Transmissões on-line das missas aproximam os fiéis da Igreja durante a pandemia do novo coronavírus

O isolamento social exigiu das paróquias investirem nos meios de comunicação, especialmente nas redes sociais


André Eustáquio


fotoOs fiéis estão assistindo às celebrações da missa através das telas dos celulares (Foto Camila Silva)

Os decretos de governadores e prefeitos suspendendo o funcionamento do comércio e a realização de eventos públicos e privados que reúnem aglomerações atingiram em cheio um setor importante da sociedade e para a vida de milhares de pessoas: as celebrações religiosas. À medida que os decretos começaram a vigorar, em meados do mês de março, enquanto o novo coronavírus se espalhava pelas cidades brasileiras, missas, cultos, assembleias, reuniões e encontros religiosos foram sendo cancelados. Assim como lojas, bares, restaurantes, parques, teatros, estádios e cinemas, as igrejas também precisaram fechar suas portas respeitando as medidas de isolamento social.

O fechamento das igrejas e a suspensão das missas com participação dos fiéis, por tempo indeterminado, exigiram que os padres usassem rápido a criatividade através dos meios de comunicação, especialmente as redes sociais, para se aproximarem dos seus rebanhos e levarem a eles a mensagem do evangelho e a celebração do sacramento da eucaristia, ou seja, a missa.

Padre Plínio Almeida tomou posse como administrador paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França, em Resende Costa, no último dia 16 de março e, dois dias depois, teve de fechar a igreja seguindo determinação de um decreto municipal que restringiu, como medida de combate ao avanço do novo coronavírus, diversas atividades no município. “A pandemia desconcertou todo o trabalho pastoral previsto para a paróquia. Tive, inclusive, de suspender as atividades públicas. De repente, as visitas e todas as celebrações foram suspensas. Estamos trabalhando seguindo as orientações das autoridades competentes. Por essa razão, as reuniões e formações na paróquia foram interrompidas”, informou padre Plínio, que tem aproveitado o tempo de isolamento social para conhecer melhor a sua nova paróquia. “O tempo tem sido de cuidado, de leituras, de trabalho interno e reorganização, mas, sobretudo, de conhecimento da parte administrativa da paróquia.”

Geralmente, nos finais de semana, as missas celebradas na igreja matriz de Resende Costa, tanto no sábado quanto no domingo, contam com grande presença de fiéis. Os bancos ficam lotados e muitas pessoas não encontram lugar, tendo de assistir à missa em pé nas laterais e na entrada do templo dedicado a Nossa Senhora da Penha. O mesmo acontece durante a missa dominical das 10 horas na igreja de Nossa Senhora do Rosário. Essa realidade, porém, mudou com a pandemia do novo coronavírus. Os católicos estão impossibilitados, temporariamente, de irem à igreja, restando os meios de comunicação como a única via que os aproxima das celebrações da missa. “Após a suspensão das missas, como medida de prevenção para evitar a propagação da Covid-19, tivemos que recorrer aos meios de comunicação: rádio, site e as redes sociais”, explica o administrador paroquial de Resende Costa.

Padre Plínio elogia a audiência dos católicos resende-costenses nas redes sociais e na rádio comunitária durante as transmissões das missas dominicais na paróquia. “O movimento nas redes sociais durante as orações tem sido bastante satisfatório. É interessante observar que as transmissões atingem não somente meus paroquianos, mas também gente de longe. Ofereço dois horários de missa ao vivo pelas redes sociais e pela Rádio Inconfidentes FM, sempre às 19h, no sábado e no domingo. Tenho recebido muitos pedidos e intenções, pois, nesse período de isolamento e de impossibilidade dos fiéis de participarem da eucaristia, essa forma on-line nos aproxima.”

 

Os meios de comunicação

Nem todas as paróquias dispõem de meios de comunicação próprios como rádios, TVs e redes sociais, para realizarem transmissões ao vivo das missas. Também não é tão comum encontrar sacerdotes que se sentem à vontade para celebrar a missa diante das câmeras de TV e das telas dos celulares. Mas a pandemia não deu tempo e escolha aos padres, que tiveram de se reinventar e aderir rapidamente aos meios de comunicação. “Acho que nenhum padre se prepara para celebrar sem a presença das pessoas. E esse celebrar no espaço da igreja sem as pessoas é uma realidade nova; você não tem as pessoas ali, mas você tem muito mais pessoas conectadas por meio da tecnologia. Se não fossem os meios de comunicação e as novas tecnologias, o isolamento seria muito maior. Eles permitem que a gente se mantenha conectado e em comunicação com as pessoas e com a realidade”, analisa padre Plínio.

