SJDR: 10,94% dos sepultamentos no Cemitério Municipal “são Covid-19”


Cidades

José Venâncio de Resende0

Cemitério Municipal de São João del-Rei (Foto: José Antônio de Ávila).

Dos 448 corpos sepultados no Cemitério Municipal do Quicumbi, em São João del-Rei, em pouco mais de um ano de pandemia (de março de 2020 a 29 de abril deste ano), 10,94% (49) foram de vítimas da Covid-19. A revelação foi feita ao JL pela diretora da Funerária Municipal e do cemitério, Beth Silva, com base nos registros do livro da administração. Ou seja, cerca de 89% foram mortes por outras causas, também chamadas de “mortes naturais”.

“Às vezes a gente chega a fazer três sepultamentos de Covid-19 num único dia, exceto os outros cemitérios”, explica Beth. Além do Cemitério Municipal, há ainda em São João del-Rei o Cemitério São José, pertencente à Irmandade de São José e responsável por parte de sepultamentos “de chão” da prefeitura, e seis ou sete cemitérios particulares.

Com o agravamento da pandemia (mais casos e mais mortes), essa segunda onda está sendo marcada por regras de proteção ou de segurança mais rigorosas, em comparação com as da primeira onda, diz Beth. “Infelizmente, nessa segunda onda, os protocolos ficaram mais rígidos, e acabou sobrando para as famílias que sofrem mais com isso.”

É o caso do número de pessoas que podem participar de um funeral, exemplifica Beth. “A gente tem de restringir o número de pessoas que entram; chega a ser constrangedor porque a pessoa está ali sofrendo e ainda tem de passar por essa situação: ´Não pode entrar porque já deu o número´. Às vezes as pessoas reclamam, mas acabam por entender que não há outra solução.”  

Geralmente, o funeral de falecidos por causas naturais é restrito a familiares e “amigos bem chegados”, explica Beth. “Entram de 10 em 10; não costuma haver tumulto, a não ser que seja uma pessoa muito conhecida.” Nesse último caso, a Funerária Municipal escala um funcionário para controlar o fluxo de pessoas; as funerárias particulares também usam o mesmo critério.

Durante as duas horas de velório, sem aglomeração e com máscara, os familiares não podem consumir lanche algum, apenas água em embalagem descartável. Já as vítimas de Covid-19 vão direto do hospital para o cemitério, são sepultadas em covas ao nível do chão, envoltas no lençol em que vieram a falecer, com os orifícios do corpo fechados com bandagem e num saco plástico. A família pode acompanhar, em número máximo de 10 a 15 pessoas.   

Segundo Beth, as cerimônias fúnebres, sejam católicas ou evangélicas, são bastante restritas: constam de “encomendação do corpo”, por parte do padre; de leitura de passagem da Bíblia e louvor, por parte do pastor – “coisa simples, de 15 minutos”. No caso de vítima de Covid-19, “nós permitimos que o religioso atenda o pedido das famílias, já tão sofridas, desde que não comprometa o distanciamento, e faça uma despedida”.

 

As regras

As regras de funeral de casos confirmados ou suspeitos de Covid-19 são definidas por recomendações do Ministério da Saúde e notas técnicas da Secretaria de Saúde do Estado, explica Leidiane Rodrigues, fiscal sanitária da Prefeitura Municipal de Resende Costa. “O falecido deve ser enterrado (na nossa cidade não há crematório) no menor tempo possível, sem velório e apenas com uma despedida rápida, que acontece no próprio cemitério, somente para alguns familiares.”

No início da pandemia, o município reservou, a pedido da Secretaria de Saúde do Estado, uma área do cemitério para ser usada em 10 sepultamentos, caso acontecesse muitos óbitos em pouco tempo, acrescenta Leidiane. Além dos cinco óbitos de vítimas da Covid-19, também foram enterradas nessas sepulturas casos suspeitos (em investigação) de pessoas que morreram antes do resultado do exame. 

Nos casos de mortes naturais, pode haver velório “também no menor tempo possível, geralmente não ultrapassando 3 horas, restrito somente a familiares próximos. No máximo, 10 pessoas...”. No velório, não é permitido o uso da cozinha e o ambiente deve permanecer o mais ventilado possível, explica Leidiane. Outros cuidados são necessários, como uso de máscara e álcool-gel em vários pontos do velório.

Tanto os funcionários da funerária quanto o coveiro devem usar o EPI completo (macacão impermeável, touca, máscara N95 ou PFF2, bota de borracha e luva). É o caso da Funerária Nossa Senhora do Rosário, que segue rigorosamente esses protocolos. Ou seja, o corpo da pessoa falecida em decorrência da Covid-19 segue diretamente para o sepultamento “com a finalidade de evitar possíveis contaminações.”

Em Resende Costa, até agora, foram seis as mortes confirmadas por Covid-19.

 

Texto finalizado em 29/04/2021.

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