Pensar o espaço urbano para a população que nele habita


Entrevistas

André Eustáquio0

Eduardo Henrique, arquiteto e urbanista (Foto André Eustáquio)

Quando estava prestes a concluir a faculdade de Arquitetura e Urbanismo, o resende-costense Eduardo Henrique Santos de Sousa, 34, olhou para a sua cidade natal e não teve dúvidas sobre o tema da sua monografia. O Mirante das Lajes de Cima, cartão-postal de Resende Costa, foi escolhido para ser objeto de estudo de Eduardo, que propôs um amplo e minucioso projeto de revitalização do espaço.

Eduardo Henrique é arquiteto e urbanista, especialista em construção civil. Em sua trajetória profissional, trabalhou em importantes projetos de arquitetura industrial, inventários e tombamentos. Há seis anos ele vem se dedicando exclusivamente aos projetos de arquitetura e construção civil.

Nesta entrevista ao JL, Eduardo Henrique fala sobre seu projeto de revitalização do Mirante das Lajes e aborda a relação da população e do poder público com o espaço urbano.

O que o motivou a desenvolver um projeto de revitalização das Lajes de cima? Minha admiração por Resende Costa e especificamente pela localidade que, mesmo degradada, ainda preserva muitas de suas características naturais que nos encantam.

Quais são os principais problemas presentes no Mirante das Lajes, que agridem o ambiente? Iluminação deficiente, falta de manutenção básica, mau uso e um aparente descaso.

Em Resende Costa, quando se fala em revitalização das Lajes, logo se pensa nos turistas que lá frequentam e se encantam com o local. O seu estudo tem como público-alvo os moradores da cidade, ou seja, o contrário do que vem sendo pensado pelo poder público. Por quê? Porque o espaço urbano deve ser pensado para a população que nele habita. A ideia de atrair turistas deve ser uma consequência de se ter uma cidade bem resolvida e que se preocupa em suprir as necessidades de seus moradores. É a admiração por esses fatores que deve atrair futuros hóspedes.

“Talvez nos falte um pouco mais de consciência e educação urbana

Você desenvolveu esse projeto há 12 anos, quando concluiu o curso de Arquitetura e Urbanismo. De lá para cá, houve alguma mudança em sua concepção sobre a revitalização das Lajes? Não houve mudanças quanto à concepção sobre a revitalização. Continuo pensando que as ideias ora propostas ainda são pertinentes, mesmo com algumas mudanças ocorridas na conjuntura do espaço.

O seu projeto abrange praticamente todo o centro da cidade, inclusive a rua Gonçalves Pinto, a tradicional “Avenida”. Como o projeto beneficiaria a cidade, em relação a mobilidade urbana, estética, valorização dos espaços, preservação do patrimônio histórico etc.? O projeto visa a uma reestruturação do que poderíamos chamar de “centro” do centro da cidade. Uma região que englobaria a Praça Rosa Penido, Mirante das Lajes, Igreja Matriz, Avenida Gonçalves Pinto, Teatro Municipal, Prédio da Prefeitura Municipal, igreja do Rosário, Praça do Rosário e Lajes de Baixo”. Basicamente, a ideia seria uma padronização de calçadas, padronização de mobiliário urbano, como postes, lixeiras, bicicletários, abrigos para paradas de ônibus etc., a fim de dar ao espaço, naturalmente demarcado pelas principais atividades cotidianas da população, um aspecto único e saudável.

“Quem sabe já não é hora de pensarmos em um plano diretor?

Um dos maiores problemas que atinge o Mirante das Lajes é a depredação – causada muitas vezes pelos próprios moradores da cidade. Como deve ser a relação da população da cidade com o local? Um dos pontos que mais me chama atenção na sociedade resende-costense é o carinho que se tem por essa terra. Na maioria das vezes somos nós mesmos que trazemos os visitantes para nossa cidade, pois sempre enaltecemos suas características positivas. Desta forma, não seria honesto dizer que não nos importamos com o espaço em que vivemos. Talvez nos falte um pouco mais de consciência e educação urbana.

A revitalização do Mirante das Lajes é promessa constante nos planos de governo de quase todos os candidatos a prefeito de Resende Costa. Mas até agora essa promessa não se realizou. Falta vontade política? Acho essa questão no mínimo curiosa. Desde que me interesso pelo tema percebo que de quatro em quatro anos ouvimos as mesmas promessas quanto à revitalização da localidade, porém, no decorrer dos mandatos, pouco ou quase nada é feito. É difícil julgar quando não se tem conhecimento sobre o funcionamento da administração pública. Portanto, particularmente, eu ficaria jubiloso em saber o que impede a realização desse antigo sonho dos resende-costenses.

Qual a importância da revitalização deste espaço para a população de Resende Costa? Acréscimo de opções de lazer para a população e um aspecto mais saudável para o espaço urbano. Desde que a revitalização ocorra visando ao bem-estar da população local.

Como o espaço público de Resende Costa está sendo explorado? De modo geral, eu avaliaria de forma positiva. Nossas praças estão apresentáveis, grande parte de nossas ruas são pavimentadas, possuem iluminação e manutenção. Quando se trata de espaço urbano, muitas vezes o ideal se torna utópico, pois, de maneira geral, a relação sociedade e espaço urbano se dá de forma rápida e efêmera. Ou seja, as adaptações dos espaços ao cotidiano da população rapidamente se tornam obsoletas.

Em sua opinião, a relação da população resende-costense (inclua-se também o poder público) com o espaço público e o patrimônio histórico tem sido razoável? Há preocupação em preservar o patrimônio visando às gerações futuras? Sim, tem sido razoável. Quanto ao espaço público, reforço o que foi dito anteriormente: para a população, de modo geral, falta um pouco mais de consciência e educação urbana. Para o poder público, faltam ações mais diretas e objetivas que visem à solução ao invés de apenas camuflagens dos problemas. Quanto ao patrimônio histórico, devemos levar em consideração que o tema é recente para nossa sociedade. Portanto, acredito que antes de qualquer imposição, deva ocorrer um trabalho de conscientização e esclarecimento acerca dos diversos pontos que tangem tais questões e elaboração de uma boa estratégia para se colocar em prática os princípios voltados à preservação da história local. Quem sabe já não é hora de pensarmos em um plano diretor?

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