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Plantei uma árvore

16 de Fevereiro de 2017, por Edésio Lara

Plantei uma árvore em frente à minha casa entre o Natal e o Réveillon de 2016. Rente ao passeio abri uma cova, não muito profunda, para receber a pequena muda de quaresmeira que me foi ofertada pelo Davi, funcionário da prefeitura municipal de Resende Costa. A Tibouchina granulosa, seu nome científico, é uma planta brasileira, própria da Mata Atlântica. Ela quando floresce nos oferece lindas flores de cor roxa. Há outra variedade dela que dá flores cor de rosa, mas, particularmente, prefiro a roxa. A quaresmeira recebeu esse nome exatamente por florescer entre os meses de janeiro e abril, período da quaresma e que antecede a Semana Santa. Durante a quaresma ela nos revela seu encanto, sendo possível encontrá-la com facilidade em todo o país. Avalio que o meu gosto por ela tenha relação estreita com o período quaresmal, que aprecio muito. Considero oportuno o momento, pois, nos próximos meses, as quaresmeiras nos encherão os olhos com sua beleza, seu encanto.

Resende Costa, noutra época, já foi bem mais arborizada. Se não havia tantas árvores nas ruas, era fácil encontrá-las nos enormes quintais das casas dos resende-costenses. Na maioria deles era comum encontrar laranjeiras, goiabeiras, mangueiras, abacateiros, jabuticabeiras, limoeiros, jatobás, bananeiras, enfim, uma variedade de plantas que, além dos seus frutos, ajudavam a embelezar e a tornar o clima do lugar mais ameno. Lamentavelmente, com o crescimento da cidade e a construção de novos imóveis nesses espaços, o que vimos em Resende Costa foi um decréscimo assustador de árvores plantadas nos quintais e em vias públicas. Os enormes quintais, ou hortas, como costumamos chamar, deram lugar a construções de novos imóveis e a conseqüente supressão das árvores que possuíam. Nas praças e ruas, as árvores foram sendo cortadas para dar lugar ao alargamento de vias públicas ou porque estavam incomodando aqueles que se sentiam “ameaçados” por elas. Certamente, andamos na contramão, em desacordo com todas as recomendações que nos chegam de especialistas, que indicam a necessidade premente de mais árvores para garantirmos o equilíbrio ecológico, preservação de nascentes e qualidade do clima. Mas, o descaso, a falta de interesse e a força dos machados e motosserras falam mais alto. Em Resende Costa, e isto é senso comum, corta-se árvore com muita facilidade e até sem motivo, sem que seja plantada outra, mesmo que em outro lugar, como contrapartida.

Mas, voltemos ao que me levou a escrever este texto. Enquanto plantava a pequena muda, fui sendo abordado por pessoas que passavam pela rua e comentavam: “ih, essa planta não vai durar muito” ou, “os meninos da escola vão arrancá-la”. “Que bobagem você plantar árvore aqui, os carros vão passar sobre ela” e “o povo não tem cuidado, alguém vai arrancar essa muda e sumir com ela”. Confesso que fiquei surpreso com essas manifestações, o que me deixou um pouco contrariado, mas, não desanimado. Pacientemente, respondia: “não tem problema se ela for quebrada, arrancada ou jogada fora, eu planto outra”. Por fim, escutei de uma pessoa muito próxima a mim, que disse: “você, antes de plantar árvore na rua deveria pedir autorização à prefeitura; há normas para esse tipo de ação. Ninguém pode sair plantando árvores sem que algum órgão competente se manifeste”. No dia seguinte, dirigi-me então à prefeitura municipal atrás de informações. Ao chegar, me encontrei com o vice-prefeito, em final de mandato, que me apresentou a secretária municipal de Meio Ambiente que atua também como secretária do prefeito. Ao relatar o que me levava até ela, ouvi da mesma: “curioso, você é a primeira pessoa que nos traz uma questão como essa e eu te digo que desconheço qualquer norma interna da prefeitura municipal sobre o assunto”. Lembremo-nos de que grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e tantas outras, têm normas rígidas sobre o assunto, com penalidades para aqueles que as desrespeitam. Nesse momento, nós três chegamos à conclusão de que seria oportuna a criação de uma lei municipal que ordenasse tanto a poda ou corte de árvores, quanto o seu plantio. Precisamos, urgentemente, trabalhar no sentido.

Certo dia, enquanto aguava a pequena e frágil muda de quaresmeira, um rapaz que caminhava pela rua disse: “se todo mundo fizesse isso essa rua ia ficar mais linda”. Nesse momento, tive a certeza de que minha ação estava certa, que encontrou, em pelo menos uma pessoa, o reconhecimento, o elogio, ou melhor, o apoio necessário para seguir adiante. Mas, o que ocorreu foi o que menos desejava. Passados trinta dias a tela protetora da pequena muda sofreu dois ataques: uma de um motoqueiro e outra de um caminhoneiro que jogou seu carro sobre ela. E, para completar o feito, alguém se incumbiu de levar a pequena quaresmeira. Será que a frase “lugar de árvore é no mato” dita por um político da cidade deve prevalecer?

Dedico este texto às irmãs Stela Vale e Coraci Vale e a tantos outros que plantaram e cuidam de árvores diante de suas residências, deixando as ruas menos áridas e mais belas.

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