A volta às aulas presenciais em Resende Costa


José Venâncio de Resende


Escola Estadual Assis Resende voltou com as aulas presenciais seguindo as determinações do estado (foto André Eustáquio)

As aulas presenciais, nas redes pública e particular de ensino, foram retomadas em 3 de novembro, no Estado de Minas Gerais. A decisão foi do Centro de Operações de Emergência de Saúde (COES), da Secretaria de Estado de Saúde, que aprovou a 6ª versão do Protocolo Sanitário de Retorno às Atividades Escolares Presenciais. A medida acabou com a exigência de distanciamento adicional de 90 centímetros entre os estudantes nos ambientes da escola, permanecendo vigentes as demais recomendações sanitárias, como o rastreamento de contato com pessoas infectadas por Covid-19, isolamento e quarentena.

Em Resende Costa, as aulas presenciais recomeçaram, de forma gradual, a partir do início de outubro. Na E. E. Assis Resende, a equipe foi capacitada para o retorno dos alunos, segundo Cleisiane de Sousa Silva, professora de matemática este ano do ensino fundamental (período da tarde). “Vamos estar diante de mais um desafio, mas estou me mantendo positiva para que possamos voltar para sala de aula com felicidade e segurança.”

Na E. M. Paula Assis, no povoado do Ribeirão de Santo Antônio, zona rural de Resende Costa, as aulas presenciais voltaram, no início de outubro, para alunos com autorização das famílias, diz Virgínia Daher de Oliveira Coelho, diretora da escola. Os demais continuaram com a forma remota, voltando a partir de agora como resultado do avanço da vacinação. Na E. M. Conjurados Resende Costa, as aulas presenciais foram retomadas em 4 de outubro, informou sua diretora Rosenéia Aparecida da Silva Daher Resende. “Dividimos os alunos em dois grupos A e B, ou seja, uma semana frequenta o grupo A e na outra o grupo B.”

A escola enviou aos alunosuma cartinha com orientaçõessobre prevenção e adequações na rotina escolar. “Será feito um rodízio entre os alunos que irão participar das atividades presenciais, de forma que haja, todos os dias, distância segura no ambiente escolar”, diz a publicação. Cita ainda medidas de isolamento em caso de sintomas ou de contatos com pessoas que tenham testado positivo para Covid-19. Na rotina escolar, fala de medição de temperatura, marcadores de distanciamento, uso de máscaras, distribuição de álcool em gel etc. Rosenéia ressalta o empenho de toda a equipe pedagógica envolvida nesse processo de retomada às aulas presenciais.

 

Pandemia

O início da pandemia foi um período de dificuldades para muitos professores e alunos, lembra Cleisiane. A utilização das novas tecnologias no ensino à distância (EAD) exigiu adequação e treinamento (cursos gratuitos, seminários e palestras) que minimizaram as dificuldades. Também “contamos com muitas ferramentas digitais que potencializaram o ensino-aprendizagem na modalidade virtual, além de estarmos trabalhando com o ensino híbrido: aulas síncronas (os professores e estudantes online ao mesmo tempo ou aulas são realizadas ao vivo) e assíncronas (material didático preparado pelo professor e enviado ao aluno, um método inclusivo que permite o aluno estudar no seu ritmo)”. A escola ainda entregou material impresso aos alunos sem conexão à internet e sem dispositivos eletrônicos de comunicação.“Portanto, essas mudanças nos proporcionaram alcançar uma porcentagem maior de participação de alunos nas aulas online no ano de 2021.”

Na rede municipal, foi instituído o sistema de estudo remoto que priorizou as apostilas mensais entregue aos alunos, conta Virgínia. “Usamos a forma virtual somente para orientações. Foi a forma mais democrática encontrada. Mesmo assim, nem todos os alunos da Paula Assis concluíam o material mensal.” Na Conjurados, foi ofertado, no ensino à distância “EducaLar”, material impresso para todos os alunos “e praticamente 90% desses realizaram as atividades propostas nas apostilas”, acrescenta Rosenéia. Também foram distribuídos vídeos explicativos dos conteúdos das apostilas, pelos grupos de whatsApp. Vídeos pequenos, “para que todos pudessem ter acesso”, o que “contribuiu para evitar uma desigualdade de oportunidades”.   

Apesar dos esforços e das alternativas, “este período em que os alunos estiveram fora do ambiente escolar foi muito prejudicial”, admite Virgínia. “E não só no aspecto cognitivo; a convivência com colegas e funcionários da escola é essencial para a socialização de crianças e adolescentes.” Esta troca de experiências e de interação nos espaços de convívio escolar “são vitais para o desenvolvimento do aluno, principalmente nas séries iniciais, que necessitam muito do lúdico”, reforça Eunice Maria Fernandes Coelho, professora no município de Resende Costa. Além disso, “nem todos têm oportunidades iguais de acesso aos meios de comunicação, o que prejudica o resultado do processo de aprendizagem no ensino remoto”.

Para Cleisiane, o aumento da desigualdade educacional levou, algumas vezes, a “uma desmotivação em aprender”. Apesar do desenvolvimento tecnológico e da visível melhoria no ensino a distância, “essa modalidade de estudos ainda não substitui o ensino presencial, pois o ambiente escolar não é apenas um espaço de Educação formal”, mas sobretudo “é um ambiente de interações, vivências e construção de saberes”.Pode-se dizer que o período de pandemia “foi marcado por vários desafios profissionais e psicológicos”, reforça Rosenéia. “O prejuízo educacional foi grande, vamos levar um bom tempo para sanar as defasagens de aprendizagem dos nossos alunos.”

Em tempos de pandemia, o desafio, como professora e educadora, “está sendo proporcionar a igualdade de estudos” e de “tentar amenizar os impactos na Educação”, observa Cleisiane. Até porque os danos para os alunos “são maiores, mesmo com todas as ferramentas digitais disponíveis, interessantes e atrativas”, mas que “não substituem aquele período que o aluno está na escola”.  Sem falar que “muitos estudantesnão têm em casa dispositivos eletrônicos de comunicação para as aulas virtuais; então, eles recebem a apostila impressa, mas faltou aquele espaço diário de conversa com a comunidade escolar”. Com isso, ela reforça o papel do espaço físico da escola como “um espaço de Educação, diálogo e inclusão”; enfim, “há uma proximidade e maior engajamento nos estudos”.

 

Retorno

Justamente porque as aulas virtuais ainda não substituem o ensino-aprendizagem na escola, Cleisiane diz-se favorável ao retorno às aulas presenciais. “No entanto, todas as medidas protetivas devem ser seguidas para a não propagação do vírus e uma maior amplitude de vacinação.”

Também Rosenéia considera este retorno “o mais favorável, pois a Onda Verde (do Programa Minas Consciente) e o avanço da vacinação contribuíram para uma segurança maior para todos”. “Nós ficamos muito apreensivos com esse retorno, mas agora que ele aconteceu foi possível ver que os alunos estão respeitando muito bem as regras de distanciamento e segurança.”

No primeiro momento, a estratégia usada é a de acolhimento de funcionários e alunos, a fim de “passar uma tranquilidade necessária para realizar o trabalho de ensino-aprendizagem”, explica Rosenéia. “Depois vamos realizar um diagnóstico para avaliarmos as habilidades pedagógicas que vamos ter, para sanar as dificuldades apresentadas pelos alunos.”

De qualquer forma, tudo que o contribui para compensar o “tempo perdido” deve ser levado em conta. “Deverá haver muito planejamento, investimentos e, claro, disposição e união entre família e escola para que juntos possamos tentar compensar o tempo perdido e superar os impasses que virão”, acrescenta Eunice.

 

Futuro

A educação à distância foi “uma boa estratégia para abrandar os prejuízos educacionais no atual momento”, reconhece Cleisiane, destacando o“trabalho empreendedor e dinâmico para amenizar as desigualdades e evasões”. Mas ela acredita que, no contexto nacional, o ensino a distância “ainda não substitui o ensino presencial nas escolas públicas. Quem sabe no futuro teremos o ensino híbrido, dado que aprendemos muito sobre novas formas de ensinar e sobre metodologias educacionais tecnológicas durante a pandemia”.

Nesse sentido, a equipe pedagógica da Paula Assis “tem feito, com os alunos presentes, uma averiguação diagnóstica para apurar o que eles conseguiram absorver com a estratégia remota e como deveremos agir daqui pra frente, principalmente com o ensino médio, que terá menos tempo para recuperar os conteúdos”, conta Virgínia. “Uma certeza nós játemos: a tecnologia é uma grande aliada na Educação, mas nada substitui a escola na formação dos alunos.”

O ensino à distância é uma realidade que veio para ficar, acredita Eunice. “Porém, ainda estamos longe de um misto entre as duas modalidades porque a desigualdade de condições ainda persiste”. Na visão de Rosenéia, o ensino onlineé “uma ferramenta a mais no processo de ensino-aprendizagem. Recebemos vários elogios sobre os vídeos explicativos, os conteúdos das apostilas e o acompanhamento pelos grupos de whatsApp das turmas”.

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