Conversa com Cláudio Ruas, colunista de gastronomia do Jornal das Lajes, sobre a “Feirinha do Rosário”

“Uma feira precisa de diversidade, até porque, ela é o reflexo da nossa diversidade”


Entrevistas

André Eustáquio0

fotoClaudio Ruas é colunista de gastronomia do JL (Foto arquivo pessoal)

Qual a importância de uma feira para incentivo ao pequeno produtor, para a qualidade dos alimentos levados à mesa e para a economia local? Uma feira talvez seja a forma de mercancia mais antiga da humanidade. E que perdura no mundo inteiro até hoje, pois é um jeito simples, direto e óbvio de se vender e adquirir um produto. Além disso, é uma forma mais justa, pois normalmente dispensa a figura do atravessador, fazendo com que o produtor seja melhor remunerado e o consumidor pague menos. O valor do produto tende a diminuir em face do custo menor do espaço e da logística. Importante também como ferramenta de valorização e cuidado com o produto, além de permitir uma melhor interação entre o produtor e o consumidor. A economia local ganha, já que o lucro gerado na compra permanece na cidade, estimulando ainda outros pequenos produtores a continuar ou iniciar suas atividades, inclusive de forma mais apropriada e segura, diminuindo o êxodo rural e colaborando com a cultura gastronômica local. Valorizar a agricultura familiar, a pequena produção, o alimento próximo e mais saudável é uma tendência mundial.

O que fazer para que a “Feirinha do Rosário”, que hoje conta com apenas três expositores, se desenvolva? É preciso que haja iniciativa de diferentes partes da sociedade. A começar pelos órgãos locais e regionais capazes de dialogar e instruir os produtores, como Associação de Produtores, Emater, Senar, Epamig etc., ou até empresas privadas que prestam consultoria nesse sentido. Em segundo lugar, a iniciativa do próprio produtor em querer enxergar a feira como a melhor vitrine do seu produto, trabalhando para produzir com qualidade e agindo em conjunto com os demais feirantes para viabilizar a feira. Em terceiro lugar, a população, que precisa abraçar a ideia e prestigiar o produto fresco e artesanal da sua região, ao invés do que vem de fora e é vendido nos supermercados, muitas vezes, de pior qualidade. Por fim, o poder público municipal, através de medidas simples e baratas, como oferecer uma boa estrutura de operação da feira.

Mas de que forma mais específica poderia o poder público municipal agir para viabilização de uma feira ideal em Resende Costa? O local onde ela é montada é adequado? Acho que o largo do Rosário é um ótimo lugar, bem localizado, agradável, espaçoso. O que poderia melhorar em relação à estrutura seria a disponibilização de barraquinhas mais bonitas, com placas padronizadas com nome dos produtos e produtores, banheiro, bancos, mesas e cadeiras para os frequentadores e só. Importante também que seja feita uma regulamentação da feira, no sentido de definir regras de seleção e operação, para garantir, por exemplo, que os produtos comercializados ali sejam de fato artesanais e produzidos no município ou entorno (com algumas exceções, caso de peixes de água do mar, por exemplo, como já ocorre). Importante também que haja uma distribuição de produtos diferentes em cada barraca, para que não haja repetição e competição.

Além dos produtos já oferecidos, o que mais poderia constar como opção na feira? Inicialmente, confesso que acho até estranho chamar de feira um local com apenas três barracas. Muitas vezes só vejo uma, a da Márcia e do Alceu. Uma feira precisa de diversidade, até porque, ela é o reflexo da nossa diversidade. Embora as melhores opções irão surgir a partir do estudo e trabalho de identificação e negociação com os produtores interessados, vislumbro uma feira ideal, como observo em outras localidades, com itens como: frutas, verduras e legumes; queijos e derivados de leite; frango caipira, carne de lata e linguiças; temperos e conservas; doces e mel; biscoitos, quitandas e cafezinho; flores e mudas; cachaça, melado e açúcar preto; grãos e farinhas; milho verde cozido, pastel e caldo de cana; frango assado, tropeiro, churrasquinho, tira-gosto na chapa, cerveja etc. Uma dúzia de barracas já dava conta disso.

Você considera que a feira poderia também ser um local de convívio da cidade? Sim, com certeza. Como sempre ocorreu ao longo da história, a feira é um local onde a sociedade se encontra, troca ideias, faz negócios, se socializa. E também pode se confraternizar, divertir. Pode ser um lugar para ir e tomar o café da manhã dos sábados. Ou beber uma cervejinha ao final das compras. Ela também pode ser palco de outras manifestações artísticas e culturais e funcionaria muito bem para atrair o visitante para o centro da cidade, se tornando uma nova e ótima atração turística.

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