EMPREENDEDORISMO: Startup inovadora da agricultura, na primeira turma de residentes no Campus SP do Google


Economia

José Venâncio de Resende, de São Paulo 0

A Scicrop – que desenvolve soluções tecnológicas de inteligência de dados para a agricultura - foi uma das 15 startups inovadoras que participaram da primeira turma do programa de residentes no Campus São Paulo, do Google, durante seis meses, até Março de 2017. A empresa foi selecionada entre 852 candidatas com base no critério de start up promissora - empresa constituída, com receita mínima e dentro de um leque de “tecnologias para o futuro”.

A Scicrop começou em 2015 atendendo clientes corporativos (instituições financeiras, seguradoras e cooperativas). Mas descobriu que havia um mercado potencial de produtores de portes pequeno e médio, que em geral cultivam hortigranjeiros (frutas, legumes e verduras). Hoje, a empresa atende mais de 1400 agricultores, a maioria do interior de São Paulo, norte do Paraná e sul do Mato Grosso do Sul. Tem até um cliente na Califórnia (EUA) que utiliza a estação meteorológica para monitorar as condições climáticas de uma videira destinada à produção de vinho de alta qualidade.

As 15 startups da primeira turma abrangiam temas como agritech (agronegócio), fintech (tecnologia para o ramo financeiro), gaming (entretenimento), inteligência artificial (IA) e impacto social. Ou seja, desde a agricultura até jogos, resume Renato Ferraz um dos sócios fundadores da Scicrop. Os outros dois fundadores são José Damico e José Kobori, e ainda tem um quarto sócio que é “investidor anjo” (que entra no início de uma empresa).

A escolha desses temas está relacionada com o foco do Google em empresas inovadoras que vendem serviços, gerando um modelo de negócios denominado SAAS (software as a service), explica Renato. “A maioria das startups da primeira turma tem como foco o cliente B to B (business to business).”

Uma delas, a startup de inteligência artificial (machine learning) Nama, lançou recentemente um “chatbot” em parceria com o governo paulista, para interagir com os cidadãos em serviços públicos do Poupa Tempo.

Experiência

A pré-seleção foi iniciada em Maio de 2016 e a Scicrop foi escolhida com base em seu histórico e no vídeo de apresentação ( https://www.youtube.com/watch?v=2QgFlxBedNc ), conta Renato. Concluído o processo de seleção – por pessoas do ecossistema de startups tanto do Google quanto convidados – as empresas mudaram para o Campus de São Paulo, no bairro do Paraíso, onde passaram a ocupar um espaço de trabalho, com acesso a palestras, monitorias, networkings e acompanhamento baseado na tecnologia de metas (OKR´s). Por outro lado, o retorno da startup residente era na forma de palestras e troca de experiências com outros empreendedores, inclusive de fora do Campus.

Nesse período de seis meses (renováveis por opção do Google), a startup recebeu especialistas em marketing, venda e tecnologia, bem como investidores convidados pelo Google. Além disso, o Google convidou empreendedores, desde pessoas que ajudam a resolver problemas das startups até pessoas que “inspiram com suas experiências”. Um exemplo de convidado foi o fundador da Waze (que foi residente no Campus de Telavive, Israel). A startup criou um aplicativo de navegação que utiliza informações do trânsito em tempo real, fornecidas pelos próprios usuários, para indicar a melhor rota. A startup cresceu e acabou por ser comprada pelo próprio Google.

Segundo relatório oficial do Campus São Paulo, 2016 foi um ano agitado para a primeira turma de residentes. O Campus recebeu milhares de visitantes desde a abertura, inclusive líderes públicos.

As 15 startups residentes no Campus captaram R$ 4,6 milhões e onze delas contrataram o total 31 empregos. A Scicrop, por exemplo, contratou dois novos funcionários que se somaram aos cinco já existentes.

O Campus São Paulo – o único que atende o Brasil e a América Latina - é um dos vários campi do Google espalhados por vários países e continentes. É um espaço onde as start ups residem durante seis meses (renováveis) para desenvolver seus projetos. “A ideia do Campus São Paulo é que seja um retorno para a sociedade.”

O Campus São Paulo é uma espécie de ambiente de “aceleração” no qual o Google ajuda a start up a desenvolver o seu projeto, mas sem o compromisso com investimento. Já os outros campi ao redor do mundo funcionam como “coworking” (espaço onde várias empresas convivem no mesmo ambiente e pagam aluguel).

Visibilidade/credibilidade

A experiência no Campus São Paulo trouxe visibilidade e credibilidade à Scicrop, conta Renato. “No dia seguinte ao anúncio das startups selecionadas, tivemos mais de 15 contatos para ver a viabilidade de investimentos.” Além disso, “muita gente com talento se candidatou para trabalhar na empresa”.

Na outra ponta, “o cliente vê a gente com outros olhos”, observa Renato ao referir-se à maior credibilidade conferida pelo processo de seleção do Google. “Você passa a jogar com uma carta a mais. Você ganha vantagem comparativa em relação ao concorrente.”

Por outro lado, a empresa passou a sofrer ataques de hackers, interessados em roubar acessos, muitos inclusive do exterior (da Rússia, por exemplo). “Mas não obtiveram sucesso devido às ações de segurança que a empresa adotou desde a sua fundação", garante Renato.

O início

A Scicrop surgiu em 2015, ao validar uma pesquisa de “machine learning”, desenvolvida por José Damico na IBM. A pesquisa, aplicada ao agronegócio, destinava-se a fazer previsão de safras para clientes do mercado financeiro.

“Basicamente, a gente conseguiu prever quebras de safras com quatro meses de antecedência, o que é importante para prever riscos em operações de commodities”, conta Renato. “Só que a gente queria melhorar o percentual de acerto.”

Para isso, a Scicrop identificou a necessidade de mais informações do manejo dos produtores, que é a informação mais off-line - não conectada em tempo real, já que a maioria dos produtores não tem internet, explica Renato. “Então, a gente começou a desenvolver soluções para coletar essas informações no campo.”

A Scicrop descobriu que havia um problema ainda maior: “o produtor não faz gestão do negócio (controle das atividades e planejamento financeiro)”, assinala Renato. Também verificou que o maior gargalo estava nos segmentos de pequeno e médio produtor. Assim, a empresa identificou que suas soluções de coleta de dados e sensoreamento poderiam atender às necessidades desse produtor.

No Brasil, 80% dos produtores tem propriedades menores do que dois hectares – no mundo, essa participação chega a 95% - lembra Renato. “Esses 84% representam 4,2 milhões de propriedades, segundo o IBGE.” Grande parte dedica-se à produção de hortigranjeiros (frutas, legumes e verduras).

Serviços

Sem perder o foco no cliente corporativo, a Scicrop começou a atuar junto aos produtores de pequeno e médio porte, cuja renda anual é negativa em 1412 dólares, de acordo com o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

“Então, a empresa começou a construir soluções acessíveis e de baixo custo para dar competitividade aos pequenos produtores que hoje perdem dinheiro”, conta Renato. “A ideia é dar competitividade a eles, em relação à queda nos preços das commodities e à redução nos custos dos grandes latifundiários.”

A empresa criou o sistema AgroAssist (www.agroassist.com.br) que faz desde a gestão da propriedade, passando por controle de atividades, até a contabilidade. “São sete pacotes que variam de gratuito ou livre (acesso a gestão, informações e contratação de seguros) até o combo ao produtor (acesso a gestão, informações, monitoramento climático, análise de imagens de satélite e contabilidade).”

O monitoramento climático (chuva, temperatura, umidade, vento e pressão), que tem maior impacto na produção de hortigranjeiros, é feito por meio de estação da própria empresa, instalada em comodato na propriedade agrícola, ou através da rede pública de estações meteorológicas. “O produtor pode fazer o monitoramento do clima em tempo real”, diz Renato.

A estação meteorológica própria (instalada na propriedade) permite obter informações adicionais, denominadas “ponto de orvalho”, para a previsão de geadas, radiação solar, índice UV (ultravioleta) e índice de calor, que impactam na fotossíntese da planta.

A Scicrop já utiliza inteligência artificial na parte relativa ao clima (previsão) e ao acesso a informações (ranqueamento das informações mais importantes para o cliente). O objetivo é chegar ao desenvolvimento da “agricultura de prescrição” (por exemplo, aplicação de insumos na lavoura através da análise de imagens de satélite), para além da agricultura de precisão, conclui Renato.

LINK DE INTERESSE:

Scicrop: www.scicrop.com

 

 

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