Em entrevista, Aurélio Suenes avalia a primeira metade do seu segundo mandato

“Tomara que a frase do Bolsonaro ‘Mais Brasil e menos Brasília’ realmente aconteça. O cidadão precisa da força do município.”


André Eustáquio


Prefeito municipal de Resende Costa Aurélio Suenes de Resende

No dia 1º de janeiro de 2019, o prefeito municipal de Resende Costa, Aurélio Suenes de Resende (PSD), iniciará a segunda e última metade do seu segundo mandato. Em entrevista exclusiva ao JL, Aurélio, que é também o atual presidente da AMVER (Associação dos Municípios da Microrregião do Campo das Vertentes), avalia os dois primeiros anos, fala sobre a grave crise financeira pela qual passa o Estado de Minas Gerais e que vem afetando os municípios e revela os planos para os dois últimos anos do seu governo.

Como o senhor avalia a primeira metade do seu segundo mandato como prefeito de Resende Costa? A situação hoje é muito mais desafiadora do que no mesmo período do mandato passado. O governo do Estado de Minas Gerais vem retendo recursos que são de direito dos municípios, garantidos na Constituição, ou seja, o Fundeb, ICMS, repasses para a Saúde e para a Assistência Social. Os valores (que não foram repassados pelo estado) já ultrapassam dois milhões e duzentos mil reais somente no município de Resende Costa. Essa crise está afetando diretamente os municípios. Conversando com outros prefeitos da região que já tiveram mandatos no passado, eles disseram que nunca viram uma situação como essa. Há municípios próximos ao nosso, como Dores de Campos e Barroso, que já decretaram estado de calamidade financeira.

Apesar da crise financeira, o senhor está conseguindo alcançar os objetivos propostos para o segundo mandato? A avaliação, de modo geral, poderia ser bem mais positiva. A gente tem dado conta de cumprir com as obrigações e realizar algumas melhorias na cidade, como calçamentos, construção do novo cemitério, ampliação da escola Conjurados, reforma do velório, ampliamos a quadra da (escola infantil) Aquarela, estamos asfaltando as ruas dos bairros Nova Resende e Santo Antônio.

Então Resende Costa está conseguindo sobreviver à crise? Há uma movimentação positiva em Resende Costa, fruto de uma economia que fizemos ao longo de seis anos. Isso nos deu uma possibilidade e conseguimos fugir um pouco desse histórico negativo do estado. Eu fui acusado pelos adversários em um debate de achar que a prefeitura é banco. Agora estamos vendo a importância de se ter cautela, de andar com os pés no chão, ter gordura para queimar. A gente via que o cenário era de crise e que havia possibilidade de se agravar, como de fato aconteceu.

O senhor está otimista em relação ao novo governo eleito do estado? Não estou tranquilo em relação ao novo governo. O Zema vai tirar um coelho da cartola? Vai fazer milagres e fabricar dinheiro? Não tem como. Não vejo boas perspectivas, a não ser que ele, com muita criatividade e boa sintonia com o governo federal, renegocie a dívida do estado. O que nós esperamos do novo governo é que, pelo menos, repasse aos municípios os recursos que são de direito.

Há municípios vizinhos de Resende Costa que tiveram de cortar gastos na área da educação. Isso ocorreu também aqui? Até o presente momento, nós conseguimos remanejar recursos tanto de dentro da educação quanto recursos próprios do município, para não deixar acontecer atrasos na folha de pagamento e não prejudicar o transporte escolar. Todas as atividades de Resende Costa estão em perfeito andamento. Até o dia 31 de dezembro, pelo planejamento que fizemos, não vai atrasar nada. Agora, no virar do ano, se permanecer essa situação, não vai sobreviver ninguém, até quem tem gordurinhas como nós. Vai acontecer um colapso geral. Nós temos visto prefeituras que não tinham ideia da situação e agora não pagam a folha de pagamento. Dores de Campos, por exemplo, demitiu 50 funcionários contratados. A situação é muito mais grave do que temos passado para a população.

Está faltando comunicação entre o poder público e a população? Falta um pouco mais de aproximação do poder público com a população, para que ela possa entender melhor as nossas dificuldades. Eu não gosto de ficar fazendo muro de lamentações. Não é esse o caminho. O povo já está cheio de problemas. Mas peço à população que tenha um pouco de compreensão diante desse enfraquecimento da prefeitura, que não é a mesma do passado. Hoje eu vejo essa fragilidade dos municípios. Tomara que a frase do Bolsonaro “Mais Brasil e menos Brasília” realmente aconteça, pois as coisas acontecem aqui nos municípios. O cidadão precisa da força do município. Porém, tranquilizo a população dizendo que as coisas em Resende Costa estão em ordem. O décimo terceiro salário dos funcionários municipais está acertado, tudo dentro da normalidade. Vamos continuar o trabalho até o fim.

As obras que o senhor planejou para a primeira metade do mandato foram realizadas? Acho que algumas coisas básicas já poderiam ter acontecido. Estão na programação, há condições e recursos para isso, mas não aconteceram por questões burocráticas.

O senhor pode dar alguns exemplos? A própria avenida nova (está sendo construída para ser alternativa de acesso à cidade). A nossa programação era de que ela ficasse pronta neste ano. Temos recursos próprios e também da União, através de emenda parlamentar e do Ministério das Cidades. Parte desses recursos (50%) já está na conta. Acontece que a licitação ficou com a Tamasa (empreiteira que venceu a licitação para executar a obra), que declarou falta de condições para a execução. Nós, então, por opção, fizemos a rescisão unilateral sem penalidades. Aí tivemos de começar do zero, apresentando projeto à Caixa... A meta, então, é entregar a avenida pronta, toda pavimentada e iluminada, em 2019.

E as obras da rede de esgoto? Nós tivemos a notícia de que a Copasa conseguiu outros recursos no valor de 5 milhões para dar mais um avanço nessa obra. Já foi construída mais uma elevatória e outras redes em alguns bairros da cidade. A obra está caminhando de forma lenta. Mas em relação ao tratamento do esgoto que iniciou, já avançou bastante. Trata-se de uma obra, conforme falamos durante a campanha, que não será de um ou dois mandatos. Ela depende muito mais do estado do que do município, uma vez que a concessionária (Copasa) é do estado. Portanto, não vai ser a prefeitura que irá ditar o ritmo dela. Acho, porém, que os problemas mais graves serão resolvidos a partir dessa nova etapa da obra que está em andamento.

Um dos objetivos do senhor ao assumir o segundo mandato foi criar a Secretaria de Artesanato, Turismo e Cultura. Valeu a pena? Acho que a secretaria é estratégica. Turismo, artesanato e cultura são assuntos característicos do nosso município, então valeu a pena. Já estamos conseguindo feitos importantes, de iniciativa da secretaria, que estão para sair, como a reforma da Fazenda das Éguas (construída em 1747, tombada pelo município). O projeto está pronto e a gente vai colocar para execução em três etapas. Vejo de forma positiva a criação da secretaria, não me arrependo de tê-la criado e acho que o caminho é esse mesmo.

A criação da Mostra de Artesanato e Cultura foi uma importante iniciativa de valorização e divulgação do artesanato e da cultura de Resende Costa. Devido à crise financeira, a Mostra corre risco de ser extinta? Tudo vai depender do desenrolar do novo governo. Depende mais de como irão reagir os governos federal e estadual em relação aos municípios. Se voltar à normalidade, nós não vamos ter nenhuma interferência. Faço um esforço enorme para a Mostra continuar. Acho que valeu a pena ter criado essa festa. Vejo que nós estamos tendo uma grande evolução na presença de turistas em Resende Costa. A que se deve isso? A vários fatores, inclusive devido à gente ter investido na mídia regionalizada. A própria festa, de uma forma ou de outra, ajudou nessa divulgação.

Em se tratando de infraestrutura, o município está se preparando adequadamente para receber melhor os turistas? A gente precisa pensar na criação de um Centro de Informação ao Turista. Na minha opinião, ele deve ser construído na Avenida Alfredo Penido. Eu sei que há divergências quanto a isso; há pessoas que acham que tem que estar localizado no centro da cidade para atrair o turista ao centro. Eu penso o contrário. Acho que lá embaixo deve ter um espaço bonito, localizado no terreno onde realizamos a Mostra de Artesanato.

Mas como fica a situação do terreno? Pois é, precisamos ver como seria a relação do município com o dono do terreno, ou seja, se há possibilidade de uma negociação. Vejo que essa questão da infraestrutura é um ponto fraco, temos que melhorar, além de organizar a sinalização e o trânsito na cidade, pois não tem nada mais incômodo (para o turista) do que chegar a um lugar, querer parar o carro e não conseguir.

Nos últimos meses foram realizados alguns bailes no Parque de Exposição e eles causaram certos transtornos aos moradores da cidade. Por exemplo, a banca de revistas, localizada na Praça Dr. Costa Pinto, no centro, foi depredada na madrugada em que ocorreu o evento. Um desses bailes foi, inclusive, cancelado pela Polícia Militar. Por ser um espaço público, o senhor acha que esses bailes devem continuar sendo realizados no Parque de Exposição? Vejo hoje uma mudança considerável de comportamento da mocidade, dessa juventude que está aí. A gente teve momentos em Resende Costa em que havia casas de eventos e não acontecia nada disso que estamos vendo. O comportamento era diferente. Hoje vemos uma rebeldia maior dos jovens que estão jogando por terra a possibilidade de ter festas. Sempre teve algum problema, qualquer festa tem: roubo de carro, brigas, confusão no trânsito, etc. E isso incomoda outras pessoas que não estão envolvidas nas festas. Eu não sei como lidar com essa situação. Em Resende Costa, hoje, de acordo com laudo do Corpo de Bombeiros, o único local que tem condições para fazer festa é o Parque de Exposição. Aí sempre tem essa questão: É melhor parar com isso? Como vai ficar a juventude? Os jovens irão para as cidades vizinhas? E o risco disso? É uma situação difícil de a gente interferir. Se fecharmos o Parque do Campo, esse pessoal vai para outras cidades.

No início de setembro foi realizado um baile flashback no Parque de Exposição, com mais de 500 pessoas, e não houve nenhum incidente dentro e fora do local. Não seria o caso de observar qual tipo de evento está sendo realizado lá? Acho que nesse ponto a gente pode interferir. Por se tratar de um espaço público, pode-se determinar o seguinte: não pode ter música que faça apologia a drogas, à violência, etc. Então, nesse sentido, a gente pode começar a policiar mais. Se mudarmos a lei, proibindo qualquer evento lá, um evento bonito como isso a que você se referiu também não poderá acontecer. O que nós podemos fazer é policiar o tipo de evento. Quando for abrir o edital, deixar claro que não pode ser evento que tenha esse tipo de perfil que está prejudicando a vizinhança.

Dentro de uma perspectiva otimista em relação à situação econômica do estado, o que o senhor planeja para os próximos dois anos de mandato? A gente quer continuar avançando muito nos calçamentos. A parceria com o presídio na fabricação de bloquetes tem sido muito importante para o município poder avançar na construção de calçamentos. Não posso dizer que vamos zerar a quantidade de ruas sem calçamento, mas vamos chegar perto. Devemos avançar também na pavimentação nas comunidades rurais; cada comunidade rural vai ter um trecho de calçamento. Continuaremos também asfaltando ruas, pois existe uma grande demanda. Devemos implantar mais academias da saúde, provenientes de emenda parlamentar. A meta é implantar 11 academias no centro urbano da cidade. Além disso, melhorar algumas praças, inclusive o Mirante das Lajes está na previsão. Se não acontecer, é porque houve problemas no repasse de recursos. A construção da nova avenida é prioridade absoluta. Só não concluiremos se ocorrer algum problema extraordinário que fuja do nosso controle.

Resende Costa foi contemplada pelo programa Mais Médicos, do governo federal. O município recebeu médicos cubanos que prestaram atendimentos na saúde básica. O que senhor pensa sobre a saída de Cuba do programa? É preocupante realmente. Nós temos hoje no Brasil um quadro deficitário de médicos, então eu não sei como o Ministério da Saúde vai lidar com isso. Nós, por exemplo, abrimos um edital para o PSF-3 (Programa de Saúde da Família) e tivemos dificuldades para contratação temporária. Esse tem sido um tema muito preocupante para a administração. No contexto geral, o pensamento do presidente eleito Jair Bolsonaro não é errado, mas gera consequências ruins para nós. Alimentar uma ditadura (em Cuba) que tira 70% dos recursos que deveriam ir integralmente para o profissional é abusivo. Eu vejo por esse lado.

O que o senhor espera do governo Bolsonaro? Estou com boas expectativas. Ele renovou as esperanças. É uma nova e diferente linha de governo na qual estou apostando. Faço, porém, uma ressalva: acho que ele não está dialogando com o Congresso como deveria. Eu faria diferente. Ah, eu quero só pessoas técnicas no governo. Tem como ser assim, mas com a participação dos partidos. Não se pode deixar a política de lado. Eu vou conceder o Ministério dos Transportes para o PR, pois sempre foi dele. Então eu diria às lideranças do PR: Apresentem-me cinco ou dez nomes de técnicos e eu vou escolher. O partido continuará participando e eu terei trânsito no Congresso. Parece-me que ele está colocando os partidos para escanteio e, assim que a pautas de interesse do governo chegarem ao Congresso – principalmente as chamadas pautas-bomba –, vão parar, não irão para frente. Não se trata do péssimo toma lá dá cá, mas de construção de uma boa relação do governo com o Congresso. Vejo que o Bolsonaro está muito bem intencionado.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário