Movimento Pretas Presentes

Grupo reúne 22 mulheres para combater a discriminação e o racismo


Vanuza Resende


Grupo se reuniu para fazer fotografias e chamar a atenção para a luta contra o preconceito (Foto Larissa Gomes)

Foi navegando pela internet que surgiu a ideia: reunir mulheres negras, de diferentes idades, para serem fotografadas. Esse objetivo simples e ao mesmo tempo nobre traz consigo inúmeras razões para fazer surgir o “Movimento Pretas Presentes”, formado por 22 mulheres negras de Resende Costa (MG).

Isadora de Fátima Pinto, 20 anos, artesã e uma das idealizadoras do movimento, fala do surgimento do grupo em agosto deste ano: “A gente pensou em reunir nossas conhecidas negras para chamar a atenção. Seja para mostrar o nosso cabelo, o nosso ‘cabelo duro’ que eles falam, né? Mas solto, ou do jeito que a gente quer. Aproveitamos para discutir assuntos sobre preconceitos contra mulheres e contra mulheres negras”, diz.

Lilian Sousa, 29 anos, diz que nessa fase inicial do grupo o objetivo é a ajuda mútua. “Nós falamos sobre a autoestima. Sofremos preconceito não só pela cor da pele, mas pelo nosso cabelo. Eu sei que existem vários tipos de preconceitos, mas os negros acabam sendo mais prejudicados porque a sociedade traçou um padrão de beleza. E quem não segue esse padrão, não é aceito. Agora que estão começando a aceitar o nosso cabelo sem química, por exemplo”, afirma.

Além dos encontros presenciais, as conversas diárias do grupo acontecem pelo WhatsApp. As discussões abrangem diferentes assuntos, desde os cuidados com os cabelos até a depressão. “Nossa proposta é reunir, trocar experiências e falar sobre cuidados com a pele e com o cabelo. Falamos sobre a depressão, sobre outros preconceitos, como a homofobia, por exemplo. Discutimos sobre agressão contra mulheres; a nossa proposta é falar um pouquinho de cada coisa. Mas nesse início, queremos incentivar mesmo a aceitação das mulheres negras com as suas características”, explica Lílian.

 

Pelo fim das “brincadeirinhas”

 Nas conversas, elas lembram que muitas vezes o preconceito sofrido nas escolas é encarado como “vitimismo”. Veja algumas conversas do grupo que revelam o preconceito que as mulheres negras enfrentam cotidianamente: “Estudar em uma sala que só tinha eu de negra não era legal.” “Eles me chamavam de careca, riam do meu nariz, isso me deixou com uma série de complicações que carrego até hoje, mesmo tendo aprendido a lidar com isso. Hoje eu me aceito.” “Não deixem que eles digam que é vitimismo, não deixem que coloque a culpa em você, para encobrirem o racismo deles.” “Falta empatia, muita empatia.”

Questionadas se percebem se os preconceitos diminuíram a partir dos debates sobre o assunto, a resposta é unânime: Não! “As situações que aconteciam antes se repetem. Porque, por mais que tenha aumentado o número de debates sobre o assunto, são poucos que entendem que não há diferença de raça. E que essa nossa questão não é vitimismo”, pontua a integrante do movimento, Natane Batista, 19 anos.

Ianka Emanuelle Ferreira dos Reis, 17 anos, cita (o filósofo alemão) Karl Marx para falar sobre a baixa efetividade das leis. “Marx diz que de nada valem as ideias se os homens não podem colocá-las em prática. Temos leis criadas, mas o Estado não cumpre com a obrigação de fiscalizá-las. Temos casos de racismo, considerados apenas ‘brincadeiras’. É muita omissão e muita falta de empatia”, relata a estudante, que destaca ainda a mudança de conhecimento. “Acredito que mudou no quesito conhecimento de nós mesmas. Mulheres negras sabermos que não somos diferentes, muito menos inferiores. O conhecimento implica muito o poder”, afirma a estudante.

 

Na luta por vários movimentos

 Além de promover a visibilidade e reivindicar seus direitos, o grupo busca chamar atenção para outras diferentes causas. As primeiras fotos que as mulheres “Pretas Presentes” divulgaram foram também para destacar a prevenção ao suicídio, discutida durante o mês de setembro, o “Setembro Amarelo”.

Atualmente, o grupo está organizando um novo ensaio para o mês de novembro, dedicado ao “Dia da Consciência Negra”, celebrado no próximo dia 20. 

Para conhecer mais sobre o movimento, o Instagram do grupo é @presentespretas.

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