Acontecimentos políticos de Resende Costa na ótica de padre Nelson (*)


Política

José Venâncio de Resende1

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Monsenhor Nelson Rodrigues Ferreira, o “padre Nelson”, participou ativamente dos principais acontecimentos políticos de Resende Costa, a partir de meados do século 20. No Livro do Tombo(“Inventários e principais acontecimentos desta paróchia de Resende Costa, e também de todos os factos nacionais e internacionais que por sua importância encontraram ou fizeram echo na vida cívica e religiosa de todos os que aqui se reúnem sob os olhares e protecção de Nossa Senhora da Penha”, livros 1º e 2º, 1944-82), o vigário narrou em detalhes os fatos locais, sempre sintonizados com a política nacional.
 
Em 1947, o novo pároco de Resende Costa dava o tom do que seria o seu ativismo político nas décadas seguintes. A aproximação das eleições em todo o Estado de Minas Gerais agitava o ambiente político municipal, que o religioso definiu como de “muita confusão no princípio, futricas em grande número”.
 
Atendendo “pedido de terceiros”, padre Nelson tentou fazer uma intervenção apaziguadora entre os partidos e conseguiu, depois de alguma contrariedade e de alguns mal-entendidos, a apresentação de chapa única para prefeito, vice-prefeito e vereadores. “Não advogamos chapa única para vereadores por acharmos alguns inconvenientes, entre os quais a falta de suplentes, ou posteriormente alguns descontentamentos entre os partidos, no meio dos quais graças a Deus conseguimos manter nossa neutralidade.”
 
Ao contrário da campanha, as eleições realizaram-se em ambiente tranqüilo em 23 de novembro, relata o vigário. “Apesar de chapa única, houve ainda certa competição, lutas entre candidatos a vereadores, cada qual trabalhando para ter maior número de votos que os demais.” Eleito em chapa única, o novo prefeito Antonio de Souza Maia Junior tomou posse no mesmo ano em substituição a José Gabriel de Resende (eleito em 1945). Para a Câmara Municipal, despontou o vereador Antonio Honório de Resende, que se tornaria um político influente em Resende Costa nas décadas seguintes.  Foram eleitos ainda Joaquim Coelho Campos, Waldomiro Pereira Sant´Anna, Adão Lara, Aristóteles Augusto de Resende, José Germano de Resende, Manoel Ferreira de Resende, José Pergentino de Souza e Francisco das Chagas Valle.
   
Em meio à campanha eleitoral nacional de 1950, apareceram em Resende Costa os candidatos Gabriel de Resende Passos, recebido pelo prefeito Antonio de Souza Maia Junior, e Juscelino Kubitschek de Oliveira, acompanhado de Tancredo Neves e recebido pelo médico e líder político José Alencar Teixeira. 
 
Contra a corrente
Getúlio Vargas venceu a eleição nacional, pela coligação entre PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e PSD (Partido Social Democrático), e JK foi eleito governador de Minas também pelo PSD. O pároco ficou surpreso com a derrota de Vargas e seu esquema partidário em Resende Costa. A cidade deu vitória ao Brigadeiro Eduardo Gomes e ao candidato a governador Gabriel Passos, além de eleger prefeito Geraldo Monteiro, na coligação da UDN (União Democrática Nacional) com o PTB.
 
“Este resultado surpreendeu a todos os partidos locais. Primeiro, não se esperava tão grande número de getulistas em Resende Costa. Segundo, esperavam que o candidato eleito para a prefeitura vencesse por uma maioria mínima. Terceiro, ninguém esperava a grande maioria da UDN na Câmara dos Vereadores.”
 
O vigário não foi condescendente com o governador eleito de Minas Gerais, JK. “Pela sua administração como prefeito de Belo Horizonte, poderemos prever o que será sua administração no Estado: um misto de administração com esbanjamento, política e demagogia. Talvez realize grandes coisas, deixando as conseqüências para o seu sucessor.”
 
No cenário local, padre Nelson manifesta um misto de elogio e de esperança pela posse do prefeito Geraldo Monteiro e de seu vice, Antonio da Silva Barbosa. “Com bons auspícios para o município, iniciou-se a gestão do sr. Geraldo Monteiro de Oliveira (que) residia até pouco tempo em Belo Horizonte onde trabalhava como funcionário da base aérea e cursava a escola de engenharia. Homem prestativo, trabalhador e inteligente, há muito se interessava pelas coisas de Resende Costa. Em 1940 mais ou menos, construiu com os seus esforços e os poucos auxílios da prefeitura uma modesta estrada de automóveis daqui a Jacarandira, estrada atualmente intransitável mas que certamente será restaurada em sua administração.”
 
Cassiano surpreende  
 
O suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, provocou “grande pasmo e surpresa” no país, de acordo com o pároco. Ele “foi vitimado antes de tudo pela sua longa permanência no poder e pela sua grande inclinação para a ditadura. Foi vítima também de sua demagogia.” À morte de Vargas, “seguiram-se em algumas cidades movimentos de excitação popular. Em Resende Costa, lamentou-se bastante a atitude inesperada do sr. Getúlio Vargas, nada tendo havido de anormal”. 
 
Apesar do ambiente calmo depois da morte de Vargas, esquentou a campanha política municipal. Segundo padre Nelson, em Resende Costa, o registro de candidatos às eleições municipais exigia a formação do diretório do PSD. “Dois candidatos à presidência do diretório entraram logo em cena: dr. José Alencar Teixeira, médico, e Francisco Mendes de Resende Junior. Pouco depois apareceu um terceiro candidato, Cassiano Resende, homem não muito simpatizado no município.”
 
