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Trinta por cento de ...

18 de Junho de 2019, por João Bosco Teixeira

Corte ou não corte de trinta por cento da educação?

 É evidente que um educador não vai nunca concordar com isso. Mas, o educador não pode, também, se comportar como um fanático opositor do governo, ou como um seu cego seguidor. Se o educador não consegue ser livre, que outro profissional o será? Os educadores somos, por excelência, pessoas assumidamente comprometidas com a liberdade e a libertação das pessoas. Então?

Em primeiro lugar, não se trata de corte. É contingenciamento. E isso não é figura de estilo, eufemismo. É preciso lembrar que outros governos sempre fizeram isso. O penúltimo, por exemplo, contingenciou dez bilhões da educação.

Em segundo lugar, não se trata de trinta por centro. Quantos peritos já demonstraram isso, desde que a notícia foi veiculada.

Em terceiro lugar: o país está à mingua. Todos os setores da vida nacional precisam colaborar. E, embora falte dinheiro para a educação como um todo, sabe-se bem que no ensino superior é possível contingenciar. É preciso reconhecer a notável distância existente entre a capacitação profissional dos professores, que o Brasil produziu nos últimos tempos, e os resultados operacionais de tal capacitação. A desproporção é gritante. A análise custo/benefício é claramente desfavorável. É possível, por conseguinte, rever o investimento.

Como e onde, porém, fazer isso? Não é de forma linear, certamente, tratando situações diferentes da mesma maneira; e, segundo, não pode ser feito pelo governo que desconhece os dados das instituições. A colaboração que o governo espera das universidades públicas tem que passar pelas próprias universidades. Seus reitores sabem identificar ações em que contingenciar. E sabem mais que, em termos de pesquisa, não podem contingenciar nunca. Seria quase um crime. O Brasil está cem anos atrasado no setor. Mais cem anos ficaríamos, com tal contingenciamento. Estou, no entanto, convencido: as universidades podem colaborar. E seus reitores sabem disso. O ministro da Educação, este não sabe.

Uma questão à parte: se a educação no país anda à deriva; se o país precisa dos professores; se dos professores depende, em parte, a melhoria da educação; se os professores precisam ser mais bem tratados; então, os professores deveriam ser os primeiros a provar que eles são importantes, que eles merecem melhor tratamento, servidores públicos que são. Se assim é, não faz sentido manifestação em dia letivo. Nossas ações precisam comprovar nossa luta de servidores. Ninguém mais é otário para acreditar em manifestações de servidores públicos que os afastem de suas obrigações indispensáveis ao desenvolvimento. Não se pode dar margem a possíveis outras interpretações de tais paralisações.

Foi o que aconteceu com os comentários à disparidade das manifestações contra e a favor do Governo. As primeiras, realizadas em dia letivo, pelo pessoal ligado essencialmente à educação. As outras, num domingo, sem paralisação das atividades empreendedoras. As primeiras em cores vermelhas. As segundas, em verde e amarelo. Notável diferença, realmente.

Ser contra o governo não é razão para nós, educadores, fugirmos de nossos compromissos de servidores públicos.

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