Para o administrador paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França, as transmissões ao vivo da missa promovem uma interação espontânea entre o sacerdote e os fiéis que estão em casa. “Vejo as transmissões como algo positivo, como forma de fortalecimento, de termos uma presença ainda maior nesse tipo de comunicação porque as pessoas também gostam de interagir. Acho que é uma forma bonita e também nos aproxima das pessoas.” Outra vantagem, segundo padre Plínio, é que os meios de comunicação estão permitindo que pessoas que antes não eram assíduas às missas na igreja passem a participar das celebrações estando em suas casas. “É diferente celebrar a missa na igreja, com os fiéis presentes, e nas redes sociais. Mas as transmissões on-line também possibilitam que outras pessoas, que antes não tinham esse hábito, também interajam.”

 

PASCOM

Dentre as muitas e diversas pastorais atuantes na Igreja, uma tem sido destaque durante a pandemia. Em algumas paróquias, ela inclusive nem existe. Trata-se da PASCOM (Pastoral da Comunicação). Em tempos de transmissões on-line das missas através das redes sociais, são os membros dessa pastoral que, juntamente com os padres, deixam o isolamento social e se dirigem às igrejas para transmitirem as missas aos fiéis. De certa forma, eles são privilegiados por estarem presentes na igreja enquanto as outras pessoas estão impossibilitadas de participar presencialmente da celebração eucarística.

Os membros da PASCOM da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França se revezam na transmissão das missas dominicais. Camila Silva faz parte do grupo de jovens Shalom e da Pastoral da Comunicação da paróquia. Ela também está atuando nas transmissões das missas na igreja matriz. “É muito gratificante para mim ter essa oportunidade de, através da participação na PASCOM, poder estar na igreja para as celebrações e transmitir aos lares dos resende-costenses a santa missa. Muitos fiéis participam conosco durante as transmissões, deixam suas intenções e rezam a partir dos seus lares”, diz Camila.

A Pastoral da Comunicação começava a se estruturar na Paróquia de Resende Costa, atualizando com fotos e reportagens o site e as páginas oficiais da paróquia nas redes sociais, bem como promovendo transmissões ao vivo das principais solenidades, como a festa da padroeira e a Semana Santa. Com a pandemia e o necessário isolamento social, a Pastoral da Comunicação vem ganhando ainda mais relevância ao apoiar o sacerdote em seu trabalho de evangelização através dos meios de comunicação. “A PASCOM talvez ainda não seja uma pastoral muito conhecida, mas é de muita importância para a paróquia, uma vez que é responsável pela comunicação entre as demais pastorais e movimentos, como também pela divulgação e transmissão das celebrações e de eventos realizados na igreja. Nesses últimos dias, sobretudo, estamos percebendo a importância da Pastoral da Comunicação, que está possibilitando aos paroquianos participarem, em suas casas, das celebrações da santa missa”, comenta Camila Silva.

A igreja matriz vazia e com as portas fechadas durante as celebrações é motivo de tristeza para Camila, que está sempre presente nas missas de domingo à noite cantando no coral do grupo de jovens Shalom: “Ver a matriz vazia me deixa triste, pois sei que as pessoas que amam a Cristo e sua Igreja estão também tristes. Afinal, elas não estão podendo ir ao alto da penha, como gostariam, para a celebração da missa e para louvar e agradecer a Deus em comunidade. No entanto, como está sendo muito falado, é momento de tornarmos nossos lares a nossa igreja e, junto de nossos familiares, através dos meios de comunicação, participarmos da santa missa fazendo a nossa comunhão espiritual.”

 

Conforto e sustento da fé

A pandemia do novo coronavírus vem mudando a vida e o comportamento das pessoas no mundo inteiro. Há cientistas, filósofos, psicólogos, sociólogos e líderes religiosos que vaticinam que a humanidade não será mais a mesma após a pandemia. “Devemos pensar que será um pouco um pós-guerra. Não haverá mais ‘o outro’, mas seremos ‘nós’. Porque só poderemos sair desta situação todos juntos”, disse o Papa Francisco em entrevista ao jornal italiano La Stampa, publicada no dia 20 de março.

As pessoas ainda estão se adaptando – inicialmente ao susto e ao medo – agora às incertezas e ao novo estilo de vida exigido de nós pelo distanciamento social. Distanciar-se das pessoas que amamos e das coisas que gostamos de fazer não é tarefa fácil. Gera angústia, tristeza, conflito e desespero. Diante disso, muitas pessoas recorrem à fé em busca de tranquilidade, resignação, conforto e esperança. “Nesse momento de distanciamento social entre as pessoas, torna-se ainda mais necessário que estejamos em sintonia com o Senhor. É oportunidade de dedicarmos mais tempo à oração, à leitura e à reflexão da palavra de Deus. É de suma importância sentir que Cristo está conosco e que Ele não nos abandona. Importante ter certeza de que tudo vai passar. A fé nos sustenta e nos ajuda a enfrentar as dificuldades da vida”, afirma Camila Silva.

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