Resende Costa cancela o Carnaval 2022


Vanuza Resende


Bateria do Rifugo na Rua Gonçalves Pinto durante o Carnaval 2019 (foto Jornal das Lajes)

A chegada da vacina contra a Covid-19 possibilitou aos foliões sonhar com a realização do Carnaval em 2022. Mas, o cenário epidemiológico incerto e inseguro e o surgimento da variante Ômicron fizeram diversos prefeitos cancelarem as festas de réveillon e o Carnaval 2022 em inúmeras cidades do Brasil. Em Minas Gerais, na região do Campo das Vertentes, a grande maioria das cidades, até o fechamento desta reportagem, já havia anunciado o cancelamento das duas festas em virtude das incertezas da pandemia, que, apesar de parcialmente controlada, ainda assusta as autoridades sanitárias.

Essa também foi a justificativa da Prefeitura Municipal de Resende Costa. O prefeito em exercício, Lucas Paulo, falou sobre a decisão tomada na terça-feira, 30 de novembro. “A decisão foi tomada em conjunto: Poder Público, Secretaria de Cultura e Comitê de Enfretamento da Covid-19, além de uma conversa com, por exemplo, a Polícia Militar e a Civil. Chegamos à conclusão de que neste momento o melhor a se fazer é o cancelamento do Carnaval. Eu já imaginava que haveria o cancelamento, mas preferi conversar sobre a realização da festa. Se todos os municípios da região realizassem o Carnaval, seria uma situação complicada, pois a população poderia ir para as cidades vizinhas. Isso geraria uma situação com alto risco da contaminação em outros locais, chegando, assim, a Resende Costa”.

Em nota, a Secretaria de Turismo, Artesanato e Cultura se manifestou sobre o cancelamento do Carnaval 2022. “O Carnaval é, sem dúvidas, a maior festa popular de Resende Costa. Nos últimos anos, a Semana dos Blocos, como alguns resende-costenses costumam chamar o pré-carnaval, vem atraindo foliões de diversas cidades da região, consolidando-se em referência no carnaval antecipado nas Vertentes. A realização de um grande evento como o Carnaval exige, entre tantas coisas, muito planejamento. Após um ano sem a realização do evento, devido à pandemia de Covid-19, estávamos esperançosos de que em 2022 pudéssemos enfim voltar a realizá-lo. Planejávamos inovar, criar programações inéditas e desenvolver novas ideias para o nosso carnaval, principalmentenos dias oficiais da folia. Porém, infelizmente, o momento em que vivemos ainda não nos proporciona segurança para realizarmos um evento de rua, uma vez que permanece o alerta global de pandemia”.

O médico Luiz Antônio Pinto analisou a situação do ponto de vista sanitário. “Nós ainda estamos em uma pandemia, embora ela esteja relativamente controlada, com um bom número na vacinação. A pandemia está aí, a gente tem casos salpicados, mas eles não deixaram de existir, inclusive em pessoas vacinadas. Ao promover uma festa como o Carnaval, em que ninguém irá de máscara para a avenida, as pessoas vão beber, não vão tomar os cuidados necessários de higienização e vão se aglomerar. Portanto, o risco de contaminação é muito grande. Sem contar que receberíamos pessoas de outros locais e a possibilidade de uma nova onda da variante da África. Portanto, eu acho que o risco é muito grande de haver uma aceleração dos casos e uma reativação da pandemia, que está bem controlada”. 

Sobre as vacinas, dr. Luiz lembrou que, apesar de eficazes, elas não garantem uma imunização 100%. “Todos nós sabemos, desde o início, que as vacinas não dão 100% de imunização. Haja vista que temos visto casos de pessoas com Covid-19 e esquema vacinal completo. Portanto, não dá para afirmar que, mesmo com uma cobertura vacinal relativamente boa, a gente não vá ter propagação de contágios. Mesmo pessoas vacinadas podem transmitir e carregar o vírus. O critério da cobertura vacinal serviria para você permitir uma aglomeração quando a gente tivesse um controle praticamente total da pandemia acontecendo no país todo e não só em Resende Costa”.

A pasta da Cultura, responsável pela realização do Carnaval em Resende Costa, destacou o cuidado primeiro com a saúde e a segurança da população. “Mesmo já estando a maioria da população de Resende Costa vacinada com as duas doses e o número de casos positivos na cidade apresentando queda, julgamos que ainda não é o momento para a realização de eventos com grandes aglomerações nas ruas, como acontece essencialmente nas festas de réveillon e no Carnaval. Avaliamos que tais eventos poderiam submeter a população da nossa cidade e os turistas que nos visitam a riscos desnecessários, justamente na etapa em que começamos a colher, consistentemente, resultados positivos nesta triste e árdua batalha contra o novo coronavírus. Aliás, queremos destacar: a preocupação com a saúde da população resende-costense sempre foi o objetivo primeiro da administração municipal, e nossas ações nestes tempos pandêmicos corroboram isso”.

 

Festas privadas

Alguns municípios já sinalizaram que festas particulares vão poder ser realizadas. Atualmente, em Resende Costa, festas particulares são liberadas desde que sigam os protocolos sanitários elaborados a partir do plano Minas Consciente. Lucas Paulo disse que a administração ainda vai analisar se serão permitidos eventos fechados de carnaval. “Sabemos que festas privadas são menores do que o carnaval de rua. Inclusive, é possível cobrar, por exemplo, o esquema vacinal, testes negativos para doença... Um mecanismo diferente de festas populares na rua. Logo, iremos analisar o momento, o tamanho da festa para uma possível liberação”.

Sobre as festas privadas, dr. Luiz afirma que “evidentemente também podem ser focos de contaminação. Talvez não tanto quanto o carnaval de rua, que tem um potencial muito maior de retransmissão ou transmissão da doença. Mas as festas particulares também precisam seguir uma série de cuidados, como uso de máscara, o distanciamento, a higienização. As festas particulares têm menor risco, mas não deixam de também ter um potencial de transmissão”.

 

Apoio da população

Lucas acredita que a decisão de cancelar o Carnaval foi acertada. “Nós avaliamos como prudente a decisão. Sabemos que o nosso Carnaval é um evento de rua, uma festa popular que atrai um número muito grande de pessoas. Realizar uma festa desse porte é muito complicado, já que a gente não consegue saber quem na rua está vacinado ou não. Por isso, vemos o cancelamento como uma decisão prudente, tendo sempre em vista o bem estar da população”.

O secretário municipal de Turismo, Artesanato e Cultura, André Eustáquio, espera contar com a compreensão e com o apoio da população. “Entendemos a frustração das pessoas que esperavam ansiosamente pela realização do Carnaval em 2022. Peço, gentilmente, que entendam a decisão que tomamos e nos apoiem. Antes de tomarmos a decisão de cancelar o Carnaval 2022, conversamos com autoridades sanitárias, acompanhamos atentamente a situação epidemiológica no Brasil e em nossa região, uma vez que durante o evento há um forte movimento migratório de pessoas provenientes de diversos lugares do país com o objetivo de curtir os tradicionais carnavais nas cidades mineiras. Aguardamos também o posicionamento de cidades vizinhas de Resende Costa (onde o Carnaval é representativo para o turismo e para a economia), com o intuito de obtermos consenso na decisão, a fim de beneficiar não só uma cidade, mas a região. Percebemos que, felizmente, a maioria das cidades compartilha conosco a mesma preocupação: cuidar, em primeiro lugar, da saúde e da segurança da população”.

 

Paciência e planos futuros

Para dr. Luiz, em 2023 os foliões poderão sair com segurança para festejar o Carnaval nas ruas. “Eu acredito que o Carnaval de 2023 apresentará segurança, caso tudo continue como está indo, ou seja, com o avanço da vacinação, o decréscimo dos índices de contaminação e a diminuição de óbitos. Afirmo, quase com toda certeza, que em 2023 a situação será bem mais tranquila. Assim acontece com todas as pandemias, passamos por situações mais complicadas que depois são amenizadas. A gente não decreta o fim da pandemia, a pandemia é que decreta o seu fim, aos poucos. Acredito que ainda vamos ficar, por um longo tempo, com o uso de álcool em gel, por exemplo, o qual vai perdurar. Acredito também que vamos ter esse controle da pandemia ao longo de 2022, mas não dá para falar exatamente quando. Se não houver essa complicação da variante Ômicron, ao longo do próximo ano vamos entrar no controle da situação”.  

“Apesar de ainda não podermos realizar os grandes eventos que já se consagraram tradicionais em Resende Costa, como as festas de réveillon, o Carnaval e a Mostra de Artesanato e Cultura – todos eles ligados à Secretaria de Turismo, Artesanato e Cultura –, o momento é de planejamento das ações que desejamos realizar ao longo do nosso mandato. Sabemos quais são os desafios a serem superados e quais problemas a serem enfrentados e corrigidos. Tenhamos um pouquinho mais de paciência. A campanha de imunização está avançando a passos largos, confirmando que a vacina – aliada às medidas de higiene que já conhecemos, como o uso da máscara – é a arma com a qual derrotaremos essa pandemia”, disse o secretário André Eustáquio, que também está otimista quanto ao controle da pandemia em 2022: “Os bons tempos voltarão e em breve estaremos juntos, com segurança, realizando novamente os grandes eventos de Resende Costa, dos quais estamos com muita saudade. O momento é de trabalho, planejamento e ação. Desejamos firmemente que 2022 seja o ano da retomada segura das atividades econômicas, culturais e turísticas. Desejamos que seja, especialmente, o ano da Educação, da retomada consistente das atividades presenciais nas escolas e nas universidades. Que bom ver de volta professores e alunos nas salas de aula e as escolas voltando a ser esse organismo vivo e pulsante da nossa sociedade!”

 

Aprendizado

O médico Luiz Pinto faz um alerta para as lições que devemos tirar desse longo período de crise sanitária que nos desafiou.  “Tudo isso deixa um exemplo marcado para todos nós. Temos que aprender a conviver com momentos como esse. A vida social, às vezes, nos impõe restrições que farão bem a todo mundo. Estamos sujeitos a pandemias na vida toda, portanto precisamos aprender com as consequências, ainda que sofridas. É muito importante que tenhamos políticas públicas, em todos os níveis, que ajudem cada vez mais a não passarmos por momentos como esse que passamos, com a morte de mais de 600 mil pessoas. Políticas públicas e bem pensadas que determinam como vamos enfrentar momentos monstruosos como esse”.

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