Bairros são-joanenses: Alto das Mercês e a Rua do Ouro, em três fases


Cidades

José Venâncio de Resende0

Galil (esquerda), responsável pelo Centro Catequético, e o pedreiro Didi.

O Alto das Mercês, também conhecido como Serra, e a Rua do Ouro – que simboliza mais de 300 anos de história -, em São João del-Rei, viveram três fases distintas nas últimas décadas.

A primeira fase, marcada pela atuação intensa do monsenhor Paiva, ex-pároco da Catedral do Pilar, que coordenava o catecismo num bairro pacato. A segunda, de alta criminalidade, impulsionada chegada e proliferação das drogas num ambiente de pobreza. A terceira, de maior ação política por parte de líderes da comunidade, com a redução da violência (recorde de dois anos sem homicídios), a construção de uma escola municipal e outras melhorias.

Até algumas décadas atrás, o Alto das Mercês era uma região pacata da cidade, onde monsenhor Paiva era recebido como uma personalidade, principalmente pelas crianças. Um bairro formado por famílias de renda mais baixa (assalariados e autônomos), com alguns bolsões de miséria cujas mães pediam esmolas e crianças zanzavam pelas ruas.

“Era um bairro pobre, com poucas casas e ruas esburacadas, mas não havia violência; as casas ficavam abertas e a gente brincava na rua”, lembra Miriam Ângela dos Santos, filha de Maria Irene Xavier dos Santos, a dona Irene. “Minha mãe era o braço direito do monsenhor Paiva, ajudava dona Celina Viegas nos trabalhos manuais da paróquia e pertencia ao apostolado da oração. Ela distribuía os folhetos do apostolado e o cartãozinho do dízimo, e eu a ajudava.”

Catecismo

No início dos 1970, monsenhor Paiva decidiu implantar o catecismo no Alto das Mercês, e para isso contou com colaboradores do bairro como dona Irene. Não havia local, então o pároco conseguiu alguns bancos de madeira, que eram colocados debaixo de um pé de manga na atual Rua Ricardo Geraldo dos Santos, conhecida como “rua do catecismo”. Ali, todo sábado à tarde, crianças do bairro reuniam-se debaixo da mangueira para aprender catecismo com as catequistas da paróquia do Pilar.

Em 1979, monsenhor Paiva resolveu construir um prédio, no local da mangueira, para abrigar o catecismo e atividades sociais da paróquia, conta Francisco Severiano Santos, o Didi, irmão mais velho de Miriam. “Trabalhei mais de três meses como pedreiro registrado em carteira; a construção foi rápida porque trabalhou muita gente.” O prédio, com o nome de Centro Catequético N. S. Auxiliadora, ganhou até cozinha que foi equipada com um fogão industrial conseguido pelo pároco. “Minha mãe era a responsável pelo catecismo e por cuidar do prédio”, conta Miriam.

Desde o início, as crianças que frequentavam o catecismo recebiam merenda e roupas de monsenhor Paiva e seus colaboradores. “Todo inverno ele distribuía cobertores para as crianças”, recorda Miriam. Com as novas instalações, uma sopa passou a ser feita e distribuída no próprio local. “Minha mãe buscava carne no açougue e verdura no mercado, que ela ganhava.” O pão era fornecido pela Padaria Tiradentes, que existia no centro da cidade.

Monsenhor Paiva lutava muito pelo Alto das Mercês, sempre preocupado em erradicar a pobreza, lembra Miriam. Instalou rede de esgoto, com a ajuda dos moradores; calçamento de rua; a pastoral da criança para diminuir a mortalidade infantil; o EJA (Educação para Jovens e Adultos); conseguiu que o PSF do Senhor do Monte enviasse um fisioterapeuta; e até um dentista. “O povo dependia da ajuda de alguém”, resume Miriam.

