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Homenagens para manter viva a memória

12 de Julho de 2020, por Edésio Lara

As imagens de George Floyd, 46, um afro-americano sendo estrangulado por um policial de cor branca, correram o mundo. Mesmo ele estando algemado e completamente dominado, pedindo para que o deixassem respirar, a equipe de policiais não atendeu ao seu pedido. Nove minutos depois, ele veio a óbito, expirou. Desde o último dia 27 de maio, a cena violenta e cruel causou revolta em vários países, inclusive no Brasil. Seguiram-se ao fato dias de manifestações violentas, notadamente nos EUA, e a destruição de estátuas, monumentos que homenageiam personalidades reconhecidas como colonialistas e escravagistas.

Movimentos há, como um do estado paulista, de projeto de lei apresentado pela deputada Erica Malunguinho (Psol), que visa à retirada de monumentos que aludem ao passado escravista brasileiro. Esses movimentos não são novos. Em 2013, indígenas protestaram contra homenagens dirigidas a bandeirantes, como o Monumento às Bandeiras, na cidade de São Paulo, capital. Pensam, muitos, que tais monumentos devam ser colocados em museus. No entanto, a simples eliminação dessas obras de arte não apaga o que ocorreu no passado.

Ao circular por vias públicas das nossas cidades, é comum nos depararmos com monumentos sem, às vezes, lhes dedicarmos atenção. São despercebidos, senão, completamente ignorados por nós. Mas as homenagens, além de estátuas, estão em músicas, pinturas, fotografias, nomes de edifícios ou de ruas, avenidas e praças. E não há povoado, vila ou cidade, por menores que sejam, que não possuam espaços com nomes de pessoas que se destacaram por serviços prestados à comunidade. De certa forma, suas realizações sobressaíram e após suas mortes é comum que, por meio de homenagens, seus nomes e feitos sejam realçados de modo a permanecerem como exemplos a serem seguidos pelas gerações futuras.

Em Resende Costa, recentemente, alguns espaços ganharam nomes de pessoas falecidas há pouco tempo. Ao novo salão de eventos da Escola Municipal Conjurados Resende Costa foi dado o nome da professora Sônia Reis. O Parque do Campo, após a grande revitalização pelo qual passou em 2019, ficou como nome do ex-prefeito Gilberto José Pinto.

No mês passado, em trabalho realizado junto ao Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura de Resende Costa, precisei ir até a Rua Doutor José de Alencar Teixeira. Perguntei para um comerciante, depois para um taxista, onde ela se localiza. Eles, mesmo morando próximo, não sabiam. Não vi nenhum carteiro por perto e nem consultei o googlemaps; foi um motoboy que me apontou sua localização: nas Lajes de Baixo. Fui até ela e procurei por uma placa com o nome da rua Dr. Teixeira e não vi nenhuma. Ela está assim, como tantas outras, esquecida; para quem a procura, uma rua sem nome.

Quem foi o Dr. Teixeira? Os mais jovens certamente já podem ter ouvido falar do único médico que tínhamos na cidade até o fim da década de 1960. Ele que, além da Santa Casa, recebia os pacientes no consultório contíguo à sua residência na atual Av. Monsenhor Nelson, entre as casas dos senhores Aldemar Aarão e Luizinho Chaves. Quando o procurávamos para um atendimento, éramos recebidos com a clássica pergunta: O quê que ocê tem? Eu ainda me lembro do dia em que meu pai chegou em casa, vindo de São João del-Rei, dizendo da tristeza que teve ao vê-lo internado na Santa Casa em estado terminal. Logo ele, que cuidou da saúde e salvou a vida de várias pessoas, demandava a atenção da equipe médica que se esforçava para tentar salvar-lhe a vida.

Temos na cidade logradouros que recebem nomes de santos, políticos, artistas e professores, principalmente. Mas, em se tratando de nomes próprios, vários estão na lista daqueles sobre os quais nada sabemos. Com o passar do tempo, sem que haja um registro nos órgãos públicos ou mesmo um breve histórico afixado ao lado de seus nomes, ninguém saberá dizer quem foram e o porquê desses nomes colocados por aí.

George Floyd, enterrado no dia 9 de junho passado, terá sua imagem afixada em nossa memória como sinal de repúdio ao racismo e à violência policial, da forma como também ocorrem no Brasil. Resta-nos manter na memória, também em nossas cidades, o histórico de boas ações que nos foram deixadas pelos nossos antepassados.

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