Um impasse na educação em Resende Costa


Educação

André Eustáquio/Vanuza Resende0

fotoProfessor Bruno (em pé, à esquerda) usa a criatividade para driblar os problemas da falta de espaço físico. Fotos Vanuza Resende

Falta de espaço físico continua sendo grave problema na E. E. Assis Resende

No dia 2 de Junho último, Resende Costa completou 103 anos de emancipação política, um feito histórico que impulsionou o desenvolvimento do município que viu, a partir de 1912, o progresso subir as íngremes lajes e celebrando conquistas importantes, como a criação do Grupo Escolar Assis Resende, a implantação da Comarca, a construção do Teatro Municipal e da rodovia asfaltada, a Cemig, Copasa etc. De todas essas conquistas, a criação do Grupo Escolar Assis Resende merece destaque. Em 1919, Resende Costa ganhara um espaço privilegiado para acolher seus alunos. Iniciava-se assim um novo e importante capítulo na história da educação no município.

O decreto estadual 3.885 que criou o Grupo Escolar Assis Resende é datado de 29 de abril de 1912, portanto, publicado dois meses antes da solenidade de emancipação do município (2 de junho de 1912). Era governador do Estado de Minas Gerais Júlio Bueno Brandão, o mesmo que conferiu a Resende Costa sua autonomia administrativa.

Devido à escassez de recursos financeiros para a construção de um prédio adequado para abrigá-lo, o município recém-emancipado não pôde instalar o grupo escolar tão logo fora publicado o decreto da sua criação. Graças, no entanto, aos esforços do então administrador municipal, coronel Francisco Mendes de Resende, que inclusive investiu recursos próprios na obra, a fim de acelerá-la, no dia 21 de julho de 1919 o prédio do grupo escolar foi enfim inaugurado, estando presente nas solenidades o seu primeiro diretor, professor José Augusto de Rezende. Foram matriculados 424 alunos.

 

Décadas de conquistas e desafios

Colhendo os frutos do trabalho incansável de profissionais competentes (diretores, professores, pedagogos e servidores), o Assis Resende tornou-se referência em qualidade do ensino em Resende Costa e na região. Várias gerações de resende-costenses que se destacaram em diversos ramos do saber e da cultura brasileira foram formadas nas carteiras do nosso Assis Resende.

Mas o crescimento da cidade aos poucos começou a impor desafios ao “velho Grupo Escolar”. O principal deles é a falta de espaço físico para abrigar a comunidade escolar. Atualmente, a escola conta com aproximadamente 850 alunos matriculados, com idade entre 10 e 40 anos, portanto, o dobro do número de alunos inscritos no ano de sua fundação. As vagas oferecidas são para o Ensino Fundamental, Ensino Médio e EJA (Educação para Jovens e Adultos). O EJA é uma opção para aqueles que têm mais de 18 anos e querem voltar a estudar; o conteúdo é passado em ritmo mais acelerado e o ano letivo é concluído em seis meses. A Escola Estadual Assis Resende é a única instituição na cidade que oferece essas vagas.

Andréa Cristina Lima Moreira foi vice-diretora da escola entre 2004 e 2012, quando se tornou diretora. Andréa aponta a falta de espaço físico como um problema a ser resolvido. Segundo a diretora, uma provável solução para o problema seria a compra de um imóvel vizinho à escola, a casa que pertence à família de dona Teresinha Macedo Lara Melo, ex-professora e ex-diretora do Assis Resende. De acordo com Andréa, caso a aquisição do imóvel vizinho seja efetivada, poderiam ser feitas algumas adaptações e benfeitorias no mesmo, incluindo novas salas, quadra esportiva e auditório.

Em 2014, a direção da escola recorreu à Secretaria de Educação do Estadono intuito de conseguir verbas para a compra do imóvel e teve seu pedido aceito. No entanto, posteriormente a secretaria acabou voltando atrás e negou o recurso, sem nenhuma justificativa.  Em julho, segundo a direção da escola, será feita nova tentativa junto à atual gestão da Secretaria de Educação.

 

Interferência no aprendizado

Roseni Maria Fernandes se formou no Assis Resende na época em que a escola tinha bem menos alunos. Hoje Roseni leciona português na escola onde se formou para oito turmas nos turnos da tarde e da noite. Para ela a falta de espaço físico e a quantidade de alunos dentro da sala de aula interferem no aprendizado: “Para estudar exige-se concentração, e o barulho em excesso prejudica. Não que você tenha que ter uma escola em silêncio. Isso não existe, escola tem que ter barulho e pessoas falando, mas o excesso de barulho, por ser tudo muito perto, acredito que atrapalha”. Com dez anos de trabalho na escola, Roseni destaca a dificuldade de lidar com a falta de espaço: “A cidade cresceu, o número de pessoas que vêm para a escola cresceu muito e o espaço continua o mesmo. À tarde a gente tem que trabalhar nas salas com as portas e janelas fechadas. É muito complicado”. A professora de português fala também sobre os desafios de manter os equipamentos eletrônicos usados para atividades pedagógicas em bom estado de conservação: “Às vezes a instituição tem os equipamentos, mas eles acabam ficando parados por falta de verba para manutenção adequada”.

