Artista e apaixonado por futebol, Deizinho falece aos 63 anos em Resende Costa


Cidades

Emanuelle Ribeiro0

No domingo, 15 de outubro, Resende Costa amanheceu com a notícia do falecimento do Daniel Fernandes dos Reis Resende. Figura conhecida na cidade, Deizinho – como era chamado por todos – nasceu em 18 de setembro de 1954. É fácil lembrar dele com a camisa do Botafogo andando pelas ruas e parando para conversar com várias pessoas. Gostava muito de futebol e exibia outras camisas, dentre elas a do América-MG.

Deizinho é irmão do José Venâncio de Resende, repórter do Jornal das Lajes. O jornalista contou que sempre teve dificuldade em entender o irmão na sua complexidade de ser humano: “Fico extremamente confortado ao perceber, agora mais do que nunca, que as pessoas que conviveram com ele o entenderam na sua simplicidade e nas suas ambiguidades”.

Deizinho era alcóolatra. O problema com a bebida fez com que ele, em algumas oportunidades, se alterasse. Esteve em algumas confusões. O vício o levou à morte, vítima de pneumonia em um organismo já fraco. Os amigos tentaram alertá-lo, mas em vão: “Depois que ele passou a beber demasiadamente, isso atrapalhou muito a vida dele. Cansei de falar com ele, inclusive poucos dias antes da morte dele”, conta Edney Silva. Ele o conheceu quando Deizinho estava preso na cadeia de cima: “Eu menino andando pela rua e ele sempre pedia para eu comprar leite pra ele. Ele saiu da cadeia depois, e sempre falava comigo, a gente se encontrava na rua. Nos víamos em campos de futebol. Deizinho era uma pessoa muito boa, mas era ruim pra ele. Tinha uma amizade muito grande por ele. Fiquei chateado, porque era um cara que conhecia há muitos anos”.

Artista, Deizinho criava peças artesanais e era talentoso: “Talvez seja exagero falar de gênio, mas meu irmão era uma pessoa inteligente, um artista nato, um grande vendedor, um pouco místico com tendência a pregador, mas que foi muito prejudicado pela sua inconstância e pelo caminho sem volta do alcoolismo. Pensando bem, acho que a música ‘Maluco Beleza’, do Raul Seixas, é o retrato da alma dele”, destaca Venâncio.

Nas redes sociais, o resende-costense foi lembrado por amigos: “Lamento profundamente o passamento do Deizinho, que era meu amigo e com quem passei bons momentos quando ia a Resende Costa, sobretudo falando sobre o Expedicionário Futebol Club, do qual fui um dos fundadores. Os meus pêsames ao José Venâncio e a toda a família. Do Deizinho só nos restará a saudade. Que Deus o tenha”, disse Alair Coêlho de Resende. Já Marcos Alves de Andrade comentou o seguinte: “Gostava muito dele. Quando crianças, brincamos juntos muitas vezes. Parava no Zainha, algumas vezes ele vinha conversar comigo. Ótimo pintor. Está junto dos que já se foram”.

Na adolescência, após perder a mãe, Deizinho foi para Belo Horizonte, onde começou a trabalhar como vendedor numa loja de sapatos. “O que ele queria mesmo era ser jogador de futebol e jogar no Botafogo, uma de suas paixões. Acho até que chegou a fazer teste no América Mineiro”, revela o irmão. De volta, ele passou por São João del-Rei, onde trabalhou, entre meados dos anos 70 e início dos anos 80, como vendedor autônomo de quadros de santos da Paisagem do Lar (loja de artigos religiosos e molduras), dos resende-costenses Irami (já falecido) e Mozart Coelho. Mais do que vendedor, tornou-se grande amigo da família, sendo padrinho de batismo do fisioterapeuta Anderson Coelho, filho do casal Irami e Arlete.

Outra passagem interessante da vida dele foi a viagem de carona por boa parte da América Latina, América Central e América do Norte, como conta Venâncio: “Lembro-me de ouvir dele que, ao atravessar a fronteira do México para os Estados Unidos, estava vestido com um macacão amarelo da Pemex (petrolífera mexicana), que havia ganhado de alguém. Isto facilitou a prisão dele pela guarda de fronteira, bem como a sua deportação para o Brasil”.

Depois desta aventura, optou por viver em Resende Costa, sua terra natal. Durante uma época, coordenou o campeonato de futebol do município, inclusive elaborando uma tabela que tinha anúncios do comércio local. Arte e futebol são paixões que se misturaram: “Acredito que ele tenha sido o primeiro a pintar logos de times em tapetes de Resende Costa. Era um artista, não estava nem um pouco preocupado com esta questão legal de que os clubes são donos da exploração comercial das logomarcas”, comenta o jornalista.

“O meu irmão era uma pessoa que queria que a sociedade se adaptasse a ele, e não o contrário. Pelo que posso constatar, muita gente entendeu esse lado dele. E no seu jeito de ver o mundo acabou por lhe angariar uma imensidão de amigos”, conclui Venâncio.

José Antônio de Resende, o Zainha do Xegamais, era vizinho e amigo de Deizinho. Ele era o único presente no Hospital Nossa Senhora do Rosário na ocasião da morte dele. “Minha família convivia com o Deizinho há muitos anos. A presença dele ali no Xegamais fazia parte do nosso dia a dia. Seja pelos comentários sobre futebol pela manhã, onde defendia o seu Botafogo, seja pela oferta de frutas, mudas de plantas ou de seu artesanato que ele sempre presenteava meus netos, ou ainda pelos nossos repetidos conselhos para largar a bebida. Em setembro, levou sua identidade para nos mostrar e, pela primeira vez contou que era o seu aniversário. E foi o último, pois o que viveu foi um mês de definhamento. Até que o Isaías conseguiu convencê-lo e prepará-lo para ir ao hospital. Durante as visitas mostrava-se ainda falante. Até que na última vez, bem debilitado, não tive coragem de ir embora. Passei a noite lá e ele ainda se mostrava lúcido, mas cansado. Na madrugada, desliguei a televisão e falei que ele precisava descansar. Ainda falou algumas frases de impacto (como sempre!) e descansou. Vamos sentir sua falta”, declarou Zainha.

 

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