Casarão dos antigos hoteis, no centro histórico de SJDR, com fachada praticamente restaurada.


Cidades

José Venâncio de Resende0

Casarão perto da Ponte da Cadeia, no centro histórico.

O imponente casarão dos antigos hoteis, na esquina da rua Artur Bernardes com rua Manoel Anselmo - próximo da Ponte da Cadeia no centro histórico de São João del-Rei -, está com sua fachada quase praticamente restaurada. Já a reforma interna deverá ficar pronta ainda neste semestre, pelo menos esta é a expectativa do empresário Vicente Roberto de Carvalho, que comprou o imóvel em outubro do ano passado.

O piso do casarão será alugado para lojas, diz Vicente. Sobre os andares superiores, o empresário está aberto a ofertas para a locação dos espaços. “Vai depender do interessado. Pode ser hotel, minishop, academia, cursinho universário e até mesmo kitinetes para estudantes.”

O corretor do imóvel é Washington Luís Ostinho, da WLS Imobiliária, responsável tanto pela sua aquisição quanto pelo aluguel dos espaços.

Hoteis e pensões

O casarão é um remanescente dos numerosos hotéis e pensões que existiram na mineira São João del-Rei, conta José Antônio de Ávila Sacramento, membro da Academia de Letras. “Trata-se do então "Grande Hotel Central", inaugurado no ano de 1886 sob a direção de Barreto & Anselmo de Oliveira, que utilizou o espaço físico de um prédio de três andares construído pelo último capitão-mor de São João del-Rei, João Pereira Pimentel (falecido em 1832).”

Em 1892, o casarão foi adquirido por Santo e Valentim Martinelli, e passou a ter a denominação de "Grande Hotel Martinelli". Depois, transformou-se no "Hotel Caputo" e finalmente, num passado não tão distante, em "Hotel Colonial".

Fato histórico

Ávila cita um fato interessante que ocorreu no imóvel em 23 de abril de 1889. A comitiva do ferrenho republicano Antônio da Silva Jardim foi hostilizada desde a chegada do trem a São João del-Rei. Já na chegada, na estação ferroviária, uma multidão gritava louvores à monarquia, ao imperador D. Pedro II e à princesa Isabel.

Naquela data, Silva Jardim foi violentamente impedido pelos monarquistas são-joanenses de discursar da sacada do Grande Hotel, onde estava hospedado. Segundo o jornal “Arauto de Minas” (28/04/1889), os partidários da República aplaudiam Silva Jardim, que já se preparava para iniciar a sua pregação republicana, quando partiu da rua, em resposta, um furioso Zé Pereira, batendo latas de querosene para abafar a voz do orador, que assim não conseguiu concluir o seu discurso.

As manifestações continuaram noite a dentro, importunando o jantar dos republicanos, prossegue o jornal. Um deles ousou atirar uma garrafa da janela para a rua. Os monarquistas responderam atirando pedras e a tensão aumentou, com o início de um tiroteio que danificou as vidraças. Houve tentativa de incendiar o hotel com salitre e enxofre, deixando os republicanos encurralados. O enfrentamento não deixou feridos, mas Silva Jardim e sua pequena comitiva tiveram de sair de São João del-Rei sorrateiramente, às pressas.

Ávila fotografou, em 3 de abril de 2017, antigas mangas (arremates de gradis em forma de pinha) varadas por tiros, provenientes da sacada do hotel, que “são amostras fiéis da agressiva recepção que teve o exaltado propagandista republicano por parte dos monarquistas são-joanenses. Estas peças pertencem ao acervo remanescente do Museu Municipal Tomé Portes (de São João del-Rei - MG)”.

 

 

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