Viana de Castelo, norte de Portugal, aposta na indústria e na diversificação

Empreendedores, inclusive brasileiros, encontram um ambiente favorável aos investimentos.


Economia

José Venâncio de Resende0

Vista panorâmica, a partir da Basílica de Santa Luzia.

Falta de fábricas, falta de indústrias… e portanto falta de oportunidades de trabalho. É o que mais se houve de reclamações por parte dos portugueses em reportagens, principalmente de televisão, sobre cidades e regiões do interior do país. Clamor este que fica mais evidente em época de eleições.

A implantação de indústrias tem a virtude de gerar mais empregos, e de maior remuneração. Um dos principais benefícios é a elevação da renda média municipal/regional, que aumenta o consumo de bens e serviços (mais empregos) e a arrecadação de impostos (melhoria dos serviços públicos).

O JL resolveu visitar cidades, em diferentes regiões do país, para verificar o que está sendo feito (ou não) para atrair indústrias, a grande aspiração das pessoas. A primeira cidade escolhida foi Viana do Castelo, no Alto Minho (divisa com a Espanha ao norte do país), um município com 88,7 mil habitantes ou pouco menos do que a população de São João del-Rei, em Minas Gerais.

A economia de Viana do Castelo começa a colher os frutos de 10 anos de investimentos públicos em infraestrutura e da transformação de antigas zonas industriais em quatro parques empresariais. Estas medidas permitiram ao município atrair empresas das mais diferentes atividades, segundo Artur Jorge Ferreira da Silva, consultor de acolhimento empresarial da Câmara Municipal (equivalente a Prefeitura no Brasil).

O resultado dos novos projetos de investimento, em fase de concretização, é que as exportações do Concelho de Viana do Castelo cresceram 38% neste período e a oferta de empregos aumentou em cerca de 2000 postos de trabalho em 2017-2018, além do acréscimo considerável no número e na dimensão das empresas, diz Artur Jorge. Os principais produtos exportados são componentes de automóveis, equipamentos para energia renovável, metal-mecânico e ambiente e construção naval.

Viana do Castelo deve continuar a aposta na atração de indústrias, diversificando os setores, afirma Artur Jorge. Entre as apostas, ele cita os setores logístico, tecnológico e de serviços. Um exemplo é a empresa Iten que acaba de montar um centro de competências em tecnologia da informação. “E vamos continuar a aposta nesse setor, criando incubadoras.”

Aos empreendedores inclusive brasileiros, Artur Jorge assegura que Viana do Castelo “é o lugar certo para investir”, considerando sua localização, mão de obra qualificada, infraestrutura existente, custo moderado do nível de vida, qualidade de vida e beleza natural, aliados ao apoio municipal dado aos investidores.

Localização estratégica

O município de Viana do Castelo está localizado, em termos geográficos, no centro do noroeste da Península Ibérica, abarcando o norte de Portugal e a Galiza (Espanha). “Viana está a meio caminho entre as cidades do Porto e de Vigo e a frente marítima do Oceano Atlântico”, diz Artur Jorge.

O consultor da Câmara Municipal destaca a “acessibilidade excelente a nível rodoviário e ferroviário” e a modernização em andamento do porto do mar. Além disso, ele cita a oferta de profissionais qualificados, formados pelo Instituto Politécnico Viana do Castelo (IPVC).

Em relação à infraestrutura, está em andamento a eletrificação da linha ferroviária do Minho, que no máximo em dois anos vai tornar mais rápido o trajeto, diz Artur Jorge. “Essa obra vai permitir o acesso aos transportes europeus de grande velocidade, através de Vigo, Corunha e Porto.”

A única obra que fica faltando é o acesso rodoviário e ferroviário ao porto, conclui o consultor da Câmara Municipal.

Um pouco da história

A vocação empresarial de Viana do Castelo vem de longa data, com o seu porto marítimo tendo sido palco de intensas relações com as Ilhas Britânicas. “Em meados de quatrocentos, as caravelas vianenses demandavam os portos de Londres, Bristol, Tenabim e Irlanda, duas vezes por ano, carregadas de sal e trazendo roupas”, de acordo com Andreia Amorim Pereira, Sílvia Trilho e Antônio Barros Cardoso.* “Os panos das Ilhas Britânicas eram vendidos pelos mercadores de Viana, na Comarca, na Galiza e nas Ilhas da Madeira e dos Açores.”

