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A fonte da informação diz de sua qualidade

15 de Agosto de 2018, por João Bosco Teixeira

Era num bar. As conversas aí têm características comuns: fala-se mais à medida que se bebe. Fala-se, igualmente, mais alto. Além disso, para não se passar por inoportuno, concorda-se com muita coisa que não se ouve bem. Responde-se a tanta pergunta que não foi feita. Declaram-se concordância e discordância com algo que depois se desmente abertamente. Falantes contumazes não são exceção. Silenciosos, quase nunca, pois o momento é de jogar conversa fora. Mas aparecem alguns calados que se divertem à custa dos falantes.   

No grupo daquela entrada de noite, eram seis os colegas. Juscelino, o silencioso. E sempre se discutia se seu silêncio era sinal de sabedoria ou de preguiça. A maioria opinava pela preguiça, pois Juscelino mesmo dizia que, ao falar, se desgastava muito. Mas foi nessa tarde que ele rompeu o silêncio e encerrou séria discussão.

Calado estava até quando a conversa voltou-se para uma novidade. Um colega da roda disse:

– Ouviram o que aconteceu com Francelino? Que papelão! Quem diria!

– Também pudera! – acrescentou outro. – Vai se meter nas coisas sem ser chamado, dá nisso; deu-se mal.

E os comentários se sucediam. Não havia, entretanto, concordância. Dois deles não acreditavam no que se dizia:

– É bobagem tudo isso que estão dizendo do Francelino; ele seria incapaz de fazer aquilo; como poderia mudar tanto, de repente?

Os que o condenavam, entretanto, insistiam na própria opinião, com palavras já assaz molhadas pela bebida; quase levavam os outros a concordar com a notícia apregoada. Foi quando Juscelino, saído de seu silêncio, sentenciou:

– Tem hora que eu não entendo vocês; falam, discutem, muitas vezes discordam sem ouvir o outro, pois falam ao mesmo tempo; até confesso que não só me divirto quanto chego a aprender muito com vocês; mas hoje, vocês estão dando uma de burro: emitem parecer sobre um possível fato ocorrido com o prezado amigo Francelino e ninguém se lembra de uma coisa fatal.

– Que coisa fatal é essa, Juscelino, tão importante numa mesa de bar?

– A coisa fatal é que eu não ouvi nenhum de vocês indagar quem foi que divulgou a notícia sobre o Francelino. Quem foi? Vocês estão sabendo quem foi?

Houve silêncio. E certo mal-estar. É que sabiam quem era o autor da denúncia. Sabiam quem era o colega que andava batendo com a língua nos dentes.  Aí Juscelino jogou pesado:

– Então, vocês sabem quem foi que contou essa história, não é? E vocês, sabendo quem foi, e quem ele é, gastam tempo em discutir tamanho absurdo? Vocês ignoram que a qualidade e o valor de uma informação depende da sua fonte? Pô! Essa história é desqualificada porque na origem dela está um mentiroso e, nesse caso, eu quase diria, um mau caráter. Vale nada.

Ninguém disse mais nada. Depois de algum tempo: “Uma saideira, por favor!”

Juscelino recolheu-se em seu silêncio, rico e severo. E Francelino, o informado, “voltou” para a roda dos amigos, honrado. O outro, o informante, “saiu”, sem honra.

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