Neutralização do carbono: o que é (?) e como conscientizar a população


Entrevistas

José Venâncio de Resende0

fotoRenato Távora, da O´green, à direita.

“Neutralização de carbono” ou “retirada” de gases de efeito estufa da atmosfera: tudo a ver com a crise climática ou o aquecimento global que enfrentamos. O maior desafio de conscientizar a população sobre a gravidade desse problema está em “demonstrar que cada um de nós influencia, consideralmente, no cenário global”, porque consumimos serviços e/ou produtos das grandes corporações, diz o engenheiro ambiental Renato Távora, diretor comercial da empresa O´green, em entrevista ao JL.

Para começar, qual é a definição mais simples, para um público geral (não-especializado), de sequestro e neutralização de carbono?

Quando falamos em sequestro, estamos nos referindo a “retirada” de gases do efeito estufa (GEE) da atmosfera, que também inclui, o Dióxido de Carbono. Só para reforçar, existem inúmeros gases que influenciam no efeito estufa, como Metano, Óxido Nitroso, entre outros. E, quando mensurarmos as emissões/remoções de uma determinada operação por meio de um inventário, contabilizamos os gases separadamente e “traduzimos” as emissões em toneladas de Dióxido de Carbono (CO2) equivalentes, por meio dos seus respectivos potenciais de aquecimento global, comparado ao CO2.

Fale um pouco do trabalho da sua empresa e de sua formação profissional.

Atuo com programas de Mudanças Climáticas desde 2012, a partir da primeira legislação do estado do Rio de Janeiro associado ao tema. Venho, desde o início deste período, ganhando muita experiência com atuações, principalmente, no segmento industrial. Atualmente, somos a única consultoria brasileira com reconhecimento global da ONU, como um recurso para atuar frente ao tema. Além disso, temos a única ferramenta de cálculo multissetorial existente em território nacional, validada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), atestando conformidade com as principais referências e metodologias globais. Atuamos em todo território nacional, já atendendo empresas como ArcelorMittal,  Rede Globo, Furnas, P&G e outras grandes multinacionais.

Como você se tornou consultor do Sicoob Credivertentes?

Fomos convidados para transformar o evento da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (OCEMG) em Carbono Neutro, que aconteceu em Belo Horizonte, em setembro de 2023. Na ocasião, conhecemos representantes de várias empresas, sendo uma delas o Sicoob Credvertentes. 

Estou sabendo que o primeiro projeto de neutralização de carbono do Sicoob Credivertentes envolveu o “Encontro de Planejamento Estratégico”, realizado, recentemente, pela cooperativa? O que você pode falar sobre isso?

Exatamente. Neutralizamos as emissões desse evento, a partir do cálculo das emissões de GEE e da aquisição de créditos de carbono dos projetos validados pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Qual é a importância desta iniciativa?

Por não ter obrigatoriedade legal aplicável as suas operações, considera-se uma iniciativa adotada como boa prática, sendo um grande marco para iniciar e/ou ampliar a implementação dos conceitos do ESG (sigla em inglês traduzida em português para Ambiental, Social e de Governança), considerando uma ação simples e rápida, mas de grande impacto.

Qual seria o cronograma proposto para a neutralização de carbono no âmbito do Sicoob Credivertentes?

Nosso programa é realizado em cinco etapas:

1º. Realizamos o inventário de emissões gases do efeito estufa, identificando todas as atividades emissoras, mensurando o impacto climático das operações da empresa no cenário global.

2º. Apresentamos alternativas para a condução dessas atividades, visando à redução do impacto climático mensurado.

3º. Neutralizamos as emissões mensuradas, a partir da aquisição de créditos de carbono validados pela ONU, os quais são gerados a partir de projetos que reduzem a presença de gases do efeito estufa na atmosfera.

4º. Auxiliamos a organização na comunicação correta do tema, identificando as oportunidades com seus stakeholders. 

5º. Esta etapa consiste em dar oportunidade aos clientes da empresa em neutralizarem suas emissões pela interação entre esses atores.

Você vê possibilidade de prefeituras municipais, como a de Resende Costa, aderirem a este processo? Por exemplo, na coleta, transporte e tratamento de resíduos sólidos?

Com toda certeza. Existem inúmeras possibilidades de se reduzirem emissões de GEE a partir do tratamento de resíduos. Esta é uma atividade que impacta de maneira considerável o cenário global. Para essa atividade, temos emissões pela geração, no transporte e no tratamento. Além disso, a Política Nacional de Resíduos Sólidos orienta para a implementação das melhores alternativas para o tratamento de resíduos, o que impacta diretamente na redução das emissões de GEE.

Como tornar este tema mais palatável à população em geral, de maneira que ela forme consciência sobre a gravidade do problema?

A grande dificuldade de conscientizar a população frente a esse tema é demonstrar que cada um de nós influencia, consideravelmente, no cenário global. As pessoas julgam e cobram das grandes corporações resultados e iniciativas, objetivando grandes mudanças, isentando-se das suas respectivas responsabilidades, esquecendo que uma indústria só funciona para atender uma população que consome seus serviços e/ou produtos.

 

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