Os moradores da Serra ainda tinham acesso a medicamentos fitoterápicos fabricados na farmácia que monsenhor Paiva montou no Pilar com o apoio de irmã Maria, de Brasília. Miriam fez o curso para produzir os remédios que eram vendidos a preços baixos na paróquia. “Como moradora, eu levava remédios para o Alto das Mercês.”

Depois da primeira comunhão, por volta de 1976, Miriam passou a dar catecismo no Alto das Mercês. Exerceu esta atividade até 1984, quando se formou no Magistério. “Ainda era uma época tranquila, apesar do ambiente pobre.”

Rua do Ouro

Outra colaboradora de monsenhor Paiva foi Aparecida Maria dos Santos - a Cida da Rua do Ouro - desde que, ainda jovem, se mudou de Arcângelo, em março de 1964, para a Rua do Ouro. Dona Cida foi aluna de catecismo de dona Celina Viegas, sentada debaixo de árvore no terreno onde hoje funciona o Centro Catequético N. S. Aparecida. “Depois a gente virou catequista das crianças.”

Monsenhor Paiva adquiriu o terreno e construiu quatro salas; posteriormente, foram acrescentados mais quatro cômodos, entre eles uma cozinha onde foi instalado um fogão industrial doado. O novo prédio passou a abrigar o catecismo para crianças e adultos, conferência vicentina e até curso de costura com professoras das obras sociais da paróquia.

“Aqui, era uma pobreza danada”, resume dona Cida. Por volta de 1970, junto com o monsenhor Paiva, ela criou uma sopa diária prioritariamente para crianças, mas também para adultos necessitados. “Eu buscava ossos nos açougues e verduras nos mercadinhos para fazer a sopa.” O macarrão para a sopa era comprado com dinheiro da “pechincha” ou venda de roupas doadas. “E a gente ainda ganhava abóbora, inhame, mandioca que o senhor Geraldo da Cemig trazia da roça no carro dele.”

Essa sopa durou 16 anos, conta dona Cida, que é mãe do músico e membro da Academia de Letras de São João del-Rei, José do Carmo Santos, o Teté. “O monsenhor Paiva continuou enviando roupas doadas para vender na pechincha. Eu entregava o dinheiro na paróquia, que ele usava nas obras sociais.”

No Centro Catequético da Rua do Ouro, continua o catecismo para crianças (sábados) e adultos (quintas), além de grupo de oração, via-sacra, celebrações três vezes ao ano com a presença do pároco do Pilar, padre Geraldo Magela, e a Festa de N. S. Aparecida, em data diferente do dia da padroeira. E dona Cida continua arrecadando dinheiro da “pechincha” para as obras sociais da paróquia.

Já no Centro Catequético do Alto das Mercês, com a morte de dona Irene, o novo responsável é Antônio Francisco da Silva, o Galil, de família de garimpeiros – “meu avô veio da África com 9 anos de idade”. Ali são realizados catecismo para adultos, terço diário, a festa anual de N. S. Auxiliadora (24 de maio), vias-sacras, comemorações do Natal e até votações eleitorais. “Estamos pedindo ao novo bispo para fazer uma capela no local.”

Miriam Santos morou no Alto das Mercês até 2008. “Monsenhor Paiva lutou pelo bairro até morrer, em 2014. Minha mãe trabalhou no bairro até por volta de 2012, pouco antes de adoecer - ela morreu em 2015.”

Criminalidade

Com o início da construção da Ferrovia do Aço em meados dos anos 1970, muitos empregados de empreiteiras que trabalhavam nas obras foram morar no Alto das Mercês, e alguns deles permaneceram depois que as obras terminaram. “Tanto tinha gente boa, como gente não muito boa”, disse um morador que preferiu não ser identificado.

Assim, as drogas chegaram, devagar no início; depois, foram se alastrando pelo bairro. Atrás apareceram as armas. Adolescentes e jovens passaram a ser aliciados. “Foi onde começou a crescer a violência. A coisa esteve brava aqui em cima; começaram a matar entre eles mesmos”, acrescentou o morador.