A eleição do diretório foi marcada duas vezes, com a presença do deputado Augusto das Chagas Viégas, relata o vigário. “Em ambas, apesar de a maioria pender a favor do dr. José Alencar, não se realizou a eleição graças à inabilidade do dr. Augusto que desejava a todo custo um acordo. Estavam as coisas neste pé quando, sem mais nem menos, sem eleição foi reconhecido como presidente do diretório, por obra e graça do dr. Tancredo de Almeida Neves, o sr. Cassiano Resende, fazendeiro, residente em Santa Rita, município de São João del Rei.”
 
Padre Nelson revela que, “resolvida democraticamente” (!) a questão do diretório do PSD, precipitou-se à escolha de candidatos e iniciou-se a maior e mais acesa campanha política destes últimos 10 anos. O dr. José Alencar Teixeira, desprestigiado na questão do diretório do PSD, organizou quase às vésperas das eleições o Partido Social Trabalhista (PST) e levantou a candidatura do sr. Antonio Resende em contraposição à candidatura do sr. Antonio da Silva Barbosa, candidato coligado dos partidos PSD, PR, PTB e UDN. As eleições de 3 de outubro correram em ambiente de paz, apesar da agitação dos dias anteriores”.
 
O resultado das eleições surpreendeu, segundo o pároco. Foram eleitos os candidatos a prefeito e vice-prefeito do PST, Antonio Resende e José Augusto dos Reis. Os vereadores eleitos foram os seguintes: Geraldo Monteiro de Oliveira (PST), Alfredo Chaves (PSD), Geraldo Sebastião Chaves (PR), Miled Hannas (UDN), Arlindo Coelho (PST), Geraldo de Oliveira Resende (PSD), Evaristo Resende Maia (PST), Cornélio Pinto de Resende (PST), José Marciano de Urquisa (PSD). “A vitória do PST foi devido primeiro a muita popularidade e prestígio do sr. Geraldo Monteiro; segundo, à impopularidade e desprestígio do sr. Cassiano Resende; terceiro, à inabilidade dos ex-deputados federais dr. Augusto das Chagas Viégas e Tancredo de Almeida Neves.”
 
Antonio Honório
 
Em 1955, Antonio Honório assumiu, pela primeira vez, o cargo de prefeito de Resende Costa, com churrasco e muita cachaça, para descontentamento de padre Nelson. “O sr. Antonio Resende e o sr. José Augusto dos Reis, eleitos prefeito e vice-prefeito, e os novos vereadores, bem como o juiz de paz, com os seus suplentes foram solenemente empossados em primeiro de fevereiro.”
 
Às 7 horas da manhã, prossegue o pároco, houve missa por intenção dos diplomados à qual compareceram apenas uns três vereadores. “À tarde, realizou-se cerimônia de posse à qual não comparecemos por ter aparecido providencialmente um chamado de confissão na roça. Houve um churrasco oferecido ao povo com profusa distribuição de bebidas, cachaça, etc. Tendo sido regular o número de embriagados, o que deu à cidade uma impressão bastante deprimente, não houve entre os membros dos partidos nenhuma desinteligência nem inimizades. Tanto as eleições quanto a cerimônia de posse, apesar da grande luta por ocasião da campanha eleitoral, ocorreram em paz.”
 
Entusiasta de Brasília
 
Na capital mineira, JK deu um passo decisivo, na sua ascendente carreira política, ao renunciar ao mandato de governador para disputar a Presidência da República. O slogan de JK “Energia e transporte” era o lema do seu governo e rótulo de sua propaganda política. Padre Nelson colocou em dúvida esta estratégia e alegou que, no governo de Minas, JK entregou ao tráfego apenas mil quilômetros de rodovias e aproveitou apenas 70 mil hp de energia elétrica, depois de ter prometido três mil quilômetros de rodovias modernas e 200 mil hp. “Terminou sua administração propalando pelos quatro cantos de nossa pátria, pelo rádio e pela imprensa, ter concretizado todo o seu plano (...).”
 
Nos três mil quilômetros inaugurados na propaganda, prossegue o vigário, JK incluía o trecho Lagoa Dourada - São João, Barbacena - São João e Lavras - São João, “quando nesta região até os cegos vêem a ausência do governo na construção de rodovias. Nem um quilômetro construído em direção a São João del-Rei, mas o homem, apesar de demagogo e perdulário, é inteligente, sempre realiza a terça parte do que promete. É possível, se eleito presidente da República, que realize algo”.
 
Em janeiro de 1956, Juscelino Kubitschek, eleito em outubro do ano anterior, foi empossado como presidente da República. Na mesma data, assumiu o novo governador do Estado de Minas Gerais, Bias Fortes.
 
Apesar de crítico de JK, padre Nelson dividia com o novo presidente o sonho e o entusiasmo pela criação de Brasília, e até excursão fez à nova capital em construção, em 1957. “Desde os nossos tempos escolares, éramos grande entusiasta da mudança da capital para o Planalto. Aventuramos uma visita às obras de Brasília em setembro. Saímos dia 9 e regressamos, nós e o Padre Adelmo Ferreira, dia 21. Viagem estafante, por terra, via Triângulo Mineiro e Goiânia. Regresso de avião. Visitamos as obras dias 18 e 19. Tudo no começo, muito trabalho, muito pó, muitos aventureiros, muito entusiasmo!”
 