O excesso de barulho, que incomoda quem está na sala de aula, na maioria das vezes vem do pátio onde os alunos praticam educação física, uma vez que a escola não possui espaço adequado para as atividades. Bruno Henrique Ribeiro é professor de Educação Física há cinco anos, já trabalhou em todos os turnos e hoje leciona nos turnos da tarde e da noite no Assis Resende. Bruno precisa usar a criatividade e driblar o problema da falta de espaço físico para que seus alunos possam praticar os esportes de maneira adequada: “Não temos uma quadra oficial, não temos medidas oficiais, então todos eles (modalidades esportivas) têm que ser adaptados. Com isso fica muito difícil você colocar a regra oficial”.

Os problemas para lecionar Educação Física são inúmeros, obrigando o professor a ter de improvisar. Inclusive o material. Por exemplo, a trave acaba se transformando em um “mini-gol” para caber no único espaço oferecido no pátio. As turmas precisam ser divididas, pois não cabem todos os alunos no pátio ao mesmo tempo. Durante as atividades com bola, a mesma costuma cair na rua, gerando transtornos. “O professor precisa sair da escola para buscar a bola, e os estudantes acabam ficando, mesmo que por pouco tempo, sem um orientador”, diz Bruno. Para o professor a única solução para os problemas seria aumentar o espaço oferecido, já que é inviável a saída dos alunos da escola para praticar exercícios em outro lugar. “O prejuízo para os estudantes é inevitável”, diz.

O professor de História e ex-secretário municipal de Educação Adriano Aparecido Magalhães, que lecionou muitos anos no Assis Resende, sugere uma negociação entre Estado e Município para a busca da solução para o problema: “O Assis Resende enfrenta o grave problema da falta de espaço físico, pequeno para a quantidade de alunos atendidos, o que acaba gerando dificuldades nos momentos de aprendizagem e de lazer. Portanto, um projeto de um novo espaço para o nosso “velho Grupo Escolar” é um bom tema para as políticas públicas municipais. Entretanto, é uma escola estadual, sendo assim de responsabilidade do governo estadual. Porém, nada impede que uma administração municipal negocie com o Estado as possibilidades de resolver essa questão. E o argumento mais forte que justificaria a participação do governo municipal na construção desse projeto é este: o aluno mora no município e não na entidade “abstrata” chamada Estado”.  Ainda me lembro de que o novo Plano Municipal de Educação, conforme o Plano Nacional de Educação 2014, aprovado pela Lei Federal Nº 13005, de 25 de junho de 2014, deve contemplar medidas para solucionar a questão do Assis Resende, e o melhor espaço para produzir ideias a respeito dessa questão é a Câmara Municipal, que ainda nesse semestre receberá o projeto do nosso PME (Plano Municipal de Educação) para os próximos dez anos. Portanto, todos temos oportunidades para discutir as possíveis soluções”. 

 

Com a palavra, as alunas

As alunas do 3° ano do ensino médio Lenise Oliveira Coelho e Ana Luísa Pinto Magalhães dizem que especialmente em dias de provas, quando se exige concentração maior, a falta de espaço é um grave problema. “É difícil concentrar-se com outras turmas praticando esportes no pátio logo acima da sala de aula”. Para as estudantes, a direção faz bom trabalho e está sempre procurando melhorar. “Cabe aos alunos respeitar o patrimônio público, muitas vezes destruído por aqueles que mais precisam utilizá- los”. As salas dos terceiros anos estão com menos alunos, mesmo assim continuam apertadas, comprometendo a distribuição adequada dos estudantes.

Mesmo sem poder contar com espaço físico adequado, a direção da escola vem investindo em melhorias na infraestrutura para oferecer a seus alunos ensino de qualidade. Uma sala de informática foi inaugurada e as salas de aula receberam retroprojetores. O tradicional salão da escola teve o assoalho substituído. Segundo a direção, em breve chegarão mesas e cadeiras novas, contabilizando um investimento de 30 mil reais.

Que surja um olhar para o futuro. Os problemas atuais enfrentados pela Escola Estadual Assis Resende não podem se tornar empecilhos para uma educação de qualidade, que ao longo de décadas vem sendo o maior legado do nosso já quase centenário Assis Resende. As partes responsáveis precisam encontrar a solução, ou as soluções para os desafios que se impõem.

A construção de um país melhor, como todos nós queremos, não é feita de cimentos e tijolos. O material está na sala de aula.

 

 

Fonte: Memórias do Antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage – José Maria da Conceição Chaves (Juca Chaves), AmiRCo, 2014.

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