Taiana Toussaint, que foi professora de catecismo por 10 anos e inclusive orientadora de catequistas no Alto das Mercês, retratou esta realidade na sua monografia de conclusão do curso de Direito do Uniptan em 2009. Ela procurou identificar a origem da criminalidade no bairro, envolvendo “em sua maioria desvios comportamentais de menores infratores”.

“Analfabetismo, água sem tratamento, lixo e esgoto a céu aberto, pessoas sem iluminação, doenças e desordenada condição de gestantes, principalmente na fase adolescente, mostram um bairro carente, com pessoas de baixa renda e que sofrem com a Chacina Social”, resumia autora com base em dados estatísticos.

Ela definiu “Chacina Social” como “todas as omissões e ações cometidas pelo Governo contra os direitos sociais e constitucionais de acesso à educação, saúde, trabalho e previdência social perante o cidadão, vítima de violação de seus direitos e relegados à miséria, fome, analfabetismo dentre outros”.

O Alto das Mercês localiza-se na parte alta, encostas do núcleo mais antigo e tradicional da cidade. Ironicamente, é “habitado por famílias de baixa renda desde as atividades de exploração do ciclo do ouro”, relata o estudo. Ao longo do tempo, sofreu invasões da urbanização de favelas, “que propõem contrastes relevantes”.

“É uma periferia de pouco acesso, plenamente em conflito por território, por sobrevivência em diversas atividades, conformando um estilo de vida que pode ser traduzido, de modo geral, por resistência à exclusão, e isso inclui a transgressão e o crime”, resume a autora. Trata-se de um “bairro dividido por pobres e miseráveis, com poucas ruas asfaltadas e até mesmo sem calçamento, falta de poder público, transporte, lazer, creches, escolas, praças e até mesmo saneamento básico adequado”.

O estudo identificou, com base em informações de moradores, que, nesta “área ´ladeirosa´ onde as subidas e decidas marcam frequentemente o fim de uma comunidade e o início de outra, há dificuldades de acesso às ambulâncias, trânsito e viaturas. Também nota-se que a arquitetura auxilia a vigilância dos chamados ´líderes do tráfico´ e até mesmo as fugas por ter lugares desconhecidos pelas autoridades e que somente os moradores conhecem”.

A característica do Alto das Mercês decorre da sua história, segundo o estudo. Surgiu “em meio às locas de pedras, denominadas ´betas´, onde até hoje é possível encontrar ouro. De fato, esse tipo de relevo propicia também a disseminação da criminalidade, pois o que servia de local para extração do minério, hoje, segundo os próprios moradores, serve para esconder foragidos, drogas, armas e até mesmo para ocasionar tentativas de homicídios”.

Segundo dados do PSF (Programa de Saúde da Família) citados no trabalho, “o alcoolismo marca a precariedade da população, acoplado à tão comum utilização de tóxicos no bairro”, o que é responsável pelo alto índice de criminalidade. Percebem-se também “as demais doenças agregadas à falta de recursos de estrutura social”.

“A realidade é feita de carências em todos os sentidos”, constata o estudo. “Diante de signos de pobreza e exclusão social, tudo contribui para a disseminação da criminalidade, seja as condições precárias de moradia, com os becos, betas, enfim, o cotidiano de crianças e adolescentes nas mãos de uma comunidade com muito pouco a oferecer-lhes.”

Tudo isso fez com que o bairro Alto das Mercês fosse considerado “uma área de risco” pelo Batalhão da Polícia Militar. “Estes crimes e infrações envolvem, em sua maioria, menores, seja nas tentativas de homicídio, furtos, roubos, tráfico de entorpecentes entre outros”, conclui o estudo.

