Admirado por sua beleza e pelo porte majestoso, o Campolina está na origem da criação de cavalos de raça em Resende Costa

Ademarzinho Aarão dá continuidade à obra iniciada por seu pai, Aldemar Augusto Aarão


André Eustáquio


Ademarzinho Aarão com o garanhão Cromo do Pinheiro, da raça Campolina (Foto arquivo pessoal)

Na mesinha do centro da sala da casa do fazendeiro Aldemar Augusto Aarão Filho, o Ademarzinho, encontra-se um porta-retratos com uma antiga fotografia do seu pai, o pecuarista e criador de cavalos Aldemar Augusto Aarão, falecido em janeiro de 2008 aos 91 anos, montado num belo e imponente animal. A fotografia em preto-e-branco é de 1945 e foi tirada em frente a um dos galpões do Parque de Exposições da Gameleira, em Belo Horizonte. Ademarzinho iniciou a nossa conversa mostrando essa foto e falando da paixão do seu pai pelos cavalos. “Desde a adolescência ele começou a mexer com cavalos. Ele falava que cavalo sempre foi a sua paixão.”

A fotografia do sr. Aldemar Aarão no Parque da Gameleira é um registro histórico do início da criação de cavalos de raça em Resende Costa. Pode-se considerar que ele foi o pioneiro no município de uma atividade que reúne hoje diversos criadores das raças Campolina, Mangalarga Marchador, Piquira e Pêga. Ademarzinho lembra-se de seu pai contar que levou o cavalo a Belo Horizonte com algumas dificuldades: “Ele contava que em determinada parte do trajeto teve que embarcar o cavalo num trem.”

A paixão do sr. Aldemar Aarão pelos cavalos o motivou a ingressar-se, no final da década de 1960, na Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador. “No início, ele registrou umas éguas Mangalarga e Campolina. Mas depois, com o tempo, ele mudou em definitivo para Campolina”, conta Ademarzinho. A escolha do sr. Aldemar pelo cavalo Campolina se deu, inicialmente, pelo porte do animal. “Ele achava o Campolina um cavalo mais bonito, mais altivo.” Mas houve outras influências, conforme diz Ademarzinho: “Teve também a influência dos criadores de Entre Rios de Minas, que fica perto da terra dele (o sr. Aldemar era natural de Desterro de Entre Rios). Ele era amigo de muitos criadores de Entre Rios.”

 

Características da raça

O cavalo Campolina chama a atenção por sua beleza, elegância e perfil majestoso. A sua origem vem de uma linhagem “imperial”, conforme registra o site oficial da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Campolina (ABCCC). “Em 1870, Cassiano Campolina (1836-1904), natural de São Brás do Suaçuí, do termo de Entre Rios de Minas/MG, ganhou do Imperador D. Pedro II a égua Medeia. Ela estava prenhe de um garanhão Andaluz e desse acasalamento nasceu Monarca, cavalo que, na fazenda do Tanque (propriedade de Cassiano Campolina em Entre Rios de Minas), contribuiu decisivamente na formação da raça Campolina.”

O objetivo de Cassiano era “criar cavalos de grande porte, ágeis, resistentes e de beleza inigualável.” Para conseguir chegar ao seu objetivo, ele cruzou e selecionou raças de cavalos Puro Sangue Inglês, Anglo-Normando e animais de origem ibérica.

Ademarzinho Aarão destaca as características do cavalo Campolina: “Eu destaco a docilidade, o andamento marchado e o assento bom. É um cavalo bom pra cavalgada, bom de mexer com ele e de criá-lo.”

Ademarzinho admite que existe certa rivalidade entre os criadores das raças Campolina e Mangalarga. “Existe uma certa ‘política’ entre Mangalarga e Campolina, igual a Atlético e Cruzeiro (risos).” Ele, porém, completa: “Mas comigo não tem nada disso. Gosto de cavalo bom.”

 

Tradição familiar

Ademarzinho Aarão herdou do seu pai, ainda na infância, a paixão pelos cavalos. Ele se lembra das inúmeras vezes em que veio montado a cavalo à cidade para assistir às aulas na Escola Conjurados Resende Costa: “Meu pai tinha um pasto onde hoje é a Prefeitura Municipal. Era lá que a gente soltava os cavalos para ir à escola.” Seguir, portanto, os passos do pai não foi uma decisão difícil para ele. “Eu faço por gosto. Já pensei em parar, mas penso no quanto meu pai gostava. Era a paixão dele”, diz o fazendeiro, admirando a antiga foto do sr. Aldemar montado em um elegante cavalo. “Olha esse cavalo, ele tem todo o porte de um Campolina”, observa Ademarzinho

Ademarzinho Aarão reside com sua família na Fazenda Boa Esperança, próxima à cidade e ao povoado do Barracão. Além de cavalos, ele cria gado de corte das raças Nelore e Guzerá. “Eu crio os cavalos na Fazenda Boa Esperança, mas o meu sufixo (espécie de identidade de cada criador) é o mesmo do meu pai, da Fazenda do Pinheiro, (propriedade do seu irmão Aldemir Aarão). Portanto, todos os animais que eu crio têm esse sufixo”, explica Ademarzinho, que mostra a foto de uma bela égua Campolina, chamada Inédita do Pinheiro, que ele vendeu em 2007 por 22 mil reais. “Essa égua foi campeã em Itaipava (RJ). Ela nasceu lá em casa”, conta orgulhoso.

Ele contou também que em 2001 vendeu uma égua e, com o valor apurado na época, dava para ele comprar 14 vacas leiteiras. “Hoje a gente insiste, mas com o crescimento do número de criadores, aumentou muito a oferta. Na nossa região tem muitos criadores”, ressalta Ademarzinho. “Antigamente, quem criava cavalos eram somente os fazendeiros que, paralelamente à boiada, tinham os cavalos para a lida na roça. Hoje isso mudou, surgiram também os empresários que investem forte”, diz.

Atualmente, criar cavalos deixou de ser uma atividade tipicamente rústica e vem exigindo dos criadores alto nível de profissionalização e modernização no campo. “Hoje profissionalizou muito. O haras precisa ser bem montado, com transporte adequado para os cavalos, equipe qualificada, veterinário, farmácia, etc. Antes era uma coisa mais rústica”, diz Ademarzinho. Ele possui em sua fazenda 23 cavalos registrados, mas planeja diminuir o plantel. “Quero passar para uns 15. O meu objetivo é selecionar cada vez mais. Ter menos quantidade e mais qualidade.”

 

Mercado

De acordo com Ademarzinho, a crise econômica que atinge o Brasil vem afetando o mercado de compra e venda de cavalos. “Já teve melhor, mas devido à crise deu uma estagnada. O mercado ficou bem parado.” Mas o cenário, segundo ele, não é dos piores. “Apesar da crise, para você ter uma ideia, o dono de uma loja de produtos agropecuários em Resende Costa me disse que hoje ele vende mais ração para cavalo do que para vaca.” Além do Ademarzinho Aarão, há mais dois criadores de cavalos da raça Campolina em Resende Costa associados à ABCCC: Cláudio Roberto, filho do Roberto da Fazenda Catimbau, e Geraldo Mendes de Almeida Filho, o Ladinho da Copasa.

 

Onde o sistema é bruto

Com o advento da tecnologia no campo, o cavalo deixou de ser a imprescindível força de trabalho e meio de transporte nas fazendas. Veem-se hoje tratores, motos e caminhonetes ocupando o lugar onde antes reinavam o cavalo e o carro de boi. “O cavalo hoje é como hobby. A gente não encontra mais cavaleiros nas estradas. Na verdade, nem existem mais estradas de cavaleiro”, lamenta Ademarzinho. Ele se lembra do seu pai contar que, quando começou a criar cavalos, foi muito criticado. “As pessoas o criticavam dizendo que era loucura, que era melhor ele criar vacas. Mas era a paixão dele e hoje é a minha.”

Aos 55 anos, o filho mais velho do sr. Aldemar Augusto Aarão tem orgulho de dar prosseguimento à obra deixada por seu pai. Seguindo os padrões da raça Campolina, Ademarzinho investe em seu plantel com o objetivo de obter os melhores cavalos. “Através do melhoramento genético, o Campolina tornou-se hoje um animal de médio porte e com mais funcionalidade. Mas ele não pode ser muito pequeno, porque senão foge dos padrões da raça, que é um animal maior”, explica. Ele já tentou a técnica de inseminação artificial em seu plantel, porém não obteve sucesso. “Tentei três vezes, mas não dei sorte. Na verdade, prefiro mesmo o processo natural de cruzamento”, diz.

Ademarzinho Aarão dá um conselho a quem deseja começar a criar cavalos. “Primeira coisa: tem que gostar. Se você pensar somente em dinheiro, você não cria cavalo. Criar cavalo não fica barato. Tem que gostar e se dedicar. Às vezes, o cara vai a um leilão cheio de glamour, regado a cerveja e música e fica entusiasmado. Eu costumo dizer pra ele: ‘Pé no chão porque na fazenda não é bem isso. Lá o sistema é bruto.’”

 

Leia mais sobre as origens da raça Campolina em www.campolina.org.br (site oficial da ABCCC).

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