Apoio a Miled Hannas  
 
Na campanha política de 1958, padre Nelson apoiou para prefeito o jovem Miled Hannas, da UDN. “Avizinhando-se as eleições, após uma série de conchavos, apresentaram-se dois candidatos. Miled Hannas, moço muito culto, latinista, muito honesto, e Saturnino Saturnino Chaves de Mendonça Junior. A campanha política em Resende Costa se manteve em nível mais ou menos elevado. Os dois competidores eram entre si muito amigos. Vencida a fase ante-política de propaganda política, o sr. Miled Hannas saiu vitorioso por uma maioria de 60 votos.”
 
Na posse do novo prefeito, em 31 de janeiro de 1959, o pároco condenou a festa promovida pelo vice-prefeito empossado José da Conceição Vale, “que apesar de todos os nossos esforços contra promoveu no dia grande baile de gala no Teatro Municipal, com jazz de Belo Horizonte, etc. e grandes gastos. Procedeu com muita dignidade o sr. prefeito que não somente não compareceu ao mesmo, mas também não permitiu que saísse um centavo dos cofres da municipalidade para esse esbanjamento”. 
 
Em 1960, padre Nelson realizou o sonho de ver a inauguração de Brasília. A mudança da capital, do Rio de Janeiro para o Brasil Central, constituía-se no “fato principal da vida brasileira”; que era um “acontecimento ímpar” que tornava “realidade o sonho dos inconfidentes”. Para o pároco, a inauguração significou uma afirmação de fé na capacidade realizadora do povo brasileiro e que deu ao nosso país extraordinária presença no cenário internacional.
 
Presidente “louco”
 
A campanha eleitoral para presidente e governador foi bastante aguerrida em Resende Costa, fazendo eco ao que ocorria no Brasil. Padre Nelson escreveu que opovo desejava novos rumos políticos e econômicos e que, por conta disso, estava se deixando levar pelo discurso fácil do candidato Jânio Quadros, um demagogo que não inspirava confiança.
 
Em janeiro de 1961, narra o vigário, houve a dupla posse do presidente “louco” do Brasil, no Sul das Américas, e do primeiro presidente católico dos Estados Unidos, o democrata John Kennedy, ao Norte. Jânio Quadros assumiu o cargo, na primeira cerimônia realizada em Brasília, em “clima de euforia democrática, pois um candidato da oposição, de origem humilde, chegava à presidência da República”.
 
No mesmo ano, padre Nelson recebeu circular do bispo diocesano, orientando os párocos a promover “listas com assinaturas endereçadas ao sr. presidente da República, pedindo a não-oficialização do Partido Comunista”. Mas ainesperada e surpreendente renúncia de Jânio Quadros ao mandato presidencial, em 25 de agosto, criaria profunda crise na vida nacional.
 
Aliança eleitoral pela família
 
Durante o mandato interino do presidente da Câmara, Ranieri Mazzili, os militares vetaram a posse do vice-presidente João Goulart que se encontrava em missão oficial no exterior. O Congresso procurou solucionar o impasse com a reforma da Constituição, instituindo o parlamentarismo. O ministério parlamentarista foi chefiado pelo são-joanense Tancredo Neves, o que permitiu a posse de João Goulart em 4 de setembro.
 
O experiente Tancredo Neves, porém, não conseguiu impedir a radicalização política, o que levou a Igreja a se envolver cada vez mais nos acontecimentos e os bispos brasileiros a criarem um movimento eleitoral pela família católica. Padre Nelson considerou “oportuno” esse movimento organizado pelo episcopado brasileiro, que buscava esclarecer os eleitores conscientes para que livremente se unissem em torno de um programa definido e procurassem votar em “candidatos dignos cujas idéias sejam coerentes com o programa católico”.
 
Em Resende Costa, obediente à voz da autoridade eclesiástica, o pároco fundou a aliança eleitoral pela família cuja primeira diretoria foi constituída por Sérgio Procópio de Resende (presidente); Scylla Conceição Reis (vice-presidente); Adenor Coelho (primeiro-secretário); Geraldo de Paula Magela (segundo-secretário); José Pio de Resende (primeiro-tesoureiro); Alfredo de Paula Pinto (segundo-tesoureiro); Wagner Geraldo de Sousa Resende, Geraldo Élson da Silva e Valdemir Silva Resende.
 
Eleições e confessionário  
 
Nesse clima político cada vez mais hostil, o vigário envolveu-se intensamente na campanha para as eleições de outubro de 1962, o que lhe rendeu muitos dissabores. “Preferia sepultar no silêncio os acontecimentos de setembro e outubro, não fora uma ordem do sr. bispo diocesano e o amor à história. As coisas tomaram rumo inesperado. Fiel à nossa consciência sacerdotal, diante da triste conjuntura nacional, resolvemos tomar uma atitude mais positiva na orientação da consciência dos eleitores de nossa paróquia.”
 
O pároco sempre detestou a política com “p” minúsculo, “que tanto vem infelicitando o nosso pobre país”, mas achava que chegara a vez de os homens de bem e que não podia admitir que os bons deixassem que “os aventureiros continuassem à frente dos nossos destinos”. Calculo que “essas atitudes francas” deviam ser tomadas “a partir dos municípios onde os aventureiros-mirins iniciam sua escalada”.
 
