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O meu menino Deus

11 de Dezembro de 2013, por José Antônio

Esse ano eu resolvi montar um presépio.

Comecei pelos coadjuvantes: boi, vaca, cavalo, ovelhas e um galo. Formei, assim, a minha fauna divina.

Arranjei um punhado de areia branca e fui catar algumas pedras pra montar a gruta. Ainda pus um pedacinho de espelho no meio da areia, imitando um pequeno lago. Distribuí as ovelhas espaçadamente. O cavalo, a vaca e o boi dentro da gruta. O galo ficou em cima de tudo, com o bico aberto.

Passando numa loja, vi um anjinho com uma faixa que dizia: Gloria in excelsis Deo. Empacotei e levei. Quando fui colocar o anjo em cima da gruta, a coisa ficou esquisita: dois seres alados disputando o espaço. De um lado, o galo; do outro, o anjo recém-chegado. Perdão, galo, mas anjo é anjo. O galo desceu umas pedras e o anjo ficou lá em cima, perto de uma estrela dourada.

Faltavam Maria e José. Ela veio de uma loja e ele de outra. É assim que os casais se formam, cada um vindo de uma paragem diferente e unindo-se de forma inesperada.

O Natal se aproximando e onde estava o Menino Jesus? Não encontrava um que me agradasse. Uns eram muito grandes, desproporcionais. Tinha um que era maior do que o boi. Até que achei um, num camelô. Pequeno, bem pequeno, mas com as dimensões do presépio.

Foi aí que outro dia eu me encontrei com a Zizica, empregada da Tia Zenóbia. Zizica tem uma queda, ou melhor, um tombo pelo Ozório, um padeiro aposentado. O coração da Zizica vive caindo por causa dele. Zizica me parou e me lançou um olhar solitário de broa sem fubá:

– O padre vai benzer o Menino Jesus que a gente vai pôr no presépio. Cê vai montar presépio? Então, leva domingo a sua imagem lá pro padre benzer.

Toquei pra igreja no domingo, levando o meu Menino Jesus no bolso, de tão pequeno que ele era. Na hora da bênção, todo mundo que tinha Menino Jesus levou o seu lá pra perto do padre. O meu era o menor de todos. Havia outros, mais ricos, mais imponentes. Tinha até um que trajava uma túnica de cetim branco. Todo mundo olhava pra ele, admirando. O meu, não. Era pobre mesmo.

Já estava voltando com o meu Menino Jesus pro bolso quando o padre chegou e foi logo dizendo umas orações e despejou água benta. Quase afogou a minha imagem.

Na noite de Natal, o meu Menino Jesus foi pra gruta. Coitado. Pobrezinho, sem conforto algum e, mesmo assim, me olhava sorrindo.

Pois é, Jesus. Você aí deitado numa estrebaria, num berço de penúria. Sei que você veio pra assumir a minha miséria, recolher a minha humilhação, juntar a minha estupidez e pregar tudo isso numa cruz para que eu pudesse também participar da sua glória. Você merecia um presépio melhor, mas foi o que eu consegui fazer para esperar a sua chegada.

E você veio.

Ouço, ao longe, umas pessoas cantando “Noite Feliz”. Ouço alaridos distantes, risos, alguns foguetes espocando...

Dentro de mim, apenas o silêncio. Mas no meu silêncio ecoa a sua voz de criança nova que acredita que tudo pode ser festa... mesmo quando nada faz sentido.

 

E você faz sentido, Jesus. Seja bem-vindo ao meu presépio.   

Comentários

  • Author

    É assim que se faz presépio, renovando a cada dia a fé em Deus e no menino Jesus que se faz presente em nossos corações sofridos mas, fortalecidos pela esperança. Texto maravilhoso e uma grande história tão real. Parabéns!


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