Prática política

Em 2008, dona Cida da Rua do Ouro candidatou-se a uma vaga na Câmara Municipal de São João del-Rei, por sugestão do pároco do Pilar. “Às primeiras sextas-feiras de cada mês, eu acompanhava o monsenhor Paiva para todos os cantos do morro quando ele ia fazer visitas aos doentes.”
Um dia, monsenhor Paiva perguntou a dona Cida: “Por que você não se candidata a vereadora, para mandar arrumar esses caminhos?” Ela aceitou o desafio e venceu a eleição.

Dona Cida conta que, com o apoio do deputado Domingos Sávio e a ação do prefeito Nivaldo Andrade, conseguiu abrir as ruas Alterosa, José Valentim, Monte Negro, Lavras e dos Minerais, esta última atrás do Centro Catequético N. S. Auxiliadora. “Durante a campanha, prometi fazer a Rua José Valentim, para unir o Alto das Mercês e a Rua do Ouro porque havia muita rivalidade.”

Assim, no final da Rua José Valentim, foi demolida uma escadaria e feito um aterro, possibilitando a ligação entre as partes alta e baixa do bairro, englobando partes da Rua do Ouro e das ruas que fazem divisa com o bairro Senhor do Monte. Por iniciativa de dona Cida, também foram instalados 1300 metros de esgoto nas ruas José Valentim e Lavras, ligando com o esgoto feito pelo monsenhor Paiva.

“Ruas de lazer”

Em 2015, o líder comunitário Marcos Luís das Dores, o Kiko, assumiu a presidência da Associação Renascença do Bairro Alto das Mercês (ARBAM). A ARBAM foi fundada por volta de 2000 e teve como seu primeiro presidente Ubaldo do Carmo Fátima. Passou por mais duas diretorias antes de Galil assumir a presidência em 2009. “Foi na minha época que a associação foi registrada.”

Kiko – que é intérprete de samba-enredo na Escola de Samba Bate Paus - identificou que havia muita rivalidade entre moradores do Alto das Mercês e da Rua do Ouro. Daí a ideia de criar o movimento “Amigos da Comunidade”, cujo alvo eram atrair as crianças e aproximar a Serra da Rua do Ouro.

A primeira ação foi promover três eventos denominados “ruas de lazer”. O primeiro, realizado no Alto das Mercês, foi o “Natal solidário”, que aconteceu num 23 de dezembro na Rua José Valentim, e contou com a presença de crianças da Rua do Ouro.

“Então, tentamos levar as crianças da Serra à Rua do Ouro onde aconteceu a festa do Dia das Crianças.” Já o terceiro evento foi de novo promovido na Serra, próximo do Natal. “A gente pedia donativos (para realizar os eventos) como brinquedos, saquinhos de pipoca, refrigerantes, pão e salsicha para cachorro quente.”

Ao ganhar visibilidade, o grupo “Amigos da Comunidade” foi convidado a participar das reuniões da ARBAM. Foi assim que, em janeiro de 2015, Kiko assumiu a presidência da associação, com membros do seu grupo integrando a nova diretoria.

As primeiras reuniões foram realizadas no “prédio do catecismo” do Alto das Mercês, construído por padre Paiva. Como o local não era oficialmente a sede da associação, as reuniões seguintes passaram a ocorrer em casas dos associados.

Uma das primeiras decisões foi adotar uma política de caráter mais reivindicatório e participativo. Não havia sentido a associação substituir o poder público no trabalho de assistência social, alega Kiko. Outra medida foi alargar o corpo de associados, incluindo a comunidade da Rua do Ouro, já que o estatuto da ARBAM falava em Bairro do Alto das Mercês e “adjacências”.

“Esta foi uma sugestão do pessoal (professores e alunos) da Universidade, para tornar o bairro mais forte”, conta Kiko. A UFSJ desenvolve, desde 2009, projetos culturais e sociais no Fortim dos Emboabas – remanescente de fortificação que serviu para entrincheiramento de portugueses durante a Guerra dos Emboabas entre 1707 e 1709. A casa foi doada à Universidade pelo contra-almirante Max Justo Guedes (falecido em novembro de 2011) com este compromisso.