Fiel aos princípios da aliança eleitoral pela família (ALEF), Padre Nelson começou a trabalhar, desde o início de setembro em Resende Costa, “em prol de uma campanha tranqüila em torno de candidatos honestos”. Assim, procurou exercer sua influência de pároco por uma coligação partidária a favor de um candidato único. De início, UDN, PSD, PR (Partido Republicano Mineiro) e PTB concordaram com a candidatura única de Adenor Coelho.
 
Porém, vinte e quatro horas depois, para surpresa do pároco, “o sr. J.V., cidadão trabalhador e inteligente mas pouco equilibrado, candidatou-se com o apoio do PTB. O aparecimento desta candidatura levou o PSD também a se desligar da coligação, levantando a candidatura do ex-prefeito A.R., bom cidadão, sobre quem, porém, pesavam graves acusações”.
 
Segundo padre Nelson, “os companheiros de chapa dos candidatos J.V. e A. R. não podiam de modo nenhum ser facilmente aprovados pela ALEF”. E, a partir deste fato até as eleições, a atitude do pároco “foi apenas de ler e comentar os boletins da ALEF e as palavras do sr. bispo diocesano em todas as missas e em todos os domingos. Jamais fazemos alusão direta a pessoas”. Acusado “de ter usado do confessionário” para interferir no resultado das eleições, o religioso afirmou: “Deus, porém, sabe a verdade. Estamos certo de que nenhuma pessoa será capaz de afirmar com juramento esta acusação”.
 
Reação à vitória de Adenor
A apuração das urnas no dia 7 de outubro decepcionou os candidatos J.V. e A. R., relata padre Nelson. A vitória de Adenor Coelho “foi por maioria absoluta, mas a reação contra nós não tardou”. Depois de ida de J.V. a Belo Horizonte, o jornal Correio de Minas, de 17 de outubro, publicou manchete, acompanhada de fotografia de J.V. “em atitude patética”: “Candidato derrotado por padre vai fundar igreja protestante”.
 
O vigário transcreveu as declarações de J.V. ao jornal: “As acusações que o sr. J.V. faz ao cônego Nelson Rodrigues são de que ele usou do púlpito para campanha política e virou muitos no confessionário. Nas vésperas das eleições, o vigário cônego Nelson Rodrigues resolveu derrotá-lo”. Seu maior azar “foi que a sexta-feira antes das eleições era a primeira do mês. A primeira sexta-feira do mês é dedicada ao Sagrado Coração de Jesus e nesse dia quase toda a cidade de Resende Costa comunga para ganhar indulgência plenária. O cônego Nelson Rodrigues aproveitou o número elevado das confissões e fez uma tremenda campanha contra ele”. (...) “Em represália, vai fundar uma igreja protestante em Resende Costa e já conta com grande apoio.”  
 
No dia seguinte, 19, o jornal deu seqüência à reportagem com o título: “Estudante defende cônego Nelson Rodrigues contra o candidato que derrotou”. O pároco decidiu conservar os recortes do jornal no arquivo paroquial, “bem como o original da defesa do acadêmico de distrito Geraldo da Silva e cartas do sr. J.V”. Segundo o vigário, “o jornal adulterou os depoimentos de ambas as partes e (disse) que o universitário Geraldo de Mello foi fidelíssimo na defesa. Tocou, porém, em pontos delicados da vida pregressa do sr. J.V.”.
 
Na edição do dia 24, apareceu nova reportagem com o título “Candidato derrotado pelo cônego ameaça abrir um livro contra ele”. Para o pároco, o jornal quis fazer sensacionalismo, pois a manchete não condizia com o conteúdo: “O universitário Geraldo da Silva disse que as aventuras... do candidato J.V. não são coisas do passado, mas atuais. Disse também que, se o candidato J.V. tornasse a acusar o cônego Nelson Rodrigues, ele abriria o livro de sua vida. Respondendo ao universitário, o candidato J.V. disse que não foge da parada e está disposto a abrir o livro do pai de Geraldo Silva...
 
Padre Nelson conclui que nada havia, portanto, com referência à pessoa dele. Em carta particular ao vigário, J.V. desmentiu a manchete do jornal contrária à autorização por ele escrita e assinada, pela qual o título correto seria “Candidato a prefeito de Resende Costa responde às acusações do universitário Geraldo Silva”. O vigário conta que J.V. quis corrigir o título, mas o jornal lhe pediu alta soma em dinheiro. E concluiu: “Vejam como é a nossa imprensa!”.
 
Antes desses ataques publicados no jornal Correio de Minas, o pároco recebeu de J.V. “longa e terrível carta”. Após esses ataques, saíram à rua dois boletins assinados por J.V. transcritos em parte pelo religioso. “... Inesquecíveis companheiros deste fúnebre jornal de ar político! Esqueçam os lances heróicos da desigual competição. Consolem-se, pois tivemos o mérito da resistência, da intrepidez na luta entre pigmeus e gigantes. Lutamos contra o poderio econômico, contra os tratores, contra o poderio clerical. Afinal, concordemos nisto: seria patenteado demais o desprestígio do cônego caso ganhássemos essas eleições, pois, a julgar pelo combate que nos fez, éramos a ´personificação do diabo´...
 
O vigário acrescenta que os correligionários do candidato A.R. colocaram na rua um boletim anônimo que dizia entre outras coisas o seguinte: “O padre em apreço, com o seu proceder incorreto, estimulou a interação de outro credo na cidade, em virtude do descontentamento geral... O padre, não se achando à altura de sua missão, passe-a a outro mais digno, mais competente, para que as lamentáveis ocorrências não se repitam mais. Será possível que o pároco dessa cidade ainda precise de mais dinheiro para a compra de jipe, para derrotar nas próximas eleições os mesmos elementos que o ajudaram a comprá-lo?
 
Ameaça de sequestro
 
Padre Nelson relata que foi avisado de que várias pessoas pretendiam seqüestrá-lo. Certa noite fazia, após o terço com os fiéis, alguns minutos de adoração ao santíssimo sacramento de portas fechadas, quando ouviu alguém chamando pelo seu nome do lado de fora da matriz. Era o delegado de polícia - acompanhado de um seu amigo – que logo falou: “Estou aqui para lhe dar garantias. Havia pessoas em atitude suspeita perto da casa paroquial. A polícia está agora vigiando a casa e o sr. poderá sair tranqüilo da igreja”.
 
O vigário agradeceu o delegado pelo cuidado, explicou que era seu costume rezar na igreja àquelas horas de portas fechadas e pediu que a autoridade retirasse a polícia. Mais tarde, o padre regressou à casa paroquial, sem a presença do delegado e da polícia.
Segundo o padre, chegaram aos ouvidos do bispo diocesano, já em Roma para o Concílio, “notícias alarmantes de desacatos à nossa pessoa, passeatas, etc. etc.”. Essa tensão continuaria por todo o restante de outubro. “Para vencer toda essa situação, que consideramos a mais crítica de toda a nossa vida sacerdotal, pedimos aos nossos amigos que se abstivessem de quaisquer manifestações ou de alegria pela vitória ou de repulsa aos boletins, etc. etc.”.
 
O pároco procurou desconhecer oficialmente os acontecimentos, entregando-se completamente à rotina paroquial e se isolando completamente do público, para evitar encontros e comentários. “Não respondemos pessoalmente a nenhum boletim. Em meados de novembro, a borrasca já tinha desaparecido por completo.”
 
Parlamentarismo vence em RC
 
O ano de 1963 foi agitado no cenário político nacional. Começou com o plebiscito promovido pelo governo João Goulart pela volta ao presidencialismo, já que Jango não se conformava com o parlamentarismo. Segundo padre Nelson, o plebiscito, no dia 6 de janeiro, foi “precedido de intensíssima propaganda publicitária financiada exclusivamente pelo governo, propaganda pelo rádio e televisão em que se insistia exaustivamente a favor da volta do país ao regime presidencialista”.
 
Setenta por cento do eleitorado votaram pelo NÃO, “atendendo, portanto, à propaganda oficial”, relata o pároco. Em 23 de janeiro, “antes mesmo da homologação dos resultados, o Congresso revogou o Ato Adicional que instituíra o parlamentarismo. Foi essa a primeira vez em que se realizou no Brasil um plebiscito de caráter nacional.”
 
O resultado do plebiscito em Resende Costa surpreendeu o Brasil inteiro, menos a padre Nelson. “A todos os que nos pediram orientação, dávamos discretamente o nosso ponto de vista favorável ao parlamentarismo melhorado. Não o que tínhamos contra o presidencialismo. Grande maioria do eleitorado resende-costense votou a favor do SIM pelo parlamentarismo. Esse fato foi notícia do Repórter ESSO, de várias estações de rádio brasileiras, que publicaram reportagem extraordinária que Resende Costa foi o primeiro município brasileiro, um dos poucos, a dar vitória ao SIM contra o presidencialismo.”
 
Preocupação com comunismo
 
A hierarquia da Igreja católica agia como nunca, preocupada com o rumo dos acontecimentos, escreveu o pároco. O bispo diocesano de São João del-Rei, D. Delfim, “levado pelo seu sentimento de sadio patriotismo”, enviou telegramas para autoridades responsáveis pelo destino do país, manifestando preocupação com a gravidade da situação brasileira. Um desses telegramas, endereçado ao presidente da República, João Goulart, dizia: “Lamentando gravemente situação nossa pátria, em virtude aberta pregação idéias subversivas e ação organizada demolidores democracia e tradições cristãs do Brasil, rogo respeitosamente vossência em nome clero e fiéis dessa diocese enérgicas providências contra atuação agentes nacionais e estrangeiros que tentam mergulhar povo brasileiro na desordem, confusão e sangue. PT Deus assista governo, vossência. PT Delfim Ribeiro Guedes, bispo São João del Rei´”.
 
Outros telegramas foram endereçados aos deputados Tancredo Neves e Celso Passos, ao padre Pedro Vidigal e aos governadores Magalhães Pinto (Minas Gerais) e Carlos Lacerda (antiga Guanabara).
 
Atento à movimentação política, sob a ótica da Igreja católica, padre Nelson registrou o manifesto, de 21 de abril de 1963, à Nação brasileira, assinado por cerca de 20 prefeitos do Oeste de Minas, reunidos em São João del-Rei por ocasião do “250º aniversário de elevação a Vila”. Os prefeitos assinaram documento “em favor da preservação da democracia e do cristianismo em nossa pátria”.
 
A primeira parte chamava “a atenção para os nossos grandes problemas: ideologias estranhas à nossa civilização cristã e responsabilidade de muitos dos nossos homens públicos, abandono do proletariado urbano e rural, ameaça de desagregação da família, etc.”. Para a solução de tais problemas, o documento conclamava “todos os brasileiros a um sadio nacionalismo baseado na democracia e no cristianismo, sem ódio aos estrangeiros, sem indecisões e compactuações com princípios alheios à nossa nacionalidade”. E, para pôr em prática tais soluções, o documento recomendava “todos a trabalhar positivamente pela democracia através da escola livre e da iniciativa particular, através de uma vida sindical autêntica, através de uma política econômica realista e de uma vida política honesta”.  
 
