III SEPOLH na Suíça une inovação e experiência em interculturalidade e plurilinguismo

José Venâncio de Resende 0

O III Simpósio Europeu sobre o Ensino de Português como Língua de Herança (SEPOLH) reuniu 86 educadores (mães e professores) das diásporas de cerca de 10 países, no período de 20 a 22 de outubro em Genebra (Suíça). Na abertura do evento, estava presente a embaixadora Susan Kleebank, cônsul geral do Brasil em Genebra.

O evento – coordenado pela ABEC (Associação Brasileira de Educação e Cultura), de Zurique, e pela Associação Raízes para a Língua e a Cultura Brasileira, de Genebra - discutiu ensino, relações interculturais, plurilinguismo, pedagogia e outros temas relacionados com o português de herança na Europa, resume Maria José Maciel, coordenadora do Português sem Fronteiras e do Elo Europeu de Educadores de Português como Língua de Herança.

Elogiada pela “organização suíça”, Miriam Müller, coordenadora pedagógica da ABEC e uma das organizadoras do III SEPOLH, destaca a inovação em termos de abordagem dos grandes temas, em relação aos eventos anteriores. Lembra que as duas associações (ABEC e Raízes) desenvolvem há anos trabalhos em parceria com as secretarias de educação e escolas de pedagogia dos cantões suíços e já estão trabalhando com a questão da interculturalidade e do plurilinguismo. Por isso, “resolvemos trazer essas discussões para o simpósio. A ideia era inovar em termos de temas e aprofundar as discussões. A escolha dos expositores nas mesas temáticas tinha o cuidado de ter professores de países de idiomas diferentes entre si, pois pensamos que poderiam vir à tona dificuldades específicas.”

Miriam destaca ainda a apresentação parcial da pesquisa sobre currículos existentes, “questões que norteiam os trabalhos dos 31 grupos que responderam, visando analisar os objetivos e conteúdos que vêm sendo efetivamente trabalhados pelas iniciativas”. Elogia a contribuição, “sem ônus”, de profissionais suíços que contribuíram com as discussões. “E abrimos para que grupos fora da Europa pudessem enviar vídeos contando sobre seus trabalhos, ampliando nossos horizontes. Foi muito produtivo, na minha opinião, pois os participantes se envolveram realmente com todas as propostas.” Ela conclui que “o nível das discussões foi muito bom, mostrando que estamos crescendo”.

Em depoimento ao Elo Europeu, Ana Souza, uma das criadoras do SEPOLH na Inglaterra em 2013, enfatizou a sua evolução. “Pela primeira vez, tivemos acadêmicos locais participando do evento, compartilhando as experiências deles com multilinguismo e multiculturalismo; a experiência de plurilinguismo, da prática do ensino também das pessoas que trabalham dentro do sistema educacional suíço, na verdade no cantão de Genebra.” Ela citou ainda a apresentação de cartazes, “que também enriqueceu muito”, e a participação, pela primeira vez, de grupos da Nova Zelândia e da Austrália, que divulgaram o seu trabalho através de vídeos.

“Sucesso fantástico”

A professora Maria Luísa Ortiz Alvarez, da Universidade de Brasília (UnB), justifica por que considera que o evento foi “um sucesso fantástico”. “Primeiro, porque a união e a integração entre as pessoas que estão fazendo este trabalho nas diferentes diásporas é evidente desde o primeiro dia.” Em segundo lugar, ela considerou a qualidade “nota mil”, tanto em relação às pessoas e os debates quanto em relação aos trabalhos apresentados.

Também falando ao Elo Europeu, Lourdes Gonçalves, coordenadora do ensino de português na Suíça, destacou o “lado maravilhoso” do evento, que foi ver a alegria de professores cujas tarefas “são como as dos caixeiros viajantes que trazem e levam as notícias de um lado para outro e carregam na sua bagagem muitas coisas maravilhosas”.

Uma destas “maravilhas” é o livro “O POLH na Europa, por Ana Souza e Camila Lira”, lançado no evento “que reúne artigos apresentados no II SEPOLH de Munique e, assim, valoriza as práticas teórico-didáticas no contexto europeu”, diz Camila Lira. Ela destaca ainda a participação do professor Akkari, da Universidade de Genebra, que falou sobre as potencialidades da Língua como recurso intercultural. “Esta palestra deu início às discussões seguintes sobre gramática no ensino de POLH e sobre o material didático de POLH, mostrando o quão intercultural o ensino de Língua de herança deve ser.”

Camila ressalta também o currículo, apresentado por Ana Souza e Miriam Müller, “com uma proposta que une a prática à teoria”, e as discussões sobre como utilizar as diversas línguas do aluno em prol do desenvolvimento linguístico do POLH. “Na minha opinião, este SEPOLH é como um divisor: enquanto os dois primeiros eventos serviram para mapear nosso trabalho na Europa, este mostrou uma perfeita sintonia entre as pesquisas apresentadas no livro como nas apresentações das colegas e do professor e a nossa prática.”

Por isso, Katia Fonseca, da Brazilian Educacional and Cultural Centre (BREACC), considera que foram “três dias maravilhosos, ricos em conteúdo, materiais, discussões e troca de ideias. Aprendi muito, voltei cheia de força para abrir novos caminhos”.

De fato, “foi um evento esclarecedor e enriquecedor”, opina Rita Dornelles, da Associação Raízes. Ela destaca que a troca de experiência entre colegas de diferentes países “foi fundamental para quem está iniciando uma escolinha, um grupo, uma reunião com crianças”. Também salientou a contribuição do evento para profissionais que estão fazendo pesquisa na área da língua portuguesa.

Tatiana Mazza-Surer, professora de português como língua de herança em Viena (Aústria), revelou ao Elo Europeu que está levando ideias para aplicar em sala de aula. “O SEPOLH sempre é uma sementinha que a gente vai colocar dentro da nossa terra, seja a Áustria, a Inglaterra ou outro país, porque realmente é o que vai alimentando. Aqui a gente vê que as pessoas têm os mesmos sucessos, as mesmas dificuldades, os mesmos fracassos, então acho que essa troca de experiências vale muito a pena.”

Ana Luiza de Souza, da Casa do Brasil de Florença, considera que foi “um período de muito aprendizado”, experiência esta que certamente vai utilizar na organização do IV SEPOLH, em 2019, na capital da região da Toscana, Itália.

LINKS RELACIONADOS:

- Livro “O POLH na Europa”: http://www.opolhnaeuropa.com/

- Português como Língua de Herança na Europa: "Quase dois anos" depois do encontro de Munique: https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/portugues-como-lingua-de-heranca-na-europa-e34quase-dois-anose34-depois-do-encontro-de-munique/2220

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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