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Pedro Pires Bessa e a literatura de Divinópolis em crônicas

13 de Agosto de 2012, por Evaldo Balbino

Conheci recentemente, em Montes Claros, o professor, pesquisador e cronista Pedro Pires Bessa. Homem culto, cuja simplicidade imensa tem a força do encanto. Conhecê-lo foi uma dádiva. Doutor em Teoria Literária, professor aposentado da UFJF e praticando a docência atualmente na FUNEDI/UEMG em sua terra natal, Divinópolis, vive uma vida constante para as letras, publicando semanalmente, nessa cidade, crônicas no Jornal Agora.

Em suas crônicas encontramos, no dizer de Márcia Pereira, uma “longa jornada cidadã e solidária”, que “estuda o caleidoscópio sociopolítico brasileiro” e faz isso num “girar frenético do catavento”. É autor de sete livros já publicados, nos quais se debruça sobre as obras de Loyola Brandão, Jadir Vilela de Souza e sobre os temas: literatura em interface com a mídia e literatura de Divinópolis.

Quero destacar aqui o cronista, mais especificamente no seu livro Literatura de Divinópolis em crônicas (2006, Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais). Nesse livro, o autor nos dá um panorama, com olhar de cronista atento a tudo e a todos, das várias manifestações culturais da Cidade do Divino, situada no centro-oeste mineiro. Na introdução do seu tomo, diz-nos o cronista: “Estou seguindo o conselho de Massaud Moisés de publicar essas crônicas em livro, no sentido de procurar dar a elas um pouco mais de perenidade”. E eu diria que, ao publicá-las em livro, o autor nos presenteia com a possibilidade de não apenas ter mais perenes seus textos para além das páginas de jornal, mas também de fazer perenes as letras de Divinópolis, as vozes que se grafam e/ou cantam nas páginas que autores e autoras divinopolitanos, de nascença ou de vivência, levam aos seus leitores e ouvintes.

Pedro Pires Bessa descortina diante de nossos olhos, com leveza e agilidade, comentários críticos sobre autores como Adélia Prado, Adriana Versiani, Corgozinho Filho, João da Viola, Julieta Mattar, Lázaro Barreto, Maria da Conceição Elói, Osvaldo André de Mello, Sebastião Benfica Milagre e outros mais. Em suas crônicas, além de uma esmerada atenção ao trabalho que todos esses escritores realizam, Bessa também procura discutir questões variadas e temas polêmicos. Assim, comparecem nos seus textos discussões sobre a infância, a violência desenfreada, a difusão das drogas, a vida individualista que grassa cada vez mais em nosso planeta, a juventude e a velhice, a progressiva mecanização da vida, a literatura infanto-juvenil produzida em Divinópolis, as relações entre música e poesia, a literatura e a televisão, a mulher e a literatura, entre outras questões.

Em todo o livro, Pedro Pires Bessa preocupa-se com a diversidade cultural, reinscrevendo esta preocupação: “temos, atualmente, noção de que, apesar da importância da cultura-padrão, existem outras manifestações culturais tão essenciais quanto ela”. Daí o cronista dizer e refletir sobre a literatura de cordel, o folclore, o dialeto caipira, o compositor João da Viola e os recitais ocorridos em Divinópolis. É nos recitais, diz-nos o autor, que se realiza o ato de devolução da poesia à comunidade em que ela brotou originariamente: “O lugar da poesia é na praça; ela vive é na palpitação dos corações, no entrelaçamento da música com a dança. O poema só resplandece, verdadeiramente, quando é cantado e bailado sem perder a força apolínea, em plena efervescência dionisíaca”.

Pedro Pires Bessa também fala do nosso Gentil Ursino Vale, escritor que nasceu em Resende Costa e que, segundo o comentador, é “o maior memorialista de Divinópolis e um de seus mais primorosos cronistas e contistas”. Assim prossegue o comentarista: “Gentil Ursino Vale relembra pessoas e fatos de sua cidade natal, Resende Costa. Ao primeiro livro de memórias, ele vai sucessivamente acrescentando outras obras. [...] O valor desses textos é incalculável. É um abundante resgate do modo de ser de toda uma comunidade naquilo que ela tem de essencial: a vivência cotidiana de homens, mulheres e crianças em seu mundo próprio. Com seu estilo magnífico, Gentil Ursino Vale coloca todos esses seres e acontecimentos vivos e palpitantes diante de nós”.

Eu, resende-costense e leitor de Gentil Ursino Vale, fiquei emocionado ao ver um filho de nossa terra mencionado e analisado por um escritor contemporâneo da estirpe franciscana de Pedro Pires Bessa. Ler Literatura de Divinópolis em crônicas é prazeroso, pois passamos a conhecer um filho de uma cidade “formada com a presença franciscana” e que, por isso mesmo, “traz, indelevelmente, no seu modo de ser, a marca do Pobrezinho de Assis, riquíssimo em brilhante espiritualidade”.

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