Ciclistas do grupo Lagartixas Bikers percorrem os “Caminhos de São Tiago”

Oito mulheres percorreram durante quatro dias cerca de 250 quilômetros entre Ouro Branco e São Tiago


Vanuza Resende


Em Resende Costa, Teti, Fátima, Cristiane, Priscila e Ana Carolina, do grupo Lagartixas Bikers, receberam as meninas

Um desafio concluído com sucesso. Assim pode ser descrito o trajeto do “Caminhos de São Tiago”, recém inaugurado, percorrido pelas ciclistas resende-costenses que se aventuraram por quatro dias entre dez cidades da região. A ideia de percorrer a totalidade do Caminhos de São Tiago partiu de uma das integrantes do grupo Lagartixas Biker’s, Lucilene Aparecida Gama da Silva, a Lu, inspirada pela ciclista Germana Vargas, da cidade de Oliveira, que pedalou pelo caminho entre os dias 13 e 15 de agosto último.

Além de Lu, Adriane Aparecida Silva Resende, Bianca Natane Resende, Daniela Regina Resende, Daniane Mariane Resende, Érica Leonor Martins, Ivânia Aparecida de Oliveira Silva e Silvânia de Fátima Resende Oliveira também participaram da aventura. Apoiadas por Leandro Tomé da Silva, que acompanhou o pedal das meninas em um veículo.

Entre os dias 04 e 07 de setembro, as ciclistas pedalaram cerca de 250 km, com paradas noturnas em três cidades: Casa Grande, Lagoa Dourada e Coronel Xavier Chaves. A reportagem do JL manteve contato com as ciclistas todos os dias e elas contaram um pouco de cada dia de pedal.

 

Primeiro dia – Muito trânsito e ansiedade para os próximos quilômetros

As ciclistas saíram de Resende Costa no dia 03 de setembro e dormiram em Ouro Branco para iniciarem o percurso no dia 04, pela manhã. No primeiro dia, elas percorreram 70 km, até chegarem a Casa Grande. De acordo com Adriane Resende, o primeiro dia de pedal foi marcado por muitos morros durante o percurso. “A primeira impressão que eu tive foi sobre os morros. Resende Costa não tem subidas como essas. Já temos a visão de como vai ser o caminho, mas também tivemos muitas descidas. Foi gostoso demais”. Já a Lu destacou as dificuldades com o trânsito. “Até chegar a Conselheiro Lafaiete, achei o trânsito muito pesado, foi mais tenso do que Ouro Branco, mas compensou muito. A igreja à qual chegamos é muito linda”. Daniane também elegeu o trânsito de Conselheiro Lafaiete como a maior dificuldade encontrada no primeiro dia do percurso. “Com certeza, a parte mais difícil desse primeiro dia foi o trânsito que enfrentamos em Conselheiro Lafaiete. Foi um pedal puxado como um todo. Mas passamos por um povoado, chamado Maracujá, que foi uma delícia. A água de coco de lá salvou a gente. Passamos por paisagens maravilhosas, estou amando e já ansiosa pelo dia de amanhã.”

No final do dia, a recepção em Casa Grande contou com a hospitalidade da Dona Madalena, que recebeu as ciclistas e proporcionou uma boa noite de descanso. A cidade está na Onda Vermelha do Programa Minas Consciente, que restringe o funcionamento de bares e restaurantes. Com isso, elas contaram com a receptividade mineira, que certamente fez toda a diferença. “Dona Madalena mora no local e aluga quartos. Como estava tudo fechado, ela fez uma janta para a gente e foi ótimo!”, destaca Daniela.

 

Domingo - o dia eleito como o mais difícil

O segundo dia foi considerado pelas ciclistas como o mais pesado. Adriane, que já havia falado dos morros no primeiro dia, se surpreendeu com os vários morros entre Casa Grande, Entre Rios de Minas e Lagoa Dourada, um total de 83 km. “Ontem eu falei que não existia morro em Resende Costa e continua a mesma coisa. Só tem morro, muito pesado. Um caminho muito difícil, mas muito bonito. Porém, está valendo cada segundo. Estamos perto de pessoas bacanas, estamos sofrendo, mas nos divertimos muito.”

Daniela guardou um pouco de fôlego para conversar com a reportagem, mas, pelo áudio enviado, era nítido todo o esforço daquele dia. “Eu já estava imaginando que hoje seria pesado, para mim está sendo muito sofrido. A gente está a 20 km de Lagoa Dourada e eu estou fazendo de tudo para não ir para o carro de apoio, a coisa está feia. Estamos muito cansadas. Hoje não tivemos trânsito como ontem, mas o caminho é muito pesado mesmo. Não está fácil.” Se a hospitalidade mineira fez a diferença no primeiro dia, no segundo, uma expressão que os mineiros conhecem definiu bem o dia: “mortas com farofa”. Chegamos a Lagoa Dourada por volta das 19 horas. Hoje o sol e a quantidade de morro judiaram”, reveloua ciclista.

 

Meio do caminho – Resende Costa entre as cidades

Lagoa Dourada, Resende Costa e Coronel Xavier Chaves – total de 42 km. Essa é uma parte mais conhecida do percurso e, por isso, proporciona a sensação de certo alívio às ciclistas. Em Resende Costa, as ciclistas pararam no Mirante das Lajes e foram recebidas por algumas integrantes do grupo Largatixas Bikers. Algumas delas também aproveitaram o momento para se encontrar com familiares. Desde o inicio, o grupo já havia planejado não dormir em Resende Costa, para que no outro dia não houvesse riscos de desanimarem de concluir o trajeto.

Danianea valiou o percurso. “Por estarmos em caminhos que a gente já conhece, hoje foi mais tranquilo. O percurso inteiro é muito bonito. O calor é que está atrapalhando. Porém, é muito bonito mesmo. O trajeto tem tudo para ser sucesso, pois as paisagens são maravilhosas.”

 

Terça-feira – quarto e último dia

No último dia, um trajeto de 55 km, as ciclistas passaram por Coronel Xavier Chaves, Ritápolis e São Tiago. Elas se depararam com uma ponte quebrada. “Nós nos deparamos com um tóten (marco) sem seta e não sabíamos para qual direção ir. No entanto, havia duas setas pintadas em uma madeira, estando escrito: ‘Caminhantes e veículos’. Optamos por seguir a que indicava‘caminhantes’. Não sei se onde estava indicando ‘veículos’ havia tóten, mas, como optamos por ir pelo trajeto dos caminhantes, tivemos que desbravar um rio porque a ponte estava quebrada. Saímos em um curral, para depois irmos para o asfalto, que já estava sinalizado novamente”. Daniela descreve o episódio, que as ciclistas chamaram de “perrengue”.

A sensação das ciclistas após concluírem o percurso foi de alívio e também de gratidão pela missão cumprida. Bianca falou sobre a experiência. “Falar que não teve perrengue é mentira, porque teve. O sol castigou demais nesses dias todos. O segundo dia foi o pior, com muito morro e muito sol. Mas compensa demais fazer! Uma aventura, um desafio pessoal. A paisagem pede para a gente parar e contemplar! A sinalização está boa, com exceção de poucos trechos. Chegamos sãs e salvas. Foi emocionante! Desce até uma lágrima quando a gente chega aqui e vê a linha de chegada.”

Lucilene, que teve a ideia de fazer o percurso, falou sobre as dificuldades encontradas pelo grupo, porém elogiou o passeio e o descreve como “excelente”. “Não foi fácil, como nada na vida é fácil. Cansaço, irritações, calor. Eu tive um tombo hoje. Fazer o quê? Na vida, levamos vários tombos; entretanto, temos que nos levantar e chegar onde se pretende chegar. Foi muito bom, valeu muito a pena!” Já a Ivânia chamou a atenção para os desafios encontrados ao longo dos quatro dias. “Os dois primeiros dias foram muito tensos, até porque não conhecíamos o caminho. Quando eu cheguei a Lagoa Dourada, pensei em desistir. Mas a sensação de chegar aqui em São Tiago é muito emocionante. Ficamos muito felizes de conseguir enfrentar todas as nossas dificuldades.”

No final do percurso, só agradecimentos: “Com a glória de Deus, conseguimos vencer. Eu pensei que não chegaria nem no segundo dia. Hoje me sinto uma vencedora”, declarou Silvania.

No Instagram @lagartixasbikerc é possível acompanhar algumas lives que contam a experiência do grupo desbravando o Caminhos de São Tiago. O percurso entre a cidade de Ouro Preto, na região Central do Estado, e São Tiago, na região do Campo das Vertentes, pode ser feito a pé, de bicicleta, a cavalo e de carro. Inspirada no místico Caminho de Santiago de Compostela, na Galiza (Espanha), a nova rota turístico-religiosa atravessa 11 municípios numa extensão de 274 quilômetros, a maioria na zona rural.

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