Peregrinação medieval a Cárquere, em Resende, com muita participação popular

José Venâncio de Resende0

Depois de dois anos de pandemia e em meio à guerra na Ucrânia, a Peregrinação ao Mosteiro de Santa Maria de Cárquere voltou a acontecer, no quarto domingo de maio, em nome da tradição de séculos. Com grande participação popular, foram dois dias de festividades religiosas (procissões, missas, primeiras comunhões e crismas), animadas pela música das tradicionais bandas “A Velha” e “A Nova”, da freguesia de S. Cipriano.

Um dos destaques foi o encontro em Cárquere das procissões com os seus estandartes à frente representando as freguesias do concelho de Resende. Em seguida, houve a missa campal presidida pelo bispo da Diocese de Lamego, D. Antônio José da Rocha Couto, com a participação dos párocos das comunidades da zona pastoral de Resende. 

Em seu sermão, D. Antônio Couto referiu-se que a humanidade atravessa “páginas dolorosas por uma coisa simples: Nós esquecemos de que somos essencialmente recebedores dos dons de Deus”. Lembrou as três palavras que herdamos das revoluções francesa e americana e que nós cultivamos e prezamos muito: “liberdade, igualdade e fraternidade”. E que se verificam “progressos assinaláveis nos domínios da liberdade e da igualdade, mas nada se fez no domínio da fraternidade”. O que é fácil de perceber: “Nós devemos lutar para conquistar a liberdade e a igualdade, mas pela fraternidade nós não podemos lutar, e parece que a nossa especialidade é sermos lutadores. A fraternidade, na verdade, recebe-se, não se conquista”. Por isso, “essas três palavrinhas mágicas das revoluções francesa e americana não se sustentam. Nós lutamos pela liberdade e pela igualdade, mas se não há fraternidade tampouco há liberdade e igualdade bem consolidadas”.

Apontando para o ícone de Santa Maria de Cárquere que tem nos seus braços “aquele menino”, D. Antônio concluiu: “Se houvesse mais crianças neste mundo, provavelmente haveria mais paz porque poderíamos pegar mais crianças ao colo do que pegar em armas”. Ao citar este mundo velho, em oposição ao mundo novo em que acreditamos uns nos outros, o bispo concluiu: “Quando nós desconfiarmos uns dos outros, começam a aparecer as coisas que vemos neste mundo; este mundo é para ser belo, não é para ser um campo de batalha, não é para ser um monte de lixo ou de ferros retorcidos”.

Festa medieval

Trata-se de uma festa medieval difundida pelos padres jesuítas quando assumiram o mosteiro de Cárquere no século XVI. A escolha do quarto domingo está relacionada com a época crítica da produção agrícola, bastante sensível a risco de perdas por problemas climáticos e pragas, explica o padre Joaquim Correia Duarte (livro Cidades e Resendes, Chiado Books, 2019). “Conta-se que a peregrinação é o cumprimento pelo povo de um voto feito a Nossa Senhora num momento aflitivo. Uma praga agrícola, por exemplo.” 

Na semana seguinte à Peregrinação de Cárquere, sempre acontece o Festival da Cereja de Resende, que este ano será nos dias 28-29 de maio e 4-5 de junho. 

Mais fotos e imagens podem ser vistas no facebook do fotógrafo Marcos Rodrigues: https://www.facebook.com/marcos.rodrigues.3348

 

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