No ano letivo que começou este mês, 521 alunos (idades entre os 6 e os 11 anos) da E. M. Conjurados, de Resende Costa (MG), não poderão usar celular nas dependências da escola. E os professores estão autorizados somente nos horários de café e de módulos (horário pedagógico). Em sala de aula, apenas é permitido o uso de tablet fornecido pela escola, para fins pedagógicos, pelos alunos do 5° ano.
Foi há cerca de 12 anos que a direção tomou a decisão de proibir o uso do celular nas dependências da escola (salas de aula, recreio e refeitório), por consenso entre os membros da equipe pedagógica (professores, supervisores, diretora e vice). A medida abrange os alunos do ensino fundamental I (1º ao 5º ano). As orientações e regras da escola são repassadas aos pais em comunicados escritos e em reuniões. Já os contatos dos alunos com os pais, em casos de emergência, são feitos pela diretoria e pela secretaria da escola. Arraigou-se de tal maneira o hábito que as crianças nem mais levam celular para a escola.
Roseneia Aparecida da Silva Daher Resende assumia, então, a direção da escola (um ano como vice e depois como diretora). Era uma época em que o celular começava a se popularizar e as pessoas ainda estavam adaptando-se ao aparelho, inclusive as crianças. Situação propícia aos exageros como invasão de privacidade e assédios morais. “Começamos a ter vários problemas quando o celular começou a ficar mais popular. As crianças, por exemplo, começaram a filmar colegas ou fazer fotos e divulgar nas redes sociais.” Além disso, havia sumiços de (e danos a) celulares.
As exceções à medida limitavam-se a “festinhas de fim de ano” e a passeios pedagógicos. “Há cerca de dois anos também proibimos celular em eventos”, conta Roseneia. Nas confraternizações, a professora fotografa e disponibiliza no grupo da sala de aula. Na “baladinha do 5º ano”, um fotógrafo profissional produz o material e entrega à professora, que posta no grupo da sala com autorização dos pais. Durante a festinha, os alunos podem colocar adereços, como óculos, chapéu e plumas, para tirarem fotos (numa cabine alugada para o evento), que podem ser levadas para a casa como recordação desse momento. Fotógrafos profissionais também atuam em eventos como campeonatos, festa junina, festa da família e desfile de Sete de Setembro - nesse caso, as fotos devem ser compradas pelos pais que o desejarem.
E porque uma medida tão radical, quis saber o repórter? “O celular estava atrapalhando a parte pedagógica (na sala de aula) e nos recreios restringia o convívio social entre os alunos”. Também foi uma forma de evitar comparações (“o meu é melhor do que o seu”) e outras situações constrangedoras, conclui Roseneia.
Enquete
Por coincidência, o vereador Fernando Chaves acaba de abrir uma enquete nas redes sociais para promover essa discussão com os resende-costenses; “ficou muito claro que existe a necessidade premente de encontrarmos melhores maneiras de lidar com o celular no ambiente escolar, promovendo um uso mais restrito e saudável desse meio de comunicação nas escolas”.
Ele parte do princípio de que a relação entre tecnologia e educação, bem como tecnologia e trabalho, tem sido intensamente discutida. “Por um lado, as novas tecnologias apresentam-se como ferramentas aliadas da busca pelo conhecimento e de melhorias no desempenho profissional. Por outro lado, também revelam seu lado perverso e, muitas vezes, atuam sabotando nossa capacidade criativa, nossa atenção e nossa disciplina para com as atividades profissionais ou estudantis.”
A discussão sobre o uso adequado das tecnologias nos ambientes escolares é similar à discussão sobre tecnologia no mundo do trabalho, observa. “Na escola, por se tratar de jovens, a gestão do uso de tecnologias é ainda mais importante, uma vez que é esperado dos jovens uma dificuldade maior para disciplinarem o uso de ferramentas como o celular.”
Clique aqui para acessar a enquete.
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Na freguesia portuguesa de Lourosa escola sem celulares (telemóveis)