vou morrer na fonte para não perder essa mania de brotar.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário