Em tempos de pandemia cresce o número de pessoas que procuram o ciclismo como alternativa para sair do sedentarismo

Nas lojas especializadas já há dificuldade em encontrar bicicletas novas, peças e acessórios. E o preço não está nada convidativo


André Eustáquio


O ciclista e mecânico Webert Resende, da CSA Bikes (foto André Eustáquio)

Elas estão por todos os lados: no asfalto e nas trilhas, nas estradas de terra e nas ruas, nos parques e ciclovias. Antes utilizadas como meio de transporte barato e alternativo, nos últimos tempos as bicicletas se tornaram uma febre mundial, conquistando pessoas de diferentes idades. Há quem opte pela adrenalina do mountain bike e há aqueles que preferem o giro rápido das speed.

Desde março último, quando a pandemia do novo coronavírus obrigou as pessoas a praticarem o distanciamento social e, consequentemente, deixarem de fazer algumas atividades cotidianas, como ir a academias, clubes e bares, muita gente optou por realizar exercícios físicos ao ar livre, ainda que individualmente, também como forma de canalizar as energias aprisionadas num corpo em quarentena. O ciclismo tem sido o esporte preferido por quem quer aproveitar o período tenso da pandemia para deixar pra trás o sedentarismo e começar um novo estilo de vida, mais saudável e prazeroso.

 

Paixão pela bike

Nunca é fácil começar um novo esporte. Na maioria das vezes, o corpo não dá aquela resposta rápida que desejamos, doem as pernas, falta fôlego e a boca seca rápido. Nesta fase, é comum que muitos iniciantes desistam e aposentem a bike num cantinho da garagem. A perseverança e a força de vontade são, contudo, fatores fundamentais para quem deseja ingressar no ciclismo. O resultado pode ser uma paixão que só tende a aumentar a cada pedal – um vício saudável que consome tanto atletas profissionais quanto amadores, que também querem ver seus limites superados.

O resende-costense Webert Romulo Resende é ciclista e se dedica ao ramo de bicicletas há aproximadamente quatro anos, como mecânico, na CSA Bikes, e também no mercado de vendas. Ele conta que nos últimos meses vem percebendo um interesse maior das pessoas pelo ciclismo. “O ciclismo em Resende Costa só veio a crescer de uns anos pra cá. Porém, com a vinda dessa pandemia, cresceu ainda mais. Isso não está acontecendo somente em Resende Costa, mas no mundo todo, pois, além de ser uma forma saudável de fazer exercício físico, o ciclismo proporciona outros benefícios, como transporte rápido, fácil e com custo baixo”. Com as academias fechadas por longo tempo, fazer atividade física ao ar livre foi uma opção fácil e agradável encontrada por muitas pessoas. “Sem poder contar com as academias e não podendo fazer aglomerações, a bike foi uma das melhores opções para uma boa atividade física. Além de fazer muito bem para a saúde, tanto física como psicologicamente, a bike te leva a lugares incríveis, a contemplar paisagens e cachoeiras e a ter contato com a natureza”, completa Webert.

 

O boom do mercado

Porém, a grande demanda pela “magrela de duas rodas” tem seu preço – que não está sendo nada barato no momento atual. De acordo com empresários do setor, o aumento na procura por bicicletas e acessórios inflacionou o preço, que na maioria das vezes segue a cotação do dólar. “Os preços aumentaram devido à procura e também por causa da alta do dólar. As peças são cotadas pelo preço do dólar. Pra você ter uma ideia, bicicletas mais caras tiveram um aumento de mais de mil reais”, diz o empresário resende-costense Daniel Geraldo de Oliveira, proprietário da loja Racing Moto e Bike, há três anos no mercado de bicicletas. “Logo que estourou a pandemia, o pessoal ficou parado. O mercado parou e ninguém queria comprar nada. Mas, um mês depois, aumentou bem a procura e o mercado movimentou bastante. Com certeza, esse aumento na procura por bicicletas teve um pico muito grande durante o período da pandemia. Porém, a procura pelo ciclismo já vinha aumentando antes. A procura por moto vem diminuindo, ou seja, as pessoas estão fazendo essa troca da moto pela bicicleta”, diz Daniel. Ele conta que tem fornecedores da sua loja em Resende Costa que estão se comprometendo a enviar novas remessas de bicicletas somente em 2021. “Realmente tem muita gente querendo comprar e não estamos encontrando”.

Com experiência em realizar manutenções em diversos modelos e marcas de bicicleta e também em atuar no setor de vendas, Webert fala sobre a grande procura pelas bikes, o que fez com que o mercado aquecesse, impactando positivamente outros setores associados, como as oficinas de manutenção. “Nesses últimos meses, as vendas aumentaram mais do que o esperado. Muitas pessoas começaram a procurar uma atividade física que possa proporcionar lazer e qualidade de vida. Posso dizer que o nosso serviço aumentou ainda mais, uma vez que muitas pessoas que já tinham bicicletas paradas em casa, em alguns casos até durante anos paradas no quintal, começaram a procurar uma oficina para arrumar sua bike a fim de pedalar”.

 

Qualidade de vida

A combinação saudável do prazer de pedalar com os inúmeros benefícios à saúde certamente tem conquistado a preferência das pessoas pelo ciclismo. “Vejo a bicicleta também como uma terapia. A bike te possibilita conhecer lugares diferentes, ter contato com a natureza e, além disso, você está fazendo uma atividade física. Hoje as pessoas estão mais conscientes em relação aos cuidados com a saúde. E o ciclismo une essas duas coisas: conhecer lugares diferentes e praticar uma atividade física”, destaca Daniel Oliveira.

Webert Resende ressalta que o ciclismo pode ser praticado por qualquer pessoa, independentemente se já é atleta iniciado ou esportista principiante. Ele, porém, orienta que é necessário sempre estar atento para a manutenção contínua da bicicleta. “Como venho trabalhando há alguns anos e cada dia me especializo um pouco mais em bicicletas, posso falar muitas coisas a respeito de peças e também sobre a questão das pessoas que estão iniciando no ciclismo. Todos podem praticar o ciclismo, em qualquer modalidade, seja urbana ou em trilhas e asfalto. Mas deixo uma dica de segurança: é necessário sempre dar manutenção na bike porque a segurança do ciclista passa por uma bike toda revisada. Além disso, é parte fundamental da segurança do ciclista o uso dos equipamentos de segurança, como capacete, luvas, óculos, entre outros acessórios”.

Para Daniel Oliveira, a escolha adequada da primeira bicicleta pode fazer toda a diferença para o ciclista que deseja iniciar-se no esporte mais badalado no momento. “Quando uma pessoa quer iniciar, costuma dizer: ‘Ah, eu quero uma bicicletinha simples porque vou iniciar, para eu saber se vou gostar’. Geralmente, pensando assim, a pessoa tende a comprar uma bicicleta ruim. Depois ela tenta melhorar e acaba perdendo dinheiro. A gente tenta aconselhar a que a pessoa pegue uma bicicleta mais básica, com configurações um pouco melhores para evitar que ela tenha que trocar a bike logo de cara. Atualmente, há muitas marcas boas no mercado, como a Sense, a Oggi e a Caloi”, recomenda Daniel.

Quem já aderiu – e se apaixonou – pelo ciclismo, como é o caso deste repórter, pode testemunhar o quanto o esporte é prazeroso. Acordar cedo nos finais de semana e enfrentar o frio cortante no rosto não é nenhum sacrifício quando o prazer de pedalar supera as intempéries. Chegar em casa com a roupa encharcada pela chuva e as sapatilhas pesadas de tanto barro acumulado gera um prazer ainda maior. Afinal, um pedal “cabuloso” não tem como ser explicado, é uma experiência que vale a pena ser vivida.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário