Ao contrário do que muita gente pensa, um dos primeiros moradores da região era Domingos Gonçalves de Góis, pai de João Gonçalves Lara e Góis, que recebeu sesmaria em 1754, conta Francisco Assis Rodrigues, o Chico, um estudioso do assunto. Por volta de 1810, apareceu o major Mateus Furtado de Mendonça, vindo do Rio de Janeiro, que se casou com a filha de João e se estabeleceu no “Retiro”. Vindo de Lagoa Dourada pouco mais de 100 anos depois de Domingos Góis, o coronel Francisco Rodrigues Xavier Chaves casou-se com Joana Batista de Mendonça, filha de Mateus e Angela Maria de Lara, herdando a Fazenda do Mosquito.
A política local começou no início do século 20, com o Coronel Xavier Chaves, conta Rubens Resende Chaves. “Em 1906, dirigiu as eleições e colocou o seu irmão mais moço como chefe do executivo de Tiradentes, ocasião em que ele fez as Águas Santas e transformou a fazenda do irmão e sogro (Fazenda do Mosquito) em distrito de Tiradentes. O coronel fez todas as casas do distrito em seus primeiros anos.”
A antiga localidade do Mosquito pertenceu a Tiradentes até 1911, quando se tornou distrito de Prados com o nome de São Francisco Xavier. Em 1943, passou a ser denominado distrito de Coroas, quando deveria ser chamado de “Canoas”, por erro de interpretação na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Por fim, em 30/12/1962, tornou-se município com o nome de Coronel Xavier Chaves, em meio à curta vigência do regime parlamentarista presidido por Tancredo Neves.
O comendador Cypriano Rodrigues Chaves, pai do coronel Xavier Chaves, ao ficar viúvo, casou-se com Josefa Francisca de Mendonça, outra filha do major Mateus. Deste segundo casamento, nasceu o coronel Militão Rodrigues de Mendonça Chaves, que se casou com a sobrinha Rita Rodrigues de Mendonça, dona Tóta, filha do coronel Xavier Chaves. Eles eram os pais de Cypriano Chaves, o Soaninho, que se tornaria uma das principais lideranças políticas do município.
Tobias Rodrigues Chaves, irmão do coronel Xavier Chaves, casou-se com Maria Cornélia Rodrigues Chaves. Deste casamento nasceram Randolfo Rodrigues Chaves, Francisco Cornélio Rodrigues Chaves, Eduardo Rodrigues Chaves e Maria Isabel Rodrigues Chaves. Randolfo, estabelecido na Fazenda do Rochedo, é avô de José Afonso Rodrigues, Geraldo José Rodrigues, o Lalado, e Chico Assis, entrevistados para esta reportagem. O coronel Xavier Chaves, Randolfo, Tobias e Soaninho eram parentes do Tiradentes.
Eduardo, casado com a filha do coronel Xavier Chaves, Francisca Mendonça Chaves, é pai de Tobias Rodrigues de Mendonça Chaves, que se formou em Direito em 1932 na mesma turma de Tancredo Neves. Tobias foi promotor de Justiça por mais de 20 anos em São João del-Rei, respondendo eventualmente pela promotoria de Resende Costa, Prados e até de Tiradentes. Fundou a 37ª subseção da OAB em São João, da qual foi presidente de 1937 a 56. Foi ainda subprocurador geral do Estado, procurador da Justiça e finalmente procurador geral do Estado.
Uns mais, outros menos, tiveram papel importante na consolidação da cidade como hoje conhecida, ressalta Chico. Porém, a figura do coronel Xavier Chaves destaca-se porque, além de outras tantas coisas, foi o responsável pela formação deste núcleo urbano. Em 1917, num terreno doado por sua viúva, foi construída a igreja matriz, inaugurada em 1920. Nessa época, foi construída a estrada de rodagem até a estação ferroviária de César de Pina, ligada a São João del-Rei. Também foi implantada a usina elétrica no rio Carandaí que forneceu por muito tempo energia para Prados, Tiradentes, Dores de Campos e Resende Costa, além do então distrito.
UDN e PSD
No início dos anos 1950, Soaninho era o principal chefe político da União Democrática Nacional (UDN) no distrito, lembra José Afonso. Eram seus companheiros de partido Jorge Pereira Vale, Onésimo de Souza Vale (irmão do Chiquito de Resende Costa), Sebastião Chaves, Geraldo de Souza, mais conhecido por Geraldo Avelino, João Batista de Resende, Pedro Silvério de Sousa e Jesus Cardoso de Arvellos, este último irmão de José Antonio Rodrigues, avô de José Afonso pelo lado paterno.
Já um dos chefes políticos do antigo Partido Social Democrático (PSD) local era Valentim Chaves. Até que Soaninho deixou a UDN de mala e cuia rumo ao PSD por influência do promotor de Justiça Tobias Chaves. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) também tinha raízes no distrito de Coroas sob a liderança de José Eloi de Souza, que foi getulista e posteriormente juscelinista de carteirinha. Com a saída de Soaninho, Jesus Cardoso assumiu a chefia da UDN local, liderando o grupo remanescente do partido.
Em 1950, eram candidatos ao governo de Minas Juscelino Kubitschek (PSD) e Gabriel Passos (UDN). José Afonso tinha então 10 anos de idade e estava no antigo 4º ano primário quando Gabriel Passos passou por Coroas em campanha rumo a Resende Costa. Foi recebido em frente da casa de Soaninho em clima de “já ganhou”, com fogos, banda de música e a presença dos alunos da escola primária.
Dois dias depois, seria a vez de o candidato JK passar pela cidade, mas ele antecipou inesperadamente a viagem. De maneira que atravessou Coroas por volta de 9h30, exatamente no momento do recreio das crianças que acontecia na rua. Quando a comitiva de 4 ou 5 carros pretos antigos passava, as crianças estavam no auge da algazarra, o que levou os pessedistas a concluir que os alunos vaiaram JK, enquanto tinham recebido Gabriel Passos com festa dois dias antes.
Quando JK chegou ao poder, tanto como governador de Minas quanto como presidente da República, Soaninho e José Eloi formariam um grupo político forte no distrito de Coroas.
O troco do grupo udenista local veio quando o partido chegou ao poder, com Jânio Quadros em Brasília e Magalhães Pinto no governo de Minas, após derrotarem, respectivamente, o candidato de JK, marechal Lott, e Tancredo Neves. Mas a renúncia de Jânio levou de novo o grupo tancredista ao poder em 1961, desta vez no gabinete do regime parlamentarista.
O papel do dr. Tobias
Tobias Chaves era tão considerado em São João del-Rei que os prefeitos lhe pediam sempre para falar em nome da cidade, em todas as cerimônias importantes, conta seu filho Rubens. Mas em 1954 alguns conterrâneos pediram a interferência de Tobias junto a Tancredo Neves, então ministro da Justiça de Getúlio Vargas, para criar uma fábrica de açúcar no distrito de Coroas. “Meu pai, para sua decepção, disse-lhes: fábrica de açúcar, não, pois traz muito mau cheiro. Vou pleitear a emancipação do distrito”, conta Rubens.
Foi uma decepção até que Tobias explicasse as vantagens da emancipação, diz Rubens. “Infelizmente, a Câmara de Prados não permitiu a emancipação. Nossa cidade era da UDN e por isso este partido ganhava em Prados.”
O pessoal do PSD de Prados prometeu que se ganhasse a eleição seguinte daria autorização para que o distrito pleiteasse a emancipação, relata Rubens. “Meu pai pediu ao Soaninho, na eleição seguinte, que passasse para o PSD, o que ele fez. Ganhando o PSD em São Francisco, o PSD ganhou em Prados. Assim, cumprindo a promessa, Prados permitiu que se pleiteasse a emancipação.”
Emancipação
Quando Tancredo Neves tornou-se primeiro ministro do parlamentarismo, em 1961, pediu a Tobias Chaves para fazer o projeto que ele conversaria com o então governador mineiro Magalhães Pinto, conta Rubens. “O projeto feito por meu pai foi entregue ao irmão de dona Risoleta, o deputado Osvaldo Tolentino, que o apresentou e assim aconteceu emancipação.”
As alas da UDN, ligada a Magalhães Pinto, e do PSD, do grupo tancredista, reivindicavam o papel preponderante na emancipação. Na opinião de José Afonso, a influência maior foi do grupo do PSD. Tanto que corre a versão entre os tancredistas de que, ao contar as casas para a emancipação, não havia número suficiente. Então veio a ordem para que se contasse tudo (barracões, galinheiros etc.) até atingir o número mínimo exigido.
De qualquer forma, o primeiro intendente nomeado do novo município foi José Onésimo Vale, da UDN, que ficou no cargo entre março e agosto de 1963. Mas na primeira eleição para prefeito venceu o candidato do PSD/MDB, João Batista Assumção, que governou até janeiro de 1967.
Com o golpe militar de 1964, o grupo político liderado por Soaninho e José Eloi posicionou-se contra a ditadura e desaguou no MDB. José Afonso recorda que o grupo protestava abertamente contra a ditadura militar nas ruas de Coronel Xavier Chaves. O mesmo Soaninho foi eleito prefeito pelo MDB, ficando no cargo no período de janeiro/1967 a janeiro de 1971.
O mandato-tampão de 1971/72 foi ocupado por Geraldo Avelino, da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), dando início a um rodízio no poder entre os dois partidos. Nesse meio tempo, Tobias Chaves tentou junto ao governador Aureliano Chaves, seu parente, que a estrada asfaltada passasse por Coronel Xavier Chaves, relata Rubens.
A grande virada
O movimento de redemocratização do País, a partir do final dos anos 1970, teve como líderes em Coronel Xavier Chaves nomes conhecidos, como José Eloi de Souza e João Vicente Vieira Camargos, e uma revelação na política: Lalado.
Pai vicentino por 50 anos numa época de miséria, Lalado cresceu sensibilizado com causas sociais, daí nasceu um sentimento político. Em 1969, com 19 anos de idade, foi filiado ao antigo MDB “por obra e graça de Soaninho”. Eleito vereador em 1970 “depois de muita pressão para ser candidato a prefeito”, Lalado cumpriu mandato-tampão de dois anos quando era prefeito Geraldo Avelino.
Na eleição de 1982, o MDB voltou ao poder, derrotando a ARENA do prefeito João Batista de Resende. Francisco de Assis Pinto foi eleito prefeito – abrindo um período de três mandatos consecutivos do partido que passaria a se chamar PMDB - e Lalado foi o vereador mais votado. “Tivemos um mandato muito rico, com uma Câmara Municipal muito atuante e participativa.”
Diferente do padrão usual em que o poder Executivo anula o Legislativo, a atuação desta Câmara Municipal ficou marcada na vida política de Coronel Xavier Chaves, lembra Lalado. “A maior contribuição da Câmara de 1983 foi justamente despertar o debate político consistente e o exercício pleno da democracia numa conjuntura de mudanças no cenário nacional.”
Mas sobretudo este foi um período de grandes realizações. Além do asfalto, outras conquistas da época foram o estádio de futebol, a eletrificação de quatro povoados (Cachoeira, Três Pontes, Água Limpa e Invernada) e o MG2 - programa de apoio ao pequeno produtor rural (infraestrutura como estradas e pontes). Lalado era responsável pelo programa na parte social, em dobradinha com o vereador João Vicente Camargos. “O papel de João Vicente foi fundamental na área política.”
Entre as ações desse programa, estão o sistema de abastecimento de água da Cachoeirinha, projeto de pontos críticos de estradas rurais, posto de saúde de São Caetano, entre outros, resultantes do Plano Municipal de Ação Integrada (PMAI), que foi, na ocasião, uma forma diferente de fazer política, observa Lalado. Por meio de encontros comunitários, levantavam-se as demandas do município sob a coordenação da comissão municipal do MG2.
Outra ação, em caráter voluntário, foi a de coordenar a arrecadação do imposto único sobre minerais (cassiterita e tantalita), recorda Lalado. “A iniciativa da Câmara formalizou o sistema, provocando uma arrecadação considerável nos exercícios de 1983 a 85. Ao mesmo tempo, foram distribuídas ferramentas, utilizadas máquinas e caminhões da prefeitura e outros tipos de ajuda, valorizando o trabalho dos garimpeiros.” O município chegou a cadastrar 136 garimpeiros.
João Vicente seria o candidato natural a prefeito, segundo Lalado, mas faleceu no final do mandato de vereador. Então, o PMDB lançou o vereador Délcio José de Resende que administrou o município de 1889 a 92. Neste período, a medida de maior impacto foi a criação da Associação Rural (ARCEL), que por meio de convênio com o Banco do Brasil permitiu criar o Parque de Exposições e melhorar de maneira acentuada a assistência técnica aos produtores rurais (patrulha mecanizada, compra conjunta de adubo, fornecimento de calcário etc.). Outra medida foi a implantação nas escolas municipal e estadual de gabinetes dentários (assistência odontológica), que continua até hoje.
Conquista do asfalto
Quando Tancredo foi eleito governador em 1982, antes mesmo da posse, prometeu a Tobias Chaves que faria o asfalto em seu mandato. Mas o seu substituto Hélio Garcia “quis pular fora”, lembra Rubens. “Francisco, Lalado, João Vicente e eu fomos ao Hélio Garcia, e este disse que estava sem dinheiro. Encarando-o, eu disse: ‘Se o senhor não fizer o asfalto, não estará cumprindo um compromisso de honra do dr. Tancredo’. Ele me encarou e respondeu: ‘Já que é um compromisso de honra, eu vou fazê-lo’.” Lalado destaca a interferência de Átila Godói, nas etapas da ponte e do asfalto, quando as obras já tinham sido iniciadas, com a conclusão do revestimento primário.
Foram dois encontros em Belo Horizonte, de acordo com Lalado. Do primeiro, com Tancredo Neves, participaram Tobias Chaves, o prefeito Francisco de Assis Pinto, João Vicente e o próprio Lalado. Na segunda reunião, com Hélio Garcia, estavam presentes o prefeito, João Vicente, Rubens Chaves e Lalado. “Houve intervenção do são-joanense Átila Godói junto ao secretário de Governo de Minas Gerais, José Geraldo Ribeiro, que se tornaria deputado federal. Contribuiu ainda o fato de termos no município a Semenge (empresa de terraplanagem) que veio pra cá devido às obras da Ferrovia do Aço.”
Porém o asfalto só saiu no mandato do governador Newton Cardoso, lembra José Afonso. E a rodovia ganhou o nome do vereador João Vicente Vieira Camargos (1982-88).
“Pequena Tiradentes”
Quando na década de 1970 Tiradentes se tornava um destino turístico respeitável, ocorreu a Rubens Chaves uma idéia: “Por que não poderíamos nos tornar uma pequena Tiradentes? Bastaria para isso, pensei, não destruirmos nosso casario, bastante semelhante ao de lá.”
Rubens conta que pediu uma reunião da Câmara, inclusive com a presença do prefeito, e defendeu a ideia da “pequena Tiradentes”, “desde que para isso a Câmara fizesse uma lei proibindo que se desfigurasse nossa cidade, conservando-a nas características do colonial rural aqui abundante”. Mesmo não integralmente atendido, Rubens e sua mulher Cida começaram a divulgar a cidade, por meio de folhetos e matérias em revistas, jornais e televisão.
No final dos anos 80, surgiu – a partir de artigos de Cida Chaves na Tribuna Sanjoanense - a ideia de projeto para tornar a Estrada Real semelhante ao Caminho de São Tiago de Compostela, na Espanha. O entusiasmo foi tão grande que o Governo de Minas, através da Federação das Indústrias, criou o Instituto da Estrada Real. A partir daí, Ilceu de Carvalho, John Parsons, Cida e Rubens Chaves criaram a Trilha dos Inconfidentes com o intuito de estimular o projeto da Estrada Real nos Campos das Vertentes. “Poderia ser uma entidade público-privada.”
Rubens conta que, nos anos 1993 e 94, participou, financeiramente, de dois projetos em conjunto com a Associação Comercial de São João del-Rei. Um CDROM mostrava as belezas dos Campos das Vertentes, com destaque para as coisas de Coronel Xavier Chaves. E um site sobre a cidade, em português e inglês, que mais tarde foi substituído por site da Prefeitura para o município.
O resultado foi que os visitantes começaram a chegar e novos colaboradores juntaram-se “nosso esforço”, relata Rubens, como guias turísticos e participações em exposições anuais e em feiras em outras cidades e capitais. “Hoje, não podemos rivalizar com Tiradentes, mas podemos notar que já temos vários dias que os visitantes chegam a centenas. Visitam nossa cidade, nosso artesanato e vão ao Engenho Boa Vista. Temos recebido visitantes de todos os países da América e da Europa e de alguns países da África, Ásia e até da Oceania.”
No governo Tancredo Neves, “minha mulher (assessora da primeira dama) e eu (diretor do Centro de Artesanato Mineiro) envidamos o máximo de esforços em prol do artesanato mineiro, principalmente do Vale do Jequitinhonha, de Prados, de Resende Costa e São João e, timidamente porque inexistente quase, Coronel Xavier Chaves”. Tratavam-se de promoções com a presença do governador e dona Risoleta e de reportagens em revistas, jornais e televisão. “Resende Costa tornou-se o nosso maior sucesso.”
Aliás, Rubens acha que Coronel Xavier Chaves e Resende Costa foram muito prejudicadas com a “invenção do governo” da Estrada Real passando por Tiradentes, Bichinho e Prados. “O caminho velho passava em Coronel Xavier Chaves. Tenho mapa de 1941 onde ela está delineada perfeitamente e com o nome de Estrada Real.”
A Estrada Real poderia estar trazendo mais turistas à região das Vertentes, se houvesse uma modificação radical em sua atuação, observa Rubens. “Sugeri em nossas reuniões do PMQV (Programa para melhoria da qualidade de vida) na Associação Comercial de São João del-Rei que nossa região desse ênfase a construções de estilo colonial, uma vez que isso dava Ibope por aqui. Basta ver o movimento turístico de Ouro Preto, Mariana, Sabará, Diamantina, São João e Tiradentes (o velho mundo, como brincávamos quando eu morava em Belo Horizonte).”
A proibição de construções diferentes faria com que o Campo das Vertentes tivesse uma imagem tão forte, no estilo colonial, quanto Campos do Jordão (SP) e Gramado (RS), com seu estilo europeu, único que se permite ali, conclui Rubens.
Desafios
A partir de 1997, o PSDB iniciou uma maratona no poder, com a eleição de Helder Sávio da Silva, sobrinho do antigo prefeito João Batista Assunção (MDB). Em 2005, José Guilherme Jaques assumiu o cargo de prefeito, mas Helder voltou em 2009 desta vez pela coligação PV-PSDB. O município viveu nos últimos anos um período de prosperidade e bom clima político, destaca Lalado. No primeiro mandato de Helder, ele aponta a implantação da usina de reciclagem de lixo, ótima estrutura funcional da prefeitura, grandes convênios extra-orçamentários, melhorias acentuadas no atendimento da zona rural e na gestão pública. “Na reeleição do Helder, houve um consenso na cidade pela eleição de um candidato único numa demonstração de maturidade política.”
“De repente, na última eleição, um fenômeno mexeu com cidade: o surgimento de uma corrente legítima e articulada que sacudiu o debate político e provocou um clima hostil nunca visto na história política da cidade”. Por isso, Lalado teme que este acirramento de ânimos possa comprometer uma tradição da cidade, que é a de buscar o progresso por meio da ação política.
A propósito, o candidato da oposição (PT-PMDB) na última eleição, Olimpio Tarcisio Chaves Jr., resgatou a idéia do PMAI da década de 1980, com o nome de Projeto MAIS (Movimento de Ações Integradas Sociais). Foram levantadas cerca de 1100 demandas nas residências urbanas e rurais, com destaque para as áreas de saúde e geração de emprego e renda.
Para Helder, a infraestrutura do município está bem desenvolvida, mas falta atacar alguns pontos críticos da zona rural, principalmente altos de morro. Outro investimento relevante seria a implantação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). “Temos os recursos garantidos para o plano municipal de saneamento básico (exigência até 2014 para todos os municípios), no valor de R$ 175 mil.”
O prefeito estima o custo de construção da ETE em cerca de R$ 600 mil apenas para a cidade. “O interesse é conseguir esses recursos. Já houve consenso entre Prefeitura e Câmara Municipal para a utilização de R$ 300 mil (recursos federais).” Trata-se de emenda popular que destina ao saneamento parte do orçamento da União reservado para a saúde, mediante audiência pública no município. O prefeito pretende ainda buscar recursos para construir uma rede interceptora que impeça o despejo de dejetos no Rio do Mosquito (afluente do Rio Grande).
No setor de geração de emprego e renda, Helder quer reforçar o papel do terceiro setor, estimulando ainda mais as organizações não-governamentais (ONGs), como por exemplo as do setor rural para segurar famílias no campo e do artesanato (abrolhos, bordados e tecelagem, confecção de vassouras de garrafa pet e escultura em pedra). “O projeto de vassoura pet já foi aprovado no Conselho Estadual de Direito Difuso, com o nome de ‘Lixo uma alternativa de geração de emprego e renda’, e será desenvolvido pela prefeitura em parceria com o Grupo Cultural Consciência Negra (COSNESC).”
A menina dos olhos de Helder é o Festival Internacional de Escultura “Cidade da Pedra”, cuja segunda edição aconteceu recentemente. A ideia básica deste evento é buscar a identidade do município como a cidade da escultura e cantaria em granito (“gnaisse”) e pedra sabão. Tanto que, recentemente, o prefeito e uma comissão técnica visitaram Portugal, em busca de estreitamento de laços de amizade com Caldas da Rainha, que tem vasta experiência na organização do simpósio das pedras (SIMPPETRA), com 30 eventos realizados.
Neste segundo festival, foram 150 projetos inscritos, dos quais três foram selecionados (um ucraniano e dois búlgaros) por uma comissão de jurados, seguindo metodologia do festival de escultura de Caldas da Rainha, além da participação de dois convidados (Portugal e Espanha) e de um artesão local para esculpir na rua durante o festival. O projeto deste ano foi aprovado pela Lei Rouanet de apoio à cultura, recebendo patrocínio de CEMIG, London & Scandinavian Metallurgical Brasil S.A., SEBRAE-MG e Viação Presidente.
Já a Associação dos Produtores de Leite de Coronel Xavier Chaves (APLEI), que recebe subvenção financeira da Prefeitura, reúne 52 fornecedores, a maioria com mão de obra familiar, segundo seu presidente Antonio Nunes da Silva. O diferencial da entidade é que coleta cerca de 420 mil litros de leite por mês, armazena o produto e o embarca em carretas do comprador, ou seja, “faz a parte mais difícil”.
Para Nunes, os maiores desafios da APLEI são melhorar a qualidade do leite e conseguir melhor preço pelo produto, tendo em vista a vantagem da logística de entrega. “A qualidade do nosso produto é que vai permitir que a gente consiga um preço melhor.” Outro desafio permanente é reduzir o custo, o que já é minimizado pela parceria com o executivo municipal.
O presidente da APLEI destaca o avanço dos últimos anos com a adoção da ordenha mecânica e do tanque de expansão (resfriamento) na propriedade, o associativismo e o intercâmbio com outros municípios. “Vamos trabalhar a conscientização do produtor e inserir ainda mais a EMATER (palestras técnicas, dias de campo etc.) para avançar na qualidade rumo às metas da Instrução Normativa 51 do Ministério da Agricultura”, finaliza Nunes.
Aspectos econômicos
A economia de Coronel Xavier Chaves depende basicamente do Fundo de Participação e das aposentadorias principalmente de salário mínimo.
No setor rural, além da produção de leite, destaca-se a produção de hortigranjeiros. A cachaça produzida no município desde os princípios do século 18 vem atingindo bom nível. O faturamento anual já passa de dois milhões de reais, segundo estimativa de Rubens Chaves.
O artesanato em pedra é outra atividade em crescimento, já atingindo bom volume financeiro. O artesanato fino, da Amarcha, já está bastante afamado e bastante procurado, conclui Rubens.
Coronel Xavier Chaves: emancipação tardia em momento histórico da vida nacional
Política
José Venâncio de Resende 10/01/20120

Vista de Coronel Xavier Chaves