Português como Língua de Herança: Encontro em Dubai destaca avanços e o apoio de membros do Itamaraty


Educação

José Venâncio de Resende0

Dubai reforça iniciativas de POLH (fotos: Maria José Maciel).

A necessidade de apoio institucional do Ministério das Relações Exteriores do Brasil – suas embaixadas e consulados –, para o fortalecimento da rede de iniciativas no ensino do Português como Língua de Herança (POLH), foi destacada por Andréa Koury Menescal, da Casa do Brasil e Mala de Herança de Munique, na abertura do encontro “Teoria do Fazer II – Perspectivas e Experiência do POLH no Mundo”, que aconteceu entre 18 e 21 de Outubro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Isto é particularmente importante no momento que o Brasil inicia o processo de transição entre governos, com perspectiva inclusive de grandes mudanças no âmbito do Itamaraty, a partir de Janeiro de 2019.

Andréa Menescal destacou “o apoio pessoal e expressivo”, na Europa e no Oriente Médio, que as iniciativas de ensino de POLH já vem recebendo por parte de ministros, embaixadores e representantes de consulados. Em carta de maio deste ano à subsecretaria geral das Comunidades Brasileiras e de Assuntos Consulares e Jurídicos, Maria Dulce Silva Barros, foi relatado o apoio de diplomatas a eventos em cidades como Roma, Milão, Munique, Tirol, Atenas, Dubai e Liubliana. Ali, o próprio Embaixador do Brasil na Eslovênia está co-organizando o II Simpósio Internacional de Multilinguismo e fará a palestra de abertura. “Este apoio institucional é - e sempre será - fundamental para as iniciativas de Português como Língua de Herança e para as comunidades brasileiras no exterior.”

Um dos avanços no ensino de POLH é o impacto do encontro “Teoria do Fazer I”, de outubro de 2016 em Florença, tanto sobre as iniciativas da comunidade brasileira na Itália quanto na Europa em geral. Um dos resultados foi a realização, em maio de 2017, do I Encontro nacional de iniciativas e educadores de Português como Língua de Herança da Itália, em Florença, que contou com a participação ativa do embaixador Afonso Carbonar. Tanto que foi lançado a ele o desafio de se realizar “o primeiro encontro regional de iniciativas de Português como Língua de Herança do Oriente Médio”.

Nesses dois anos que se seguiram ao encontro de Florença, as iniciativas na Itália cresceram em número e se fortaleceram. Foi criada uma Rede POLH Itália que se constitui de 14 iniciativas atuantes, além de duas criadas nos últimos 30 dias. O trabalho realizado nos últimos dois anos mais do que credencia Florença a sediar o IV Simpósio Europeu de Ensino de Português como Língua de Herança (SEPOLH), previsto para o segundo semestre de 2019.

Dubai

É nesse contexto que aconteceu o encontro Teoria do Fazer II, com a participação de 22 pessoas, representando os Emirados Árabes, Alemanhã, Suíça, Espanha, Brasil, Líbano, Palestina, Cingapura, Holanda, Bélgica, Noruega e Inglaterra. A promoção do intercâmbio da iniciativa em Dubai com outras iniciativas na região - Palestina e Líbano “e outros países que virão” – e dessas com as iniciativas atuantes na Europa, tem o objetivo de fortalecer este trabalho “e de contribuir para o despertar e a criação de outras pelo mundo, uma rede que se espalhe por todos os cantos”, resumiu Andréa.

O encontro “Teoria do Fazer II – Português como Língua de Herança (POLH/PLH) no Oriente Médio, no Sudeste Asiático e na Europa - experiências e perspectivas” foi criado pelo Elo Europeu de Educadores de Português como Língua de Herança, que está completando cinco anos. O evento tem o intuito de proporcionar espaços de interação e construção de conhecimento, além de sensibilizar e favorecer o fortalecimento da comunidade local com respeito ao ensino do POLH.

Por esta razão, é um evento itinerante que busca atender às demandas de um contexto específico. Este ano, foi realizado na Academia Internacional de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. “A Teoria do Fazer defende a construção de novos conhecimentos, a partir da interrelação entre os estudos científicos na área e a prática pedagógica dos educadores de POLH/PLH”, dizem os coordenadores do Elo Europeu. “Por outro lado, também inclui as famílias como elemento essencial na transmissão da língua de herança e busca conhecer suas estratégias linguísticas para esta transmissão.”

O primeiro dia de atividades (18 de outubro) foi dedicado à abertura oficial do evento, com a presença do embaixador do Brasil nos Emirados Árabes Unidos, Fernando Luís Lemos Igreja. Em seguida, houve a intervenção de Magaly Quadros, coordenadora da “Hora do Conto de Dubai”; Andréa Menescal e Maria José Maciel, cofundadoras do Elo Europeu; e Celina Mar, presidente do Conselho de Cidadãos de Dubai. A abertura do evento foi antecedida por um encontro da Mala de Herança, em que dezenas de crianças e pais participaram do lançamento do livro “Pepa e Keka – Quem viu rimas por aí?”, de Wiana Aguiar.

No segundo dia (19), Andréa Menescal, criadora Mala de Herança, realizou trabalho de sensibilização sobre o papel dos pais e educadores de POLH, abordando a importância do conhecimento compartilhado e do trabalho em equipe, que se fomenta na Teoria do Fazer. A sessão contou com a participação da escritora Déborah Calácia, que coordenou a criação de pequenos contos pessoais de POLH entre os participantes. A pedagoga e educadora musical Mirella Alves, atualmente atuando em Cingapura, revelou, com sua oficina de musicalização infantil aplicada ao POLH, como realizar um verdadeiro resgaste cultural e linguístico de forma lúdica e criativa. Os participantes também tiveram a oportunidade de voltar à infância com músicas e brincadeiras das mais variadas.

No terceiro dia (20), foram apresentadas duas mesas temáticas: uma voltada à organização do ensino de POLH e outra voltada à prática. Na primeira mesa, relacionada com a organização do trabalho pedagógico, Jacqueline Senoi, com muita experiência e empatia, contou sua experiência como mãe de dois brasileirinhos que cresceram fora do Brasil (Dubai e Zurique). Ela ressaltou a importância do planejamento familiar para a transmissão da língua de herança e destacou algumas dificuldades e estratégias que podem facilitar este trabalho. Rita Dorneles, da Associação Raízes (Suíça), falou sobre a heterogeneidade nas aulas e apresentou algumas estratégias para trabalhar com alunos de idades e proficiências distintas. Por fim, a professora e pesquisadora Juliana Azevedo Gomes, da Associação de Pais de Brasileirinhos na Catalunha (Espanha), apresentou estudos mais recentes sobre as necessidades dos falantes de herança e defendeu a competência comunicativa intercultural como elemento norteador na sistematização do trabalho pedagógico.

Na segunda mesa temática, concedeu-se especial atenção à prática pedagógica. Em primeiro lugar, Miriam Müller, da Associação Brasileira de Educação e Cultura (Suíça), falou sobre a pedagogia de projetos e compartilhou diversas experiências realizadas com os alunos da organização. A seguir, Katia Fonseca, diretora do Brazilian Educational and Culture Centre (Reino Unido), apresentou diversas práticas pedagógicas que sua escola utiliza, inclusive festas e eventos que promovem a integração dos pais e a manutenção da entidade. Por fim, Cristiana Lampert, da Bem-vindo Taalcentrum (Holanda), apresentou seu projeto sobre sabores e saberes, que vincula a gastronomia com o ensino de POLH.

No último dia do evento (21), conheceu-se a experiência das iniciativas da região. Na ocasião, Natalie Nassif relatou seu trabalho no Líbano, através do Centro Cultural Brasil-Líbano em Beirute, e Ruayda Rabah relatou seu rico trabalho na Palestina.

O aniversário de organização do Elo Europeu foi comemorado de forma especial, com bolo, brigadeiro e os quatro fundadores juntos (Andréa Menescal, Admilson Pereira, Juliana Gomes e Maria José Maciel). Com cinco anos de existência, o Elo Europeu conta hoje com mais de 500 membros no Facebook e segue expandindo graças à sua união e ao seu trabalho.

Hora do Conto

A Hora do Conto (HDC) é um clube linguístico, sem fins lucrativos, criado em 2009 por Magaly Dias de Quadros. Tem como principal objetivo promover a cultura e a língua brasileiras para crianças, brasileiras ou descendentes, em Dubai. Atualmente, conta com 80 famílias inscritas e com uma média de 45 a50 crianças participando semanalmente.

“A Hora do Conto em Dubai trabalha para socializar crianças pelo uso da Língua Portuguesa e pela promoção da cultura brasileira; auxiliar as famílias a entenderem os benefícios da manutenção da língua materna e oferecer ferramentas que auxiliem seu uso no cotidiano; promover o entendimento do multiculturalismo; oferecer às crianças a oportunidade de conhecer suas raízes familiares e perceber essas influências na própria identidade.”

Os encontros semanais da Hora do Conto acontecem todas as quintas-feiras, entre 16:15h e 18:30h, na Gems World Academy (Al Barsha). As crianças são distribuídas em grupos de no máximo 25 alunos, divididos por faixa etária: Sala Bem-te-vi: crianças de 1 e 2 anos; Sala Sabiá: crianças de 3 e 4 anos; Sala Gralha Azul: crianças de 5 a 7 anos; e Sala Tucano: crianças de 8 a 12 anos.

O projeto, cujo conteúdo linguístico e pedagógico é coordenado por Magaly, é desenvolvido em parceria com a Organização Internacional de Língua de Herança “LanguageOne”. Além disso, tem o apoio da Embaixada Brasileira nos Emirados Arabes Unidos e conta com o trabalho voluntário de pais e educadores, que desenvolvem o planejamento anual de trabalho, adequado a grupos etários.

LINKS RELACIONADOS:

Teoria do Fazer II – Dubai: https://www.youtube.com/watch?v=Lep4eFldwB8&feature=youtu.be&fbclid=IwAR2jfw_5O1nHDX7gcVd4NQ67qmTVza4FXyrMh9kLz5uK_KWY-feF2fjgzQ8

Teoria do Fazer I – Florença, Itália: https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/lingua-de-heranca-educadores-brasileiros-lancam-carta-de-florenca-e-pedem-apoio-do-governo-no-exterior-/2034

III SEPOLH na Suíça une inovação e experiência em interculturalidade e plurilinguismo: https://www.jornaldaslajes.com.br/aconteceu/iii-sepolh-na-suica-une-inovacao-e-experiencia-em-interculturalidade-e-multilinguismo/253

 

 

 

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