Mano Alair


Homenagem Especial

Stela Vale Lara0

fotoAlair Coêlho e Stela Vale escrevem juntos Resende Costa - A flor das Vertentes (foto arquivo pessoal)

Resende Costa foi marcada pela tristeza e sentiu-se empobrecida culturalmente ao perder seu filho Dr. Alair Coêlho de Resende, no dia 26 de abril.

Com orgulho ele falava de sua cidade e, sempre que possível, aqui estava revivendo suas saudades.

Em sua adolescência, era comum vê-lo percorrendo as ruas da antiga Resende Costa, ora com um livro, ora com papéis de teatro debaixo do braço, lembra Paulo, meu marido.

Orgulhava-se de ter aprendido ofício de sapateiro com seu tio Alberico Reis, casado com Aracy, irmã de sua mãe, Abigail, muito se orgulhando, também, de ter exercido essa profissão.

Participou ativamente, na qualidade de ator e diretor, do Grupo Teatral Agenor Gomes, na era de ouro do Teatro Municipal de Resende Costa (1947-1958); do Grupo Teatral Amadores Unidos do Rio Piracicaba/MG (1955-1961) e de outros grupos.

Escreveu as obras teatrais: A Vingança do Judeu (em parceria com José Ramos de Melo – 1951) e A Felicidade está presente (1953). Também os livros: Casos e Causos do Vovô Totonho da Chapada (Provisão – 2010 – Palmas – TO); O Embuçado – Agente da Conjuração Mineira (AMIRCO – 2013 – Resende Costa – MG); Resende Costa – A Flor das Vertentes – Alair Coêlho de Resende e Stela Vale Lara – Academia de Letras de São João del-Rei (ALSJDR – 2019 – São João del-Rei).

Era membro da Academia de Letras de São João del-Rei (ALSJDR). Graduou-se em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e em Teologia pela Faculdade de Teologia de Goiás.

Em sua vasta vida profissional, foi, ainda, rodoviário, bancário, revisor de jornal, professor, agente de Estatística, agente e assistente técnico administrativo do IBGE, consultor jurídico da Revista Imposto Fiscal (SP), assistente da Associação dos Municípios da Microrregião das Vertentes (AMVER) e advogado em vários municípios.

Foi agraciado com as Comendas da Liberdade e Cidadania, em 2012, pelo Governo de Minas Gerais, e Dr. José Fagundes de Oliveira, pela OAB – 37ª Subseção/MG em 2018.

Onde nasceu? Em Resende Costa, bem em nosso coração.

Sempre ouvi falar de Dr. Alair Coêlho de Resende, pois nossas mães eram amigas. Só que fui conhecê-lo, há alguns anos, por intermédio de minha grande amiga Sônia Reis e através do Facebook, onde nos comunicávamos. Estava escrito que nasceria daí uma amizade com laços de afinidade muito fortes. Ambos tínhamos gosto pela escrita.

A quatro mãos escrevemos Resende Costa – A Flor das Vertentes – abril 2019. Durante a escrita desse livro, em que Alair escreve, ou melhor, conta casos acontecidos em Resende Costa, e eu escrevo sobre flores (era uma exigência dele ser chamado de contador de casos), paulatinamente, nossa amizade foi se consolidando. Descobrimos uma aproximação entre nossos estilos, o que muito nos agradava. Gratidão é o sentimento que trago comigo por tudo que ele me ensinou e representou para mim.

Em 2020, nos seus oitenta e nove anos, em plena lucidez, dava gosto conviver com mano Alair. Na sua inquietude de escrever, encantado com a vida, com os filhos, sobrinhos meus por afinidade, netos, queria escrever mais e mais. Terminamos a escrita de nosso segundo livro no início de 2020 para nosso verdadeiro encantamento.

Que capacidade criadora a dele! Quanta lucidez. Aos oitenta e nove anos, escrevia e criava personagens incríveis com linguagem típica delas que até eu, como escritora, por elas me apaixonei.

Dessa vez escrevemos um romance e ele me confessou por várias vezes, demonstrando estar muito feliz, ser aquela sua melhor obra. Fazia questão de dizer: “Mana, eu e você fizemos um casamento literário perfeito!” E completava: “Sem divórcio!”

Sempre muito responsável, quando viu que nosso livro já estava pronto para ir para a revisão e a diagramação, me disse que iria para Palmas com seu filho Eugênio. Mantivemos contato e falávamos sempre ao telefone. Como eu gostava de ver meu mano Alair, em Palmas, usando WhatsApp, mandando fotos com as netas para eu ver! Estava inserido no mundo da tecnologia.

Só que ele não se livrou completamente da pandemia. Foi acometido pela Covid. Seu filho Eugênio cercou-o de cuidados, equipando sua casa com aparelhos necessários ao tratamento médico do pai, evitando que ele fosse hospitalizado. Sobreviveu à Covid e, feliz, restabeleceu-se.

Sua visão ultimamente não estava bem. Queixava-se por não poder fazer o que mais amava: ler.

Os sonhos? O encanto pela vida? Esses sempre pulsaram forte em seu peito.

Recentemente, falou-me: “Mana: vamos escrever mais um livro a quatro mãos. Só mais esse. O próximo vai ser sua estreia na carreira solo.”

No dia 26 de abril de 2021, Deus o chamou.

Enorme foi nossa tristeza, mas sim.

Agradecemos a você, Mano, pelos seus noventa anos voltados para a cultura.

Resende Costa tem sua História engrandecida por esse filho seu que tão bem soube amá-la.

Quanta oportunidade Deus me deu em minha idade madura! Benditas foram as horas em que juntos produzimos nossas duas obras, pois foram oportunidades de conhecer uma pessoa ilustre, honesta, de um caráter invejável.

Sempre me lembrarei de você, mano Alair, com saudades. Seu nome e sua figura ímpar ficarão imortalizados em suas obras, seu maior legado à nossa altaneira Resende Costa, terra a quem você deu tanto orgulho, ao mesmo tempo, por ela manifestando seu grande amor.

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