Voltar a todos os posts

Cafona

14 de Abril de 2021, por José Antônio

Cafona...

Assim o brega era chamado nos anos 70. Tinha outras designações: boko-moko, careta... Mas o cafona pegou. Teve até uma novela com esse nome.

Até hoje não sei precisar o que significa “cafona”. Você sabe precisar o que é brega? Então. A coisa vai por aí.

Alguns diziam, naqueles anos 70, que cafona era o que estava anacrônico. Porém, nem tudo o que é do passado é cafona. Beethoven é cafona? Ou ainda: Beethoven é do passado? Beethoven é anacrônico? Por outro lado, algumas coisas anacrônicas não são cafonas. Por exemplo, a palavra “anacrônico” é cafona.

Houve mais chutes semânticos: cafona é o mau gosto. E aí eu penso no funk. Não é cafona nem é gosto requintado. Penso ainda nos canais abertos de TV: preciosos testemunhos do mau gosto, mas não acho que sejam cafonas.

Um dia, alguém me disse que o cafona é o feio que deu certo. Sei lá, sou mais radical. Pra mim, o cafona é o incerto que deu feio.

Está vendo como a questão é relativa? Tudo é relativo, já dizia o Einstein, aquele que tirou uma foto que ficou cafona, olhando pra gente e com meio metro de língua pra fora.

Os tempos mudam e os costumes também. O que era moda ontem passa a ser démodé hoje. Concordo com o velho e bom Machado: os anéis vão embora, mas os dedos ficam. O que atrapalha é que sempre fica um dedo enfiado no nariz. Talvez isso seja o cafona: teimar em fazer bobagem achando que é coisa chique.

Tenho cá minhas cafonices, mas também tenho o direito de perceber a cafonice alheia. Acho cafona o cara dirigir o carro com o som naquela altura. Cafonice irritante. Ninguém admira. Ninguém gosta. Ninguém acha bonito.

Outra cafonice: fotografar, ginecologicamente, a esposa na hora do parto. Tem gente que exibe essa cafonice em álbum e sai mostrando pra todo mundo. É aquela mistura de sangue, placenta, algodão, mãos, carne humana, secreções... e lá no meio um bebê chorão, inchado e amarrado por um cordão umbilical. E a mulher ainda permite que seu íntimo seja mostrado a olhos mais curiosos do que admiradores. Puro mau gosto. Cafonice.

Quer mais uma? Casal de recém-casados tirando foto depois do casamento, olhando pra trás no vidro traseiro do carro. Sem falar nas fotos do beijo no altar: às vezes o retrato é uma detalhada aula de higiene bucal recíproca. Cafona.

A gente vai vivendo e acaba criando umas filosofias. Tenho algumas comigo. Uma delas é: “Ou você aparece bem ou não aparece.” Não é somente a primeira impressão que fica. As outras também ficam.

Ou você aparece bem ou não aparece... talvez o cafona seja o meio termo disso aí.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário