A inflação decorrente da crise pandêmica chegou aos custos das matérias-primas têxteis (retalhos e fios) utilizadas na fabricação de produtos artesanais em Resende Costa. “O custo da matéria-prima vem impactando absurdamente o preço do artesanato porque a gente tem de repassar o aumento, agora frequentemente, para acompanhar a inflação que a gente está vivendo”, resume Nilceleia das Dores de Sousa, da loja Repasso Artesanato.
Liliane Auxiliadora de Resende, da Tuca Artesanato, que produz tapetes de vários tipos e tamanhos e consome cerca de 25 mil quilos de retalho por mês, confirma que, durante a pandemia, o preço da matéria-prima aumentou muito. O quilo do retalho está em torno de R$ 7, bem acima dos R$ 4,70 a R$ 5 pagos antes da crise. A matéria-prima que ela compra de revendedor na própria cidade é oriunda em parte de Santa Catarina e em parte de importação.
Já o fio, usado no tear para trançar o tapete (o retalho é jogado entre essas linhas), praticamente dobrou de preço: passou de R$ 10 a R$ 13 antes da pandemia para R$ 18 a R$ 20 o quilo.
Outra queixa de Liliane é quanto à escassez de mão-de-obra. Trata-se de um trabalho manual que é remunerado por produção. “Então, muitas pessoas não querem. Algumas pessoas preferem enrolar um retalho, amarrar um tapete do que produzir a peça em si.”
A autônoma Gerciane Aparecida Procópio produz tapetes variados e jogos americanos, consumindo em média 1000 quilos de retalho por mês. A matéria-prima, trazida do sul do Brasil (cidades de empresas têxteis, como Sulfabril, Hering e Fakini), é adquirida do revendedor a R$5 o quilo. “E temos também comprado retalhos que são importados da China”; antes da pandemia, o retalho chinês custava R$6. “O retalho aumentou em média R$ 1,50/kg. Nós tivemos aumento em tudo, quando pensamos no produto final”, lamenta.
Também o quilo do fio sofreu “um aumento muito grande”, diz Gerciane, que trabalha em casa e fornece para lojas de artesanato. “Comprávamos ao preço médio de R$16/kg; hoje já encontramos em algumas lojas por R$28/kg.” O resultado é que “tivemos que aumentar o valor final dos tapetes”, conclui.
Cores
Nilceleia conta que resolveu substituir o retalho por um tipo de fio que oferece mais opções de cores e maior quantidade de uma determinada cor. “Adaptei tudo o que eu faço para fio; então, em média, eu gasto cerca de 4 mil a 5 mil quilos por mês.”
Esse fio, oriundo de São Paulo, sul do Brasil e China, é fornecido atualmente pelo revendedor local por quase R$15 o quilo, em comparação com R$ 11 a R$ 12 antes da pandemia. “Com o mercado têxtil muito aquecido, as fábricas não estão conseguindo suprir a nossa demanda e o mercado em geral”, diz ela. Daí a necessidade de importar da China para “a gente não ficar sem o fio”.
Já o custo do fio, usado na urdição para fazer as telas e trançar os tapetes, aumentou ainda mais e com maior frequência, relata Nilceleia. “Esse fio sai pra mim atualmente por volta de R$ 23 o quilo.”