Temperatura política elevada
 
A notícia em São Paulo sobre o ultraje a Nossa Senhora Aparecida e a quebra na hierarquia das forças armadas, com a rebelião dos sargentos em Brasília, contribuíram para acirrar os ânimos políticos. Padre Nelson escreveu que o vespertino Última Hora, da capital paulista, apresentou Nossa Senhora Aparecida “em uma caricatura esportiva de uma maneira bastante desrespeitosa a Nossa Senhora e aos nossos sentimentos católicos”. Os autores da charge não imaginaram “que estavam tocando em ponto sensível para nós católicos”.
 
Segundo o vigário, “assumiu então grandes proporções o movimento de protesto contra o jornal” e, em muitos lugares, foram realizadas “passeatas de protesto com queima do jornal e queima simbólica do caricaturista”. Ele que recebeu, em 3 de setembro, circular do bispo diocesano, na qual pedia aos sacerdotes que “promovêssemos em nossas paróquias expressivas homenagens de desagravo a Nossa Senhora Aparecida”. Mas padre Nelson já se havia antecipado a essa iniciativa. “Na festa de Nossa Senhora da Penha, o tríduo se revestiu desse caráter de desagravo e, ao encerramento da procissão da padroeira, houve em frente de nossa matriz, em concentração popular, expressiva manifestação a Nossa Senhora.”
 
Sobre a quebra na hierarquia das forças armadas, relatou, cerca de 600 sargentos e praças “sublevaram-se na madrugada do dia 12 de setembro, ocupando o Ministério da Marinha, o aeroporto militar e central telefônica”, logo depois que o Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional o recurso deles sobre a elegibilidade. Os militares foram desalojados e se renderam após rápida ação das forças do Exército, “registrando-se apenas duas mortes: a de um fuzileiro naval e de um civil, este alheio aos acontecimentos”. 
 
Nos primeiros meses de 1964, o Brasil ia “de mal a pior”, na visão do pároco. Tanto que “as comunhões desta semana santa foram ligeiramente mais numerosas do que as das últimas semanas santas”. Naquela semana santa, foram registradas 6695 comunhões, o que levou padre Nelson a concluir que “o povo todo tinha medo de algo”. Ou seja, “o povo rezava e comungava pela nossa pátria”.
 
Para o vigário, “conspiravam abertamente tanto os adversários da situação como os comunistas”, e o país se radicalizava “em perigos vizinhos da guerra civil”. Foi “nesse clima (que) o presidente Goulart, fazendo seu o dilema de Kennedy: ´ou reforma ou revolução´, lançou mão de seus últimos trunfos”. Assim, “os incidentes de fevereiro em BH, quando Brizola não pôde realizar um comício pró-reformas, mostravam o estado de espírito reinante”.
 
No dia 13 de março, prossegue padre Nelson, “cercado de grande aparato bélico, o Rio assistiu um decisivo comício pró-reformas”. Nesse comício, “o presidente assinou decretos declarando de utilidade pública áreas de terras às margens das rodovias e ferrovias federais, tabelando aluguéis de casa e desapropriando as refinarias particulares de petróleo, providência de caráter puramente demagógico, em plena semana santa”.
 
Além disso, “um motim de marinheiros veio agravar a situação”; “os amotinados queriam o reconhecimento de sua entidade de classe (proibida pelos regulamentos militares) e melhoria na alimentação”; “a indisciplina estendeu-se aos navios e estabelecimentos”; “fuzileiros mandados para prender os amotinados aderem em parte”; “o Exército cercou o local enquanto o presidente regressava do Sul”; “Goulart negociou com os marinheiros que concordaram em deixar o sindicato”; “os amotinados depois de terem estado presos durante algumas horas foram postos em liberdade e em grande alarido festejaram sua vitória pela Avenida Presidente Vargas, mas enquanto os da esquerda se amotinavam os católicos promoviam por todo o Brasil a cruzada do terço pela pátria e pela família”.
 
No dia 29, domingo de Páscoa, continua o pároco, um milhão de pessoas reuniu-se em São Paulo “para receber a cruz simbólica vinda de Jerusalém”. Enquanto isso, o presidente João Goulart, no dia 30, recebia homenagem dos sargentos, “proferindo o discurso que foi seu canto de cisne”; “portanto, estava o ambiente preparado para a revolução”. 
 
A “revolução” de 1964
 
Goulart, vítima de um governo “por demais comunizante”, não resistiu à pressão e caiu em 31 de março. Para padre Nelson, “os militares já não suportavam a vergonha de sustentar e manter um governo que dava cobertura à indisciplina”, segundo palavras do general Mourão Filho que, ao lado do então governador mineiro Magalhães Pinto, “se pôs em armas, na noite de 31 de março”. E, “na madrugada do dia 1º de abril, São Paulo aderiu à causa da revolução e, mais tarde, outros governadores e outras unidades militares se manifestaram a favor”. No mesmo dia, Goulart abandonou o Rio, passou por Brasília e fugiu para o Uruguai.
 
Na noite de 1º de abril, o Congresso declarava vaga a Presidência da República, comemorou padre Nelson. “Está vitoriosa a revolução”. E, em 9 de abril, o comando revolucionário editava “ato institucional”, pelo qual a revolução se armava de “instrumento jurídico indispensável à sua institucionalização”. Em seguida, “vieram as cassações de mandato, suspensões de direitos políticos”. Em 12 de abril, o general Humberto Castello Branco e o mineiro José Maria Alckmin “foram eleitos pacificamente pelo Congresso presidente e vice-presidente da República”. Assim, “se iniciou uma nova fase na vida política do país”.
 
Padre Nelson, porém, não se iludiu porque “essa revolução foi feita por homens” e, “portanto, terá seus erros”. Os militares teriam “de derrubar privilégios injustos”, precisariam distribuir castigos; o “movimento militar” começou “popular”, mas “é bem possível que brevemente se torne impopular.”
 
Ao relatar a repercussão do golpe militar em Resende Costa, o religioso disse que “a cidade se alegrou com a derrubada do governo”; que “houve grande passeata cívico-popular, com discursos, música e fogos”; que, no dia 2 de abril, “os ginasianos promoveram outra passeata por iniciativa espontânea”. E ponderou: “A bem da verdade histórica, é bom que se diga que nem todos receberam bem a revolução. Havia na cidade janguistas e brizolistas, não-comunistas, é claro, que desejavam as reformas preconizadas pelo sr. João Goulart”. 
 
Antonio Honório: vitória da oposição  
 
Em 1966, Antonio Honório foi eleito prefeito pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), de oposição ao regime militar, por “maioria esmagadora de votos”, uma vitória que padre Nelson considerou “surpreendente”. O novo regime extinguira os antigos partidos políticos (UDN, PSD, PTB, PTN, PR, etc.) que foram substituídos por apenas dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o MDB. Na verdade, o vigário acreditava que os adversários do governo teriam dificuldades de vencer eleição, pois os governadores eleitos na época já se inclinavam a aderir à nova situação.
 
Na campanha e na primeira eleição municipal nos tempos da ditadura militar, tudo indicava que o vencedor em Resende Costa seria um dos candidatos da ARENA: Antonio da Silva Barbosa (o Barbosinha) e, pela sublegenda do mesmo partido (uma esquisitice da época), José de Resende Maia. Daí a surpresa do pároco.  No mesmo ano em que Antonio Honório tomava posse, o marechal Costa e Silva foi escolhido por eleição indireta no Congresso Nacional, para suceder o marechal Castello Branco.
 
A eleição indireta, no final de 1970, do general Emilio Garrastazu Médici mereceu a aprovação do padre Nelson: “Com a eleição do general Médici, temos a impressão de que o Brasil continua sendo governado, após a revolução, por homens de bem e de responsabilidade”. Também foi eleito prefeito de Resende Costa OcacyrAndrade, que tomou posse no início do ano seguinte com o comentário elogioso do vigário: “O município há muito vem precisando de uma mão firme e de uma cabeça criteriosa para governá-lo. Não podemos bater palmas para o prefeito deste último quadriênio. Muito esperamos do sr. Ocacyr para este biênio 1971-72. (...) Se ele for o que dele esperamos, lamentaremos, é claro, tenha sido eleito para tão pouco tempo”.
 
Em 1972, Geraldo Monteiro de Oliveira voltou à prefeitura (Aristides Coelho dos Santos como vice), desta vez pelo MDB. Ele fora prefeito pela primeira vez em 1951-55, “com administração não muito tranqüila”, na definição de padre Nelson. Em Aparecida do Norte (SP), “foi eleito, após renhida campanha, o resende-costense Comendador Vicente Penido”.
 
   Em 1976, “após campanha política calma”, voltou à prefeitura Ocacyr Alves de Andrade (ARENA), com o sabido apoio, embora sem o voto, de padre Nelson. “Não pudemos votar por motivo de doença e operação cirúrgica em São João del Rei.”
 
“Estrada dos nossos sonhos”
 
Nas décadas de 1950 e 60, padre Nelson participava ativamente de comitivas a Belo Horizonte para encontros com autoridades do governo estadual e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Na pauta desses encontros, ações políticas para a construção de nova rodovia, pavimentada, que facilitasse a comunicação de Resende Costa com o restante de Minas Gerais e outros estados.
 
Em 1979, o vigário escreveu: “Nossas viagens não pareciam de todo frutíferas, porque, neste espaço de 20 anos de nossos esforços, por umas cinco vezes, fora do período eleitoral, aqui estiveram engenheiros e topógrafos fazendo estudos. Já havia até um estudo aéreo-fotogramétrico e um serviço muitíssimo caro de sondagem de terreno”.
 
No apagar das luzes da administração do governador Aureliano Chaves, os ventos sopraram de todo a favor do pleito desse melhoramento, segundo relata o pároco: “(Nós) resolvemos procurar em S. Paulo, dia 17 de maio de 1978, em seu escritório na Avenida Nações Unidas, o comendador Pelerson Soares Penido, presidente e principal acionista da empresa construtora e pavimentadora de estradas Serveng-Civilsan, com o seu prestígio e amizade pessoal com o dr. Aureliano Chaves. Ótimo resultado!”
 
No dia 23 de maio, padre Nelson; Ocacyr, prefeito; Antonio Pascoal de Melo, presidente da Câmara; e Pelerson Penido fizeram apelo ao governador mineiro pela construção da rodovia. “Foi feita a promessa de encaminhamento rápido. A construção da estrada foi posta em concorrência. Dia 12 de dezembro, abertas as propostas, foi aprovado justamente a da firma Serveng-Civilsan de nossos conterrâneos Pelerson, Cristóvão, Vicente e Paulo Penido, filhos de Resende Costa, motivo de muita satisfação para todos nós.”
 