Outras mercadorias completavam os cargas dos navios que entravam e saíam da barra de Viana, prosseguem os autores. “Do lado português: vinhos, conservas de frutas, açúcar e peixe seco. Do lado das Ilhas Britânicas: materiais de construção naval, couros, peixe salgado, linho, madeiras e pão. De outras regiões nórdicas: da Flandres eram importados couros, panos, artigos de construção naval; Da França - trigo, papel e linho; das Astúrias – ferro e breu.”

Os contatos com a Galiza era muito intensos, estimulados pela proximidade geográfica, continuam os autores. “Por isso, desde o século XV que há notícias da vinda de galegos a Viana, a bordo das suas pinaças para venderem sardinha e frutas. Desde essa altura que já possuíam armazéns na vila, onde já constituíam uma colônia razoável.”

Mudanças no comércio externo

Segundo os autores, a partir de meados dos anos quinhentos, verificaram-se mudanças no comércio externo de Viana. Assim, “Optaram pelo comércio peninsular e ultramarino em detrimento do nórdico e voltaram-se mais para a pesca do bacalhau. (…) De fato, por volta de 1753, já os navios de Viana pescavam bacalhau nos mares da Terra Nova.”

Os negócios com o açúcar brasileiro representaram papel importante na economia e na sociedade de Viana, de acordo com os autores. “Com ele, chegaram os primeiros nobres-mercadores ou nobres-banqueiros. A burguesia começa a dar sinais de maior vitalidade.”

Viana transformou-se numa “rica praça financeira” ao longo do século XVI e primeiros anos do século XVII, prosseguem. “Viana conheceu um grupo numeroso de banqueiros, que se movimentava em torno dos cais e das praças comerciais, oferecendo capital, ora em risco de mar, ora a taxas normais.”

Os primeiros sinais de crise apareceram a partir da década de trinta do século XVII. A crise aprofundou-se em decorrência do assoreamento da foz do rio Lima, da ruína da frota açucareira produzida pelo corso holandês, do abandono e devastação dos campos por obra das invasões galegas, da emigração em massa para o Brasil e da fuga do capital para Lisboa e Porto.

Os ingleses viriam a substituir o lugar deixado pelos nórdicos e mercadores-armadores do açúcar brasileiro. Os primeiros sinais de recuperação da crise surgiram na década de oitenta do século XVII, relatam os autores. “A exportação de vinho para os mercados do Norte da Europa entra a substituir o trato do açúcar brasileiro. Os estrangeiros voltam agora em número significativo a interessar-se pela praça da foz do Lima.”

Presença dos ingleses

Particularmente importante foi o papel dos ingleses, segundo os autores citados. Grande número de mercadores ingleses chegou a Viana no final do século XVII. Seguindo o mesmo rumo de holandenses e franceses, procuraram construir um império “com a sua economia-mundo” e consumar a sua “revolução industrial”.

Além dos negócios com algodão, tabaco, açúcar e pesca, os ingleses passaram a importar vinho verde em quantidades crescentes, relatam. “Graças aos tratados de 1654, 1660-61 e de 1703, que Portugal assinou com a Inglaterra, os ingleses, que se fixaram na foz do Lima a partir de meados de seiscentos, foram adquirindo a feição de colônia britânica em Viana…”.

Os ingleses fizeram em Viana verdadeiras “Casas Vinícolas” onde funcionavam o armazém, o laboratório e a tanoaria. Mantinham nos principais centros produtores uma verdadeira rede de comissários locais. O vinho verde ganhou relevância como produto de exportação pela barra de Viana.

Com a agroindústria dos vinhos, os ingleses introduziram melhorias e inovações técnicas ao nível do acondicionamento dos vinhos. A experiência inglesa trouxe benefícios também na produção vinícola. Houve crescimento das exportações entre finais do século XVII e primeira metade do século XVIII.

O porto de Viana, pela sua importância estratégica, fixou um número significativo de estrangeiros, ponderam os autores. O resultado é que muitos prosperaram e ajudaram a enriquecer a cidade. “O determinismo da proximidade geográfica faz com que Viana se imponha nos mercados exteriores. Já no contexto nacional, a Vila mantém e intensifica o trato com o Porto.”

*Viana do Lima Porta para o Mundo, Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2016.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário