Sistema de ensino da Finlândia chega à educação básica da região das Vertentes

Cinquenta e seis profissionais de 11 municípios da região participaram da primeira edição do projeto, organizado pelo UNIPTAN em parceria com a Superintendência Regional de Ensino.


Educação

José Venâncio de Resende0

Docentes discutem processo de ensino-aprendizagem centralizado no aluno (fotos: divulgação).

O sistema de ensino da Finlândia, presente no topo do ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), está chegando à região de São João del-Rei. As práticas educacionais bem-sucedidas daquele país nórdico estão sendo introduzidas pelo Centro Universitário Presidente Tancredo Neves (UNIPTAN) num programa de capacitação para professores de educação básica da microrregião dos Campos das Vertentes.

Mas o que a Finlândia fez para que os estudantes tenham um dos mais altos desempenhos em leitura, matemática e ciências? “Para os educadores finlandeses, a resposta é curta e objetiva: menos é mais”, diz a professora Maria Tereza Gomes de Almeida Lima, pró-reitora de Ensino e Graduação do UNIPTAN.

Em junho de 2018, Maria Tereza e outros professores de 16 escolas brasileiras fizeram uma imersão de três semanas na cultura da Finlândia, por meio do Consórcio STHEM Brasil, destinado a capacitar professores para o ensino superior. O propósito era “conhecer a fundo a estrutura educacional da Finlândia”.

Diferentemente do modelo educacional brasileiro, as crianças na Finlândia começam efetivamente seus estudos aos 7 anos de idade, observa Maria Tereza. “Com períodos diários de aula relativamente curtos, pouca tarefa e férias de 13 semanas por ano, a educação maximiza o potencial individual do aluno através de uma pedagogia centrada no estudante, estimulando o trabalho em grupo, a experimentação, a aprendizagem do fazer, o jogo e a alegria de aprender. A leveza escolar e o foco em atividades pedagógicas práticas são fundamentais para promover a aprendizagem dos estudantes, mas, certamente, esses não são os únicos responsáveis pelo sucesso do modelo educacional finlandês.”

Nem tudo o que é feito na Finlândia pode ser implantado no Brasil, alerta Maria Tereza, “já que as diferenças entre os dois países são muitas e em grande escala”. Mas ela considera que “há algo significativo que pode ser feito de imediato”. Uma coisa é certa: “investir na formação pedagógica dos professores e na conscientização de que a aprendizagem deve ser planejada para que aconteça ao longo de toda a vida é prioridade para o finlandês”.

Há alguns anos, o UNIPTAN desenvolve um projeto de formação e de conscientização docente, voltado para o público interno. Um ou dois professores participam uma vez por ano, em Lorena (SP), da capacitação promovida pelo Consórcio STHEM Brasil e repassam o conhecimento obtido para o Grupo de Estudos em Metodologias Ativas da Aprendizagem (cerca de 25 professores), que por sua vez faz o mesmo para o corpo docente deste centro universitário (certa de 160 professores).

Queda do muro

A partir de 2018, romperam-se os muros acadêmicos e este projeto chegou às escolas básicas estaduais locais e regionais, relata Maria Tereza. Um programa para professores da rede estadual básica de São João del-Rei e de municípios da região foi organizado pela Pró-reitoria e o “Grupo de Estudos” do UNIPTAN, em parceria com a 34ª Superintendência Regional de Ensino de Minas Gerais, “para discutir sobre a importância de o processo ensino-aprendizagem estar em consonância com o desenvolvimento de habilidades e competências dos estudantes que sejam capazes de dialogar com o mundo volátil, complexo, ambíguo e conectado da contemporaneidade”.

A primeira edição deste programa, realizada no dia 15 de setembro de 2018, contou com a participação de 56 profissionais de escolas de 11 municípios da região das Vertentes (Conceição da Barra de Minas, Ibituruna, Ijaci, Itutinga, Lagoa Dourada, Nazareno, Prados, Tiradentes, Ritápolis, Resende Costa, São Tiago e São João del-Rei).

Durante um dia, confrontaram-se a sala de aula tradicional e a sala de aula centrada no estudante, conta Maria Tereza. “Enfatizou-se a relevância da aplicação de metodologias, com e sem o uso de tecnologia, capazes de instigar a reflexão, debate, pesquisa, trabalhos em times e práticos. Além dessa primeira proposta, no período da tarde, o encontro ofereceu oficinas para os professores fazerem atividades práticas, em formato de rotação, utilizando Socrative, GoConqr, games sem uso de tecnologia e discussão sobre duas técnicas – o debate e a sala de aula invertida. Esses professores, posteriormente, serão multiplicadores em suas cidades de origem, repassando o que foi discutido aos colegas.”

O fato de muitos professores do UNIPTAN também atuarem ou já terem atuado por muitos anos na rede básica levou as discussões para um patamar de compreensão das realidades vividas pelos participantes e de reflexão sobre o que é possível ser feito dentro desse panorama, constata Maria Tereza. “Além disso, pôde-se atestar como muitos docentes já empregavam técnicas em suas práticas escolares e se viram contemplados positivamente dentro da lógica das Metodologias Ativas da Aprendizagem.” Foi o caso da professora de língua portuguesa Mariana Del-Vecchio: “Fiquei surpresa com a gama imensa de atividades, ferramentas que caracterizam as metodologias ativas existentes e fico feliz ao perceber que algumas delas eu já utilizava em sala de aula, sem saber que se tratavam disso. Pretendo aplicar na instituição onde trabalho e levar esse conhecimento aos meus colegas”.

Na avaliação final, muitos professores propuseram novos encontros para o desenvolvimento continuado docente. Alguns professores também manifestaram o interesse em participar das reuniões do Grupo de Estudos em Metodologias Ativas do UNIPTAN e foram prontamente acolhidos, conta Maria Tereza. “Novas capacitações serão oferecidas objetivando atingir e envolver o maior número possível de docentes da região”, conclui.

 

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