Conselho de Preservação do Patrimônio pede "retirada imediata" dos jornais murais do Centro Histórico de SJDR

Entre os atingidos, está o "Jornal do Poste", o mais antigo e tradicional da cidade


Cidades

José Venâncio de Resende0

fotoJornal do Poste, de São João del-Rei, MG.

A presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, Ruth do Nascimento Viegas, enviou ofício ao prefeito Nivaldo Andrade, solicitando "a retirada imediata dos jornais de parede do Centro Histórico de São João del-Rei, principalmente o da sede da Prefeitura de São João del-Rei". O ofício tem data de 1º de junho, segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal. 

São João del-Rei tem tradição em jornais de parede ou murais. Atualmente, existem cinco jornais murais na cidade: Jornal do Poste, Folhão, Progresso, Alliança e Jornal dos Sinos

O mais famoso é o "Jornal do Poste", fundado em 1958 e portador do Prêmio Esso de Jornalismo. Uns falam que foi inspirado em ´O Malho´, outros dizem que foi em ´O Cacete´ - “publicação apócrifa e manuscrita, que circulou na cidade lá pelos anos 20, afixada em postes", conta Antonio Emilio da Costa, do blog Direto de São João del-Rei (https://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com.br/). "Diz a lenda que esse folheto, de uma só página e manuscrito, era redigido por uma mulher, com o objetivo de fazer denúncias, principalmente do que julgava hipocrisia da sociedade local e mal comportamento alheio", prossegue Antonio Emilio.

Já o Jornal do Poste foi obra de outra "figura lendária, o fiscal fazendário e dono do Bar Bife de Ouro, João Lobosque Neto, para os são-joanenses Joanino Lobosque", prossegue o blogueiro. A redação do Jornal do Poste "era no próprio bar, onde Joanino, durante as madrugadas, ouvia os noticiários de rádio e, em meio a jiboias de criação, redigia - com versão pessoal - as notícias que divulgava, logo o dia clareasse, nos murais." 

Ainda segundo Antonio Emilio, do ponto de vista de sua conduta de funcionário público, quem conheceu Joanino nos velhos tempos "relata que era exemplar. Penalizava com neutralidade e igual rigor tanto os comerciantes ricos quanto ´ladrões de galinha´".

"Para o ´jornalista´ Joanino Lobosque, São João del-Rei era mais importante do que Roma, Paris e Nova Iorque, pois, como declarava para definir sua linha editorial, ´uma briga num bar aqui é mais importante do que uma revolução outro lado do mundo."

De acordo com Antonio Emilio, o Bar Bife de Ouro fechou suas portas há muito tempo e Joanino faleceu há décadas. "Mas o Jornal do Poste, patrimônio cultural da cidade onde os sinos falam, continua vivo em São João del-Rei. Ainda datilografado com fontes grandes e manchetes escritas a pincel atômico azul, preto ou verde, está cada vez mais enfraquecido - é verdade - pela concorrência desleal dos atuais meios de comunicação de massa, que tudo transmitem, a mil vozes, em tempo real."

Desde 1991, o Jornal do Poste  pertence a Cláudio José Monteiro.

O prefeito Nivaldo Andrade disse que só retira os jornais de parede do centro histórico "se houver decisão judicial". Ele considerou a solicitação do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural como descabida e que até fere a liberdade de imprensa. Os jornais murais são "patrimônio cultural da cidade". O jornalista Aloisio Morais, do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, disse que é um "atentado ao direito de informação".

 

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