A Associação de Catadores de Material Reciclável de São João del-Rei (ASCAS) já recolheu mais de cinco mil toneladas em seus 10 anos de existência. Isto equivale a uma média de 40 toneladas por mês (dois caminhões compactadores de material reutilizável).
Este material recolhido não é despejado no lixão da cidade, o que ironicamente contribui para aumentar a vida útil deste depósito irregular de lixo, explica o professor Ataualpa Oliveira, da área de gestão do campus de São João del-Rei do IFET (Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais). Ao retirar do mercado esta quantidade de material reciclável, a ASCAS contribuiu para prolongar a existência do lixão na medida em que deixou um espaço ocioso.
Daí porque o poder público deve apoiar a associação, que trabalha como agente público de limpesa, observa Oliveira. Desde 2005, a ASCAS ocupa um galpão da Paróquia Bom Jesus do Matosinhos, cujo aluguel é pago pela prefeitura. Porém, este local terá de ser entregue à paróquia, razão pela qual a associação está procurando outro endereço e, para isso, conta com o apoio do poder público.
Atualmente, a associação reúne 17 catadores que fazem coleta seletiva em residências, supermercados, gráficas e na própria rua, conta Maria das Graças Silva, presidente da entidade. Além disso, a empresa Bozel Mineração entrega o material reutilizável na própria sede da ASCAS.
Além da prefeitura, ao longo destes 10 anos a ASCAS atuou em parceria com a UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei) e recebeu apoio financeiro da Fundação Banco do Brasil, do antigo Banco Real (hoje, Santander), do Ministério da Educação e da FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), entre outros.
Atualmente, professores da UFSJ e do IFET orientam alunos em projetos de pesquisa e extensão junto à ASCAS. Paulo Douglas, aluno da área de gestão de tecnologia da informação do IFET, por exemplo, desenvolve projeto de mapeamento das rotas dos catadores e faz levantamento do fluxo de material reciclável por região da cidade. A partir daí, pretende desenvolver ferramentas para orientar os catadores sobre os pontos de maior oferta de material (por tipo e por região) de maneira a tornar mais produtivo o trabalho deles.
Fim do lixão - A ASCAS tem participado de discussões sobre meio ambiente e coleta coletiva, promovidas pela administração municipal, conta a voluntária Cecilia Ribeiro. Também foi iniciada uma parceria com a gestão atual na área de saúde, por meio da qual os catadores podem fazer consultas médicas, exames, vacinação etc.
Porém, continua pendente o fim do lixão, diz o professor do IFET. A política nacional de resíduos sólidos prevê que o lixão seja substituído por um aterro sanitário, onde haja manejo do material reciclável (coleta do chorume, produção de gás natural etc.). Além disso, até agora a discussão sobre a nova lei de resíduos sólidos, aprovada em 2010, não chegou à ASCAS, admite Oliveira.
A política nacional de resíduos sólidos prevê a mudança da logística do lixo no Brasil, com a eliminação dos lixões até o próximo ano. A sensibilização dos prefeitos para o cumprimento da lei é considerada um dos desafios, especialmente no caso dos lixões. Além disso, todos os municípios devem oferecer a coleta seletiva à população. A nova lei disciplina a coleta, o destino final e o tratamento de resíduos urbanos, perigosos e industriais.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mais da metade dos municípios brasileiros possuem lixões. São ao todo 2.906 lixões, que devem ser fechados até o próximo ano. Dos 5.564 municípios brasileiros, somente 766 fazem coleta seletiva do lixo.
Um exemplo de ação neste sentido é o Estado de São Paulo. No final do mês passado, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente promoveu, em Batatais (região de Ribeirão Preto), reunião com vários municípios para treinamento de como elaborar um Plano municipal de Resíduos Sólidos.