Peregrinação a Cárquere e Festival da Cereja, duas festas tradicionais de Resende

José Venâncio de Resende0

Duas festas tradicionais marcaram o final de maio e início de junho deste ano em Resende, norte de Portugal: a peregrinação ao Mosteiro de Santa Maria de Cárquere e o Festival da Cereja.

A peregrinação a Cárquere é uma festa medieval que acontece no quarto domingo de maio. A devoção a Santa Maria de Cárquere surgiu a partir do fato, verdadeiro ou lendário, da cura de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, no século 12. O rei teria nascido com uma deficiência nas pernas que o impedia de andar, sendo levado pelo seu aio, D. Egas Moniz (o primeiro Resende), à igreja de Cárquere onde teria sido curado. 

Esta devoção foi difundida pelos padres jesuítas, quando assumiram o Mosteiro, no século 16, e promoveram a peregrinação. A escolha do quarto domingo de maio está relacionada com a época crítica da produção agrícola, bastante sensível a risco de perdas por problemas climáticos e pragas, explica o padre Joaquim Correia Duarte, pároco de São Miguel de Anreade. “Conta-se que a peregrinação é o cumprimento pelo povo de um voto feito a Nossa Senhora num momento aflitivo. Uma praga agrícola, por exemplo.”

Além de ser época de pré-colheita, maio é o mês dedicado a Nossa Senhora, lembra padre Joaquim. “Sempre se disse que é obrigatório ir no mínimo uma pessoa de cada família para representá-la no cumprimento do voto.” A tradição diz que, no caso de alguém da família estiver impedido de comparecer, se deve pagar alguém para representar esta família.

Como nos anos anteriores, a festividade reuniu procissões de 15 paróquias da zona pastoral de Resende, entre elas a de Cárquere que é a última a desfilar com o andor da imagem. Cada procissão é presidida pelo pároco e, à frente, segue a bandeira do padroeiro e a cruz paroquial (de prata), normalmente originária do século 19.

A peregrinação termina com uma missa tradicionalmente presidida pelo bispo de Lamego – atualmente, D. Antônio José da Rocha Couto -, com a participação dos nove párocos da zona pastoral. Conclui-se com a “Procissão do adeus”, que é o regresso do andor à capela do Mosteiro de Cárquere.

Cereja

O sucesso do 16º Festival da Cereja de Resende, que aconteceu nos dias 3 e 4 junho, só confirmou o bom desempenho da safra deste ano, estimada entre 3,5 mil e 4 mil toneladas pelo Gabinete de Desenvolvimento Rural da Câmara Municipal. O clima menos úmido na altura da floração (propenso à não-ocorrência de fungo) e o eficiente trabalho de combate a pragas foram os responsáveis pelo resultado tanto em termos de quantidade quanto de qualidade, diz o engenheiro agrônomo Sérgio Pinto.

Em 2016, a produção foi inferior em cerca de mil toneladas, devido à quebra provocada pelo clima desfavorável e pela “mosca do vinagre” (Drosophila suzukii) originária da Ásia. O combate à praga foi feito com a distribuição de 10 mil armadilhas (em número de 80 a 100 por hectare), conjugada com aplicação de inseticidas homologados pelo Ministério da Agricultura.

A zona ribeirinha do rio Douro, em Resende, colhe as primeiras cerejas da Europa, que conseguem chegar ao mercado duas a três semanas antes das cerejas produzidas nas outras regiões de Portugal. Daí porque o Festival da Cereja é tão aguardado.

Milhares de visitantes de todo o país puderam comprovar a melhor qualidade da cereja colhida este ano. Cerca de130 produtores participaram da festa e venderam em suas barracas cerca de 40 toneladas.

Não faltaram na festa barracas de doces (como as famosas “Cavacas de Resende” e outros doces a base de cereja), apresentações de grupos musicais (bandas e osquestra) e o desfile de crianças com o tema “Doce infância como as cerejas” (inspirado na obra infantil de Alice no País das Maravilhas”).

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