Alunos se destacam em olimpíadas confirmando a excelência do ensino na Escola Paula Assis


Educação

André Eustáquio / Emanuelle Ribeiro0

Os alunos da escola Paula Assis, Lucas, Eduardo, Cíntia e Carolina, com as professoras Goretti e Ana Paula

Às 12h10 o sinal toca dando início a mais um dia de aula na Escola Municipal Paula Assis. Aos poucos alunos e professores se dirigem às salas de aula e o pátio gramado da escola fica vazio. Diferentemente de muitas escolas que conhecemos, o movimento dos alunos se dá sem muito barulho. Não há filas, muito menos empurrões. A disciplina é considerada um dos fatores determinantes para o sucesso dessa escola, localizada no povoado do Ribeirão de Santo Antônio, zona rural do município de Resende Costa.
 
Fundada em 1963, a Escola Paula Assis teve a extensão de série (séries finais do Ensino Fundamental) criada em 1994, durante a administração do prefeito Luiz Antônio Pinto. A extensão de série tornou possível aos alunos provenientes das comunidades rurais cursarem o ensino fundamental sem, necessariamente, terem que se deslocar até Resende Costa. Em 2009, foi criado o Ensino Médio e a primeira turma se formou no ano passado.
 
Atualmente, 321 alunos estão matriculados na Escola Paula Assis, que recebe alunos a partir dos cinco anos de idade, iniciando a Educação Infantil. “Na Educação Infantil, já se inicia o processo de alfabetização. Os alunos já têm os primeiros contatos com as letras”, disse Virginia Daher de Oliveira Coelho, diretora da escola desde 2009, que comemora, juntamente com os professores, o grande momento vivido pela instituição, bem como o desempenho de alguns alunos nas olimpíadas de matemática, química, física e história.
 
O sucesso desses alunos pode ser atribuído a uma série de fatores, que vão desde o empenho e interesse pelos estudos, até a dedicação dos professores e o apoio da comunidade escolar, que mantém um relacionamento de amizade e admiração com os alunos. “Não existe sucesso sem a interação de tudo. O conjunto faz a diferença”, disse Carolina Maia Coelho, aluna do 1º ano do Ensino Médio, e que recebeu menção honrosa na Olimpíada Brasileira de História 2011, realizada na Unicamp, em Campinas (SP). Para Ana Paula Mendonça de Resende, professora de história, o perfil dos alunos também faz a diferença: “Eles são bons em todas as disciplinas, a gente percebe o interesse e a afinidade deles com as matérias. Eles me dão um orgulho tão grande, pois vêm da zona rural e disputam com alunos do Brasil inteiro”.
 
A professora de matemática, Maria Goretti de Resende, destacou outro aspecto primordial, ou seja, o gosto pelo estudo: “Esses alunos gostam de estudar e querem ir cada vez mais longe. Eles querem ir além do que a gente ensina na sala de aula”. De acordo com Goretti, durante a preparação para as olimpíadas os alunos participantes abriram mão do recreio para estudar e receber orientações dos professores.
 
A timidez ainda é visível no rosto do aluno Eduardo Geraldo Assis, do 9º ano, que traz no seu ainda breve, porém vitorioso e nada tímido currículo escolar, medalhas, prêmios e até bolsas de estudo. Eduardo não titubeia em dizer que achou “fácil” a prova de matemática das olimpíadas. “Eu fico até devendo pontos a eles”, disse a professora Goretti, que costuma aplicar exercícios de trigonometria como desafio aos alunos craques na matemática e até distribui pontos extras na sala de aula para incentivar os alunos a renderem sempre mais.
 
 
As provas
 
Os alunos Lucas Resende e Eduardo, ambos cursando o 9º ano, são destaques nas ciências exatas na Paula Assis. Na Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA) Eduardo conquistou a medalha de prata e Lucas, a de bronze. Os dois trabalharam durante um mês se preparando através de provas, trabalhos e outros materiais de estudo. No fim, tanto esforço valeu à pena.
 
Além disso, os dois receberam menção honrosa nas olimpíadas de matemática e química. A primeira foi dividida em duas fases, e na segunda etapa são selecionados 5% dos alunos (os melhores colocados) com a prova contendo apenas questões abertas. Já na olimpíada de química, dividida também em duas etapas, Eduardo e Lucas foram os primeiros colocados dos alunos das escolas públicas. Os dois ainda participaram da olimpíada de história, permanecendo até a 5ª fase. Além desses prêmios, o estudante Eduardo foi bolsista por dois anos do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC Júnior).
 