O valor do contrato foi fixado em Cr$ 74,741 milhões, com previsão de reajuste, ficando fora deste orçamento a construção de uma ponte que seria objeto de outra concorrência. Segundo o vigário, após as primeiras providências contratuais, tais como organização do canteiro de obras e chegada das primeiras máquinas, os serviços tiveram início na tarde de 10 de janeiro de 1979, “com a presença das autoridades municipais e de regular número de pessoas”.
 
Em 8 de julho do mesmo ano, uma comitiva formada de políticos saiu de Resende Costa rumo a Aparecida do Norte, liderada por padre Nelson. “Convidado pelo nosso amigo comendador Vicente Penido, fomos em companhia do sr. prefeito e do sr. presidente da Câmara, dr. Toninho de Melo, a Aparecida para um encontro com o sr. governador de Minas, dr. Francelino Pereira, que lá se acharia em visita à Padroeira do Brasil e à Basílica Nacional. Almoçamos com o sr. governador em casa do sr. Vicente Penido, anfitrião. Objetivo desse encontro: obter, juntamente com os irmãos Penido, todos lá presentes, garantia do sr. governador de asfaltamento de nossa nova rodovia, já em fase adiantada de construção. Fomos felizes.”
 
Em 1981, finalmente, o sonho da rodovia asfaltada tornava-se realidade. A construção de 14,5 km de extensão, segundo o pároco, constituiu-se de trabalhos de terraplenagem, drenagem, obras de arte correntes, pavimentação asfáltica, obras complementares (sub-base estabilizada sem mistura e base de solo brita), revestimento (tratamento superficial bruto com capa selante), volume escavado de 1.100.000 m3, obra de arte especial (ponte sobre o Ribeirão do Mosquito com 78,0 metros), projeto da Planex S/A e construção da Serveng-Civilsan S/A. Valor da obra: Cr$ 136 milhões.
 
Padre Nelson fez um resumo do evento de inauguração: “Tendo sua construção, iniciada a 10 de janeiro de 1979 pela construtora Serveng-Civilsan de nossos conterrâneos irmãos Penido, vimos afinal inaugurada, a 20 de março do corrente ano, a estrada de nossos sonhos, ligando Resende Costa à BR 383. As solenidades foram presididas pelo exmo. sr. governador do Estado, dr. Francelino Pereira dos Santos, com a presença também do exmo. e revmo. sr. D. Delfim, DD Bispo Diocesano, e das autoridades dr. Carlos Alberto Fonseca Salgado, diretor geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais, os irmãos deputados Bonifácio Andrada, os irmãos Penido, a quem em grande parte ficamos devendo esse melhoramento, prefeitos das cidades vizinhas e inúmeras pessoas e filhos de Resende Costa que vieram para participar da nossa alegria. A recepção às autoridades se deu na Praça Cônego Cardoso, bem em frente da Igreja Matriz, em palanque armado sobre o adro. Toda a praça, as ruas, a estrada e o trevo rodoviário estavam artisticamente ornamentados com bandeiras e faixas de boas vindas aos ilustres visitantes. Na Escola Estadual Assis Resende, foi oferecido o ´cock-tail´.”
 
“Para que esse fato se tornasse realidade, vínhamos, vigário e prefeitos, há vinte anos lutando com as autoridades estaduais. Houve mesmo uma carta do Cardeal Vasconcellos Motta dirigida ao exmo sr. governador, pedindo para Resende Costa essa ligação rodoviária. Estivemos algumas vezes em Belo Horizonte para fazer nosso pedido. Mas, o que nos pareceu decisivo foi nosso encontro com o nosso conterrâneo comendador Pelerson Penido, no dia 17 de maio de 1978, e nossa ida (pároco, prefeito, dr. Toninho Melo e Pelerson Penido) a Belo Horizonte para uma entrevista com o dr. Aureliano Chaves, DD governador, dia 23 de maio. A partir desta nossa iniciativa, vieram logo a concorrência, assinatura de contrato e construção.”
 
Não tardou e veio a grande decepção nas eleições de 1982, pelo menos para o padre Nelson. “Após campanha eleitoral um tanto agitada, realizaram-se com relativa tranqüilidade, em todo o Brasil, eleições para renovação dos mandatos das vereanças, prefeitos, deputados, governadores de Estado e senadores (um terço da Câmara Alta). Se não houve surpresas no resultado geral em todo o País, devido à insatisfação generalizada do povo com a situação política e econômica urgente, aconteceu, porém, o inesperado em Resende Costa, com a vitória da oposição.”
 
“Tendo sido grandemente beneficiada nestes últimos anos com a nova rodovia, novo serviço de água (COPASA), Telemig, novo prédio escolar e verbas extras, tudo reforçado com a administração do sr. Ocacyr, ninguém, ou melhor, poucos esperavam o que aconteceu: a vitória dos candidatos da oposição: sr. Gilberto Silva Pinto (sic), prefeito, e Aquim Coelho de Resende, vice. Que os eleitos, na esfera federal, estadual e municipal, não procurem a servir a si mesmos, e sim sirvam à comunidade.”
(*) Segunda reportagem da série história política de Resende Costa
 
 
 
 

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    Geraldo Silva = Geraldo Mello = Geraldo da Silva Melo/ acadêmico de direito da UFMG em 1962


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