Como parte das comemorações dos seus 25 anos em Portugal, o Centro Social Filhas de São Camilo, em Lamego, norte do país, promove no dia 29 de setembro o “Encontro de Cuidadores”, com conferências e debates envolvendo especialistas da área. O evento é considerado uma oportunidade de contato para os cuidadores das instituições de apoio a doentes e pessoas idosas, técnicos e profissionais de saúde, bem como de estímulo ao “olhar para o Cuidar como uma arte, através do diálogo com alguns especialistas nacionais e estrangeiros nas áreas de envelhecimento, demência e da reflexão bioética”.

A Congregação das Filhas de São Camilo – há mais de seis décadas em Resende Costa (MG, Brasil) - chegou a Portugal em 1989. Poucos anos depois, em 1º de novembro de 1993, entrou em funcionamento a estrutura residencial do Centro Social em Lamego, fundado pela Irmã Amélia Scaramella. Assim, este ano o lar dedicado a pessoas idosas vai completar 25 anos de existência.

A Irmã Francisca Isabel de Mendonça, mineira de Baependi, terra de Nhá Chica, chegou a Lamego em janeiro de 1992, enviada por Roma, sede da Congregação, para ser mestra de aspirantes e fazer trabalho vocacional. “Quando cheguei, a construção estava começada, mas não estava adaptada a idosos.” A obra foi iniciada por um monsenhor e concluída pelas irmãs “com muito sacrificio; terminamos de pagar em 2002”.

No início, a comunidade era formada pelas irmãs Amélia (superiora), Francisca e Luiza Scussiatto. “Nas vésperas, estivemos muitas noites trabalhando e esperando chegar os móveis… Foi muito duro, limpamos tudo de joelhos, abrimos a casa para 42 idosos com apenas três funcionárias e a cozinheira. Trabalhava-se muito, mas com muita alegria”, recorda Irmã Francisca. As acomodações das irmãs restringiam-se aos quartos e sala multiuso. Em 2000, seria construída a clausura.

Desde então, a casa vem passando por melhorias constantes, de maneira “a dar mais conforto, mais beleza e toda a dignidade possível que merecem os idosos e os doentes”, conta Irmã Francisca. Mesmo ausente entre 2000 e 2004 para estudar em Roma, a religiosa não se esqueceu da casa. “Durante os quatro anos que lá estive, todos os anos, no verão, voltava para Portugal para ajudar na obra e deixar o ano seguinte programado.”

Sistema de Qualidade

Em 2004, chegou a Lamego a Irmã Maria do Carmo Machado, paranaense de Vila Pérola Independente. Trazia na bagagem a formação em enfermagem e a experiência de 15 anos de trabalho em Roma e um ano na Hungria. Nesta época, a casa abrigava 54 idosos que eram atendidos por cerca de 30 funcionários de diferentes especialidades, recorda.

Em 2006, dois acontecimentos marcaram o Centro Social de Lamego: a implantação do sistema de gestão da qualidade (SGQ) e a implementação da HACCP (sigla em inglês para Análise de Risco e Pontos Críticos de Controle) focada na higiene alimentar.

O Censo Social de Lamego foi o primeiro lar de idosos de Portugal a adotar o sistema de qualidade. “Em 2004, eu e um funcionário fizemos o curso de gestão da qualidade no Porto”, conta a Irmã Maria do Carmo que se tornou a diretora da qualidade. A casa foi certificada pela Norma ISO 9001/2015 “depois de nos prepararmos bem para ela”, acrescenta Irmã Francisca. As auditorias internas inicialmente eram feitas pela empresa Sinase, apoiada por uma equipe interna de auditores. “Depois a casa renunciou à Sinase para reduzir custos e passou a gerir a auditoria uma vez que já tínhamos experiência”, diz Irmã Maria do Carmo. Em 2014, as irmãs Francisca e Maria do Carmo, mais um funcionário, fizeram o curso de auditoria, para assumir integralmente o trabalho.

O Sistema HACCP foi adotado por exigência da Comissão Europeia. De qualquer forma, a análise de risco e o controle dos pontos críticos, desde a aquisição até o consumo dos alimentos, assim como ações preventivas para evitar potenciais danos, são de grande importância, principalmente quando se trata de idosos e doentes, considera Irmã Maria do Carmo.

A reforma

O lar de idosos tinha um problema crônico que era a longa lista de espera, estimada em 250 pessoas por Irmã Maria do Carmo. Em contraposição, a casa tinha 42 camas no início, número este que passou para 49, em 1995, e depois para 55 camas, complementa Irmã Francisca. “A reforma foi um sonho tornado realidade. A lista de espera era considerável, sempre tínhamos pedidos; havia as exigências legais, normas de segurança, tudo exigia obras, espaços…”.

Irmã Maria do Carmo cita ainda outros motivos para a necessidade da reforma e ampliação do prédio. Havia uma infiltração no terraço, que atingia a fisioterapia e a garagem; além disso, a casa só tinha um elevador.

Em 2008, Irmã Francisca foi indicada superiora do Centro Social de Lamego. “Iniciei logo (as obras) com as saídas de emergência e o plano de segurança contra incêndios.”

Em seguida, houve ampliação da cozinha, dos quartos, escritórios, recepção e do espaço de fisioterapia; união da área alimentar (cozinha e refeitório); construção de salas multiuso (inclusive para festas) e para formação de funcionários, sacristia e de uma área para visitantes, além de vestiários mais amplos. Também houve a instalação de novo elevador e a eliminação da infiltração. A parte externa foi contemplada com estacionamento para funcionários, novas entradas para a recepção e a capela, entre outras melhorias. Com a conclusão da reforma em 2014, a casa passou a ter capacidade para o atendimento de 70 idosos.

Comunidade

Atualmente, a comunidade do Centro Social de Lamego é formada pelas irmãs Carmen Liliana (superiora), Fátima Jerônimo, Sirlene Paula e Kelly Carlos Ibarra. Com a ida, em 2017, de Irmã Francisca para Salamanca (Espanha), assumiu o cargo de superiora da casa a Irmã Carmen, de origem colombiana que vivia há 17 anos em Roma.

A brasileira Irmã Sirlene, que ingressara na Congregação em 1993 em Sinop (MT), chegou a Lamego em 2016, depois de ter passado por São Paulo e por Roma. Ela é uma das duas enfermeiras da casa – a outra é funcionária contratada.

Além das enfermeiras, os 70 idosos, na faixa de 70 a 102 anos, recebem atendimento de 40 profissionais entre médico, psicóloga, fisioterapeuta, cuidadoras (ajudantes diretos), animadoras (convívio), cozinheiras e pessoal de limpeza, entre outros. “Uma das maiores preocupações das Filhas de São Camilo é a higiene e o bem-estar do idoso”, assinala Irmã Sirlene.

Irmã Fátima, portuguesa da Guarda, voltou para Lamego em 2017, depois de trabalhar 23 anos na Itália (Roma e Cremona). “Eu conheci as irmãs Amélia e Francisca (no início) quando eu frequentava a Escola de Formação Social em Lamego”, recorda Irmã Fátima. Depois de se formar educadora social, ela ingressou na Congregação, em Salamanca, antes de ser transferida para a Itália.

Fátima

Em maio de 2015, foi inaugurada em Fátima uma filial (extensão) do Centro Social de Lamego, cuja comunidade atual é formada pelas irmãs Maria do Carmo (superiora) e Nirmala Kaiprambatte. “É uma comunidade das Filhas de São Camilo na Diocese de Leiria-Fátima, criada para dar assistência no domicílio aos doentes e idosos”, conta Irmã Maria do Carmo. “Nos domicílios, cuidamos da higiene, atendimento de enfermagem e suporte religioso (pastoral).”

A casa vai ainda fazer atendimento de enfermagem aos peregrinos no Posto de Socorros do Santuário de Fátima, por solicitação de sua direção, revela Irmã Maria do Carmo. “Vamos também começar agora nova atividade no Lar das Bem-Aventuranças (lar de idosos), que solicitou a nossa presença.”

LINKS RELACIONADOS

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Irmãs Camilianas em Resende Costa: https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/irmas-camilianas-uma-trajetoria-incansavel-em-resende-costa/2385