Tendo em vista a participação e o sucesso dos alunos nas provas de exatas, fica claro qual caminho os dois pretendem seguir: Lucas quer estudar informática e Eduardo, qualquer área, desde que tenha cálculos. “Provavelmente farei engenharia”, revela.
 
A professora Eunice Resende foi a orientadora das olimpíadas de química e física. Na olimpíada de matemática, a professora Goretti foi a responsável por auxiliar os alunos.
 
As alunas Carolina, Cíntia Mayara Resende e Samantha Resende Andrade foram finalistas da Olimpíada Nacional de História, concorrendo com alunos de escolas públicas e particulares de todo o país. A olimpíada é disputada por equipes de três alunos. Ao todo, foram mais de 16 mil equipes disputando as provas. As três receberam menção honrosa.
 
Apesar de se destacarem nas ciências humanas e gostarem bastante de história, Carolina também mostra preferência por matemática e química. Já Cíntia gosta mesmo é de biologia. As jovens disseram que irão prestar vestibular, mas ainda não optaram por nenhum curso. A professora Ana Paula acredita que elas irão obter sucesso em qualquer área que escolherem.
 
 
Desafios que estimulam o sucesso
 
Para chegar à escola ao meio dia, alguns alunos saem de casa às 9h30. Carolina mora no distrito de Jacarandira, sai de casa às 10h15 e chega por volta das 18h00. “Vejo como maior desafio a falta de tempo. Às vezes quero ler um livro, mas me falta tempo”, lamenta a estudante.
 
Apesar dos desafios impostos, sobretudo pela distância e pelas intempéries, como poeira, barro e estrada de terra, os alunos da Paula Assis valorizam a educação e demonstram que força de vontade, organização, aplicação e disciplina podem mesmo fazer toda a diferença. “Os professores da escola Paula Assis são os mesmos que lecionam na cidade, mas hoje percebemos que existe uma inversão de opção, ou seja, muita gente quer vir estudar aqui. Por quê? Aqui os alunos valorizam o tempo, o estudo e a disciplina”, destacou a professora Goretti.
 
Turmas menores (20 a 25 alunos), autonomia e disciplina são pontos enfatizados pelas professoras Bete Maia (biologia), Ana Paula (história) e Goretti (matemática) como fatores determinantes para a excelência do ensino na Paula Assis: “Aqui as turmas são menores, os alunos são mais disciplinados e os professores têm maior autonomia na sala de aula. Como aqui existe reprovação, os alunos se sentem desafiados e ao mesmo tempo estimulados a estudar mais, para não ficarem para trás”.
 
A diretora Virgínia Daher acredita que o trajeto até a escola é um dos grandes desafios enfrentados pelos alunos e até pelos professores, mas afirma não ter vontade de trocar a Escola Paula Assis por outra oportunidade de trabalho, e explica: “Diante desses desafios, eles se superam, com certeza. É muito trabalho para eles chegarem aqui e não fazerem nada. A maioria daqueles que têm mais trabalho para chegar aqui são os que dão mais valor”. Virgínia conclui chamando a atenção para uma característica do aluno da escola rural que estimula os educadores: “É muito bom trabalhar aqui. Os meninos têm uma cumplicidade, um carinho com a gente, um respeito que eu não vi em outras escolas por onde passei”.
 
Algum leitor pode questionar o porquê de o JL dar destaque à escola Paula Assis, quando diversas instituições públicas de ensino também de destacam nas avaliações de desempenho e milhares de alunos vindos dessas instituições se destacam nos concursos e vestibulares Brasil afora. O que nos chama a atenção, porém, é estarmos falando da excelência do ensino em uma escola localizada numa pequena comunidade rural, de um município com pouco mais de 11 mil habitantes. Mais ainda, falamos de uma instituição de ensino na qual os professores, ao invés de reclamarem dos alunos e da falta de estrutura, não se cansam de elogiá-los, fazem planejamento e se dedicam à escola.
 
Na Escola Municipal Paula Assis a política partidária não dá as cartas e a disciplina, o empenho dos educadores, a dedicação e superação dos alunos fazem mesmo a diferença, conforme testemunho dos próprios professores. Talvez esteja aí o segredo do sucesso da escola.

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