Com base nessa linha reivindicatória, Kiko procurou a Assistência Social e o então prefeito Helvécio Reis. A relação com o poder público municipal passou a ser formalizada, por meio de ofícios. Os resultados começaram a aparecer. Foi atualizado o cadastro do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), as ruas foram identificadas com os seus respectivos nomes, melhoraram-se a capina e a iluminação das ruas com a instalação de postes e luminárias.

Nova sede

Uma casa abandonada, na Rua Toledo, que servia de ponto de droga e prostituição, despertou o interesse de Kiko. “Procuramos a Polícia para explicar o nosso trabalho. Conversamos com o prefeito Helvécio Reis e, orientados por ele, fizemos uma limpeza no imóvel.”

Em 2016, a associação promoveu sua primeira festa junina, que durou três dias, para arrecadar recursos para saldar uma dívida de R$ 3 mil com o Imposto de Renda, por conta de não-declarações anteriores. “A festa foi bastante concorrida, inclusive com participação da Rua do Ouro. Arrecadamos 80% do valor necessário e dois professores da Universidade arcaram com a diferença da dívida.”

O sucesso e a tranquilidade desta primeira festa fizeram com que o evento passasse a fazer parte do calendário anual de festas do bairro, conta Kiko. Outra festa importante é a de Nossa Senhora Auxiliadora, em maio.

As festas juninas passaram a ser uma das fontes de arrecadação de recursos para a reforma da sede; a outra são doações, diz Kiko. “Saímos atrás de material, como cimento, areia, blocos e cascalho, e conseguimos muita coisa por doação. A mão de obra é de pedreiros da comunidade.”

Assim, foram construídos um salão de reuniões/eventos – falta acabamento - e um espaço externo para futuras oficinas de artes e profissionalizantes, relata Kiko. “As aulas de Jiu Jitsu, capoeira, zumba e percussão começaram este ano para crianças e adultos.

Na parte superior do prédio, haverá espaço para cursos de corte e costura; já temos 12 máquinas de overloque industriais.” As máquinas foram conseguidas por dona Cida, quando vereadora, junto ao ex-deputado Rômulo Viegas, e encontram-se guardadas no Centro Catequético N. S. Auxiliadora.

Sem homicídios

Uma das principais iniciativas da ARBAM é a criação do “Índice de não-homicídio” no bairro, destaca Kiko. No período 2016-2017, depois da morte do comerciante Baju (dono de mercearia), “nós ficamos dois anos seguidos sem nenhum homicídio. No final de 2017, morreu um menino, e até agora não temos mais homicídios”.

Este é um forte argumento para exigir o aumento dos horários de ônibus da linha que passou a circular no Alto das Mercês (trajeto entre Cohab e Hospital das Mercês, passando por Senhor do Monte). “Agora, com o baixo índice de criminalidade atestado pela Polícia, vamos voltar a reivindicar da empresa novos horários, inclusive à noite”, diz Kiko.

No início do segundo mandato em 2018, Kiko promoveu a festa do dia dos pais, na sede da associação, já que não foi possível realizar a festa junina. “Tivemos diversas atrações como sertanejo, pagode e a bateria do mestre Pitu (Bate Paus e Reggae da Periferia). Foi um sucesso, cerca de 800 pessoas, veio gente de todas as partes da cidade e mesmo de fora.”

Segundo Kiko, as novas demandas, embora não sejam de grande complexidade, esbarram num problema político-administrativo: o fato de o Alto das Mercês/Rua do Ouro não ser considerado oficialmente um bairro – parte pertence ao Senhor do Monte e parte ao Tijuco.

Um desses problemas é a existência, ainda, de grande quantidade de fossas no bairro, diz o líder comunitário. “Nosso desejo é que se fizesse fossa céptica ou rede de esgoto.” Outras demandas são praças, calçadas, quadras, regularidade na conservação (capina e limpeza) de ruas, recuperação ou fechamento de betas abandonadas que ameaçam ruir em área urbana etc.

Escola Municipal

O terreno número 111 da Rua do Ouro foi comprado pelo padre Paiva, com a intenção construir uma farmácia de fitoterápicos, mas ele desistiu por conta idade entre outras razões, conta dona Cida. “Eu era vereadora e soube que o Nivaldo queria um terreno para construir uma escola.”

Então, dona Cida sondou padre Paiva sobre a possibilidade de vender o terreno. “Ele consultou o padre Geraldo Magela (novo pároco), que aceitou vender, e a Prefeitura comprou. Aí eu corri atrás da ANVER para fazer a planta da escola, antes do ano eleitoral. Consegui a planta, que acabou sendo modificada, para melhor – deu para fazer dois andares.”

A construção da escola municipal abre novas perspectivas para o bairro. A obra teve início no primeiro semestre de 2018, com recursos próprios da Prefeitura. Recentemente, foi paralisada por algumas semanas devido à necessidade de remanejamento de recursos para pagar funcionários por causa do atraso no repasse de recursos por parte do governo estadual.

A expectativa da secretária de Educação, Cintia Leite, é de que – passada essa paralisação momentânea - a obra seja concluída e o prédio seja equipado este ano, a tempo do início das atividades escolares em 2020. Quanto ao pessoal, o último concurso já previu a contratação de funcionários (professores, especialistas, auxiliares e assistentes) para a nova escola.

A escola vai receber 250 alunos do infantil (4 e 5 anos) ao ensino fundamental. Assim, as crianças não precisarão deslocar-se para a Escola Municipal Maria Teresa. As crianças vão estudar perto de sua residência, atendendo ao zoneamento previsto pela Secretaria Estadual de Educação, explica Cintia Leite.

Serão 828 metros quadrados de área construída, com cinco salas de aula, sala de informática, biblioteca, secretaria, diretoria, sala de professores, arquivo, banheiros masculino e feminino, refeitório, cozinha, dispensa, área de serviço, vestiário e área de recreação, além de acessibilidade dentro dos parâmetros legais.

Histórico

O Alto das Mercês e a Rua do Ouro fazem parte de uma área retangular, que se estende do bairro Senhor do Monte ao Tijuco e do ribeirão São Francisco Xavier ao córrego do Lenheiro, onde outrora houve uma grande região de mineração, define o professor Antônio Gaio Sobrinho do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei. “O nome rua do Ouro remonta ao século XVIII, quando o arraial do Rio das Mortes surgiu em função da mineração.”

O nome (Rua do Ouro) é significativo desse ponto de vista de remeter às origens de São João del-Rei, enfatiza Antônio Gaio. “Faz lembrar que naqueles contrafortes da Serra do Lenheiro surgiu o arraial. No vale, corre o ribeirão São Francisco Xavier onde foi encontrado o primeiro ouro de aluvião nessa região. Logo na sequência, foi descoberto ouro na localidade que é hoje o Alto das Mercês.”

Ali se encontrava ouro “até na raiz do capim”, como disse o memorialista José Matol, citado por Antônio Gaio. “Esse ouro se abundou em várias direções, inclusive Senhor do Monte, descendo na vertente do Buraquinho (atual rua Inácio Alvarenga) onde está a rua do Ouro.”

“Eu acho fantástico esse nome (rua do Ouro) porque carrega uma história de 300 anos na qual escravos derramaram suor e sangue”, observa o historiador. A mineração foi diminuindo de ritmo e a região foi se transformando em local de casas simples, muitas delas habitadas por descendentes de escravos, acrescenta.

O acesso à rua do Ouro se fazia pela antiga rua da Lage, atual Homem de Almeida, aberta em 1784 pelo capitão Inácio Antônio da Cunha, português nascido na Ilha do Fayal no arquipélago dos Açores (Revista do IHG-SJDR, Volume VI, 1988).